Em
mensagem publicada na seção de Cartas desta edição, o
leitor Aparecido Paulo escreveu-nos o seguinte:
O
que é o livre-arbítrio? Nós o possuímos na sua plenitude
ou essa condição é apenas concedida aos Espíritos puros?
O
livre-arbítrio pode ser definido como sendo a faculdade
que tem o indivíduo de, entre duas ou mais opções,
determinar sua própria conduta, ou seja, a possibilidade
que ele tem de escolher uma delas e fazer que prevaleça
sobre as outras.
O
tema é tratado na obra de Allan Kardec em inúmeros
momentos. Em sua primeira e principal obra, O Livro
dos Espíritos, o assunto é focalizado, entre outras,
nas questões 843 a 850.
Indagou Kardec: - Tem o homem o livre-arbítrio de seus
atos?
Os
instrutores espirituais responderam: “Pois que tem a
liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o
livre-arbítrio, o homem seria máquina.” (L.E., 843)
Segundo os ensinos espíritas, nas primeiras fases da
vida quase nula é a liberdade, que se desenvolve e muda
de objeto com o desenvolvimento das faculdades. “O
livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito
adquire a consciência de si mesmo” – eis a lição
constante da questão 122 d´O Livro dos Espíritos.
Em
face dessa informação, é lícito pensar que só os
Espíritos puros é que teriam o gozo do livre-arbítrio em
sua plenitude. Em todos os demais Espíritos, ele seria
sempre relativo e proporcional ao grau evolutivo da
pessoa.
Finalizando estas explicações, achamos que é importante
lembrar as considerações feitas por Kardec no item 872
d´O Livro dos Espíritos, em que ele, procurando
esmiuçar o assunto, escreveu:
“A
questão do livre-arbítrio se pode resumir assim:
O
homem não é fatalmente levado ao mal; os atos que
pratica não foram previamente determinados; os crimes
que comete não resultam de uma sentença do destino. Ele
pode, por prova e por expiação, escolher uma existência
em que seja arrastado ao crime, quer pelo meio onde se
ache colocado, quer pelas circunstâncias que
sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir.
Assim, o livre-arbítrio existe para ele, quando no
estado de Espírito, ao fazer a escolha da existência e
das provas e, como encarnado, na faculdade de ceder ou
de resistir aos arrastamentos a que todos nos temos
voluntariamente submetido. Cabe à educação combater
essas más tendências. Fá-lo-á utilmente, quando se
basear no estudo aprofundado da natureza moral do homem.
Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza
moral, chegar-se-á a modificá-la, como se modifica a
inteligência pela instrução e o temperamento pela
higiene.
Desprendido da matéria e no estado de erraticidade, o
Espírito procede à escolha de suas futuras existências
corporais, de acordo com o grau de perfeição a que haja
chegado e é nisto, como temos dito, que consiste
sobretudo o seu livre-arbítrio. Esta liberdade, a
encarnação não a anula. Se ele cede à influência da
matéria, é que sucumbe nas provas que por si mesmo
escolheu. Para ter quem o ajude a vencê-las, concedido
lhe é invocar a assistência de Deus e dos bons
Espíritos. (337)
Sem
o livre-arbítrio, o homem não teria nem culpa por
praticar o mal, nem mérito em praticar o bem. E isto a
tal ponto está reconhecido que, no mundo, a censura ou o
elogio são feitos à intenção, isto é, à vontade. Ora,
quem diz vontade diz liberdade. Nenhuma desculpa poderá,
portanto, o homem buscar, para os seus delitos, na sua
organização física, sem abdicar da razão e da sua
condição de ser humano, para se equiparar ao bruto. Se
fora assim quanto ao mal, assim não poderia deixar de
ser relativamente ao bem. Mas, quando o homem pratica o
bem, tem grande cuidado de averbar o fato à sua conta,
como mérito, e não cogita de por ele gratificar os seus
órgãos, o que prova que, por instinto, não renuncia, mau
grado à opinião de alguns sistemáticos, ao mais belo
privilégio de sua espécie: a liberdade de pensar.” (O
Livro dos Espíritos, item 872.)
Esperamos que as informações acima satisfaçam à
expectativa do leitor e de todos que se interessem pelo
assunto.