O Espiritismo responde

por Astolfo O. de Oliveira Filho

A leitora Regina Rodrigues, em mensagem publicada nesta mesma edição na seção de Cartas, pergunta-nos se neste mundo de provas e expiações, ainda nos dias de hoje, haverá possibilidade de se encontrar o amor verdadeiro.

A resposta a semelhante pergunta requer, antes, que lembremos algumas informações que os ensinos espíritas nos oferecem acerca das ligações matrimoniais.

Reportando-se ao tema, Allan Kardec – que codificou a doutrina espírita – escreveu:

"Na união dos sexos, de par com a lei material e divina, comum a todos os seres viventes, há outra lei divina, imutável como todas as leis de Deus, exclusivamente moral – a Lei do amor. Quis Deus que os seres se unissem, não só pelos laços carnais, como pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se transmitisse aos filhos, e que fossem dois, em vez de um, a amá-los, cuidar deles e auxiliá-los no progresso". (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 22, item 3.)

Numa obra anterior, ele consignou outra informação importante que nos permite entender bem as nuanças do matrimônio: no estado errante, ou seja, quando se encontra no mundo espiritual antes de reencarnar, o Espírito "escolhe o gênero de provas que deseja sofrer; nisto consiste o seu livre arbítrio". (Cf. O Livro dos Espíritos, questões 258, 851 e 866.)

Observe-se que o Espírito escolhe "o gênero de provas", mas os detalhes são consequência da posição escolhida e frequentemente de suas próprias ações. "Somente os grandes acontecimentos, que influem no destino, estão previstos", acrescentam os instrutores espirituais na questão 259 d’O Livro dos Espíritos. É fácil entender que o matrimônio, pela importância que representa na vida das pessoas, insere-se no rol dos grandes acontecimentos citados pelos benfeitores espirituais.

Evidentemente, há, segundo a doutrina espírita, duas clássicas exceções à regra geral de escolha das provas:

1ª - Quando o Espírito é simples, ignorante e sem experiência, "Deus supre a sua inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve seguir" (O Livro dos Espíritos, 262).

2ª - Quando possuído pela má vontade ou sendo ainda muito atrasado, Deus pode impor-lhe uma existência que sabe lhe será útil ao progresso; mas "Deus sabe esperar: não precipita a expiação" (O Livro dos Espíritos, 262-A e 337).

Anos depois do advento do Espiritismo, outros instrutores espirituais manifestaram-se sobre o assunto. Um deles é Emmanuel, que foi, como sabemos, o mentor espiritual da obra de Chico Xavier.

Vejamos algumas informações trazidas por ele sobre o tema família:

1. Habitualmente somos nós mesmos quem planifica a formação da família, antes do renascimento terrestre, com o amparo e a supervisão dos instrutores beneméritos. Comumente chamamos a nós antigos companheiros de aventuras infelizes, programando-lhes a volta em nosso convívio, a prometer-lhes socorro e oportunidade, em que se lhes reedifique a esperança de elevação e resgate, burilamento e melhoria. De todos os institutos sociais existentes na Terra, a família é o mais importante, do ponto de vista dos alicerces morais que regem a vida. (Cf. Vida e Sexo, cap. 17.)

2. O colégio familiar tem suas origens sagradas na esfera espiritual. Em seus laços, reúnem-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva. (Cf. O Consolador, pergunta 175.)

3. O matrimônio na Terra é sempre uma resultante de determinadas resoluções tomadas na vida do Infinito, antes da reencarnação dos Espíritos, razão pela qual os consórcios humanos estão previstos na existência dos indivíduos, no quadro escuro das provas expiatórias ou no acervo de valores das missões que regeneram e santificam. (Cf. O Consolador, pergunta 179.)

4. Quase sempre, Espíritos vinculados ao casal interessam-se na Vida Maior pela constituição da família, à face das próprias necessidades de aprimoramento e resgate, progresso e autocorrigenda. Em vista disso, cooperam, em ação decisiva, na aproximação dos futuros pais, aportando em casa, pelos processos da gravidez e do berço, reclamando naturalmente a quota de carinho e atenção que lhes é devida. (Cf. Vida e Sexo, cap. 11.)

Outro autor espiritual, André Luiz, trouxe-nos também informações relevantes sobre o assunto. Segundo ele, quatro seriam os tipos de casamento existentes na Terra: uniões marcadas pelo amor; casamentos em que a fraternidade é o sentimento dominante; uniões de provação e, por fim, casamentos criados pelo dever.

O matrimônio espiritual, afirma André Luiz, realiza-se alma com alma. "Os demais representam simples conciliações para a solução de processos retificadores." (Cf. Nosso Lar, obra psicografada por Francisco Cândido Xavier, cap. 38, pág. 212.)

Nesta última obra, que os espíritas conhecem tão bem, ele nos informa que "na fase atual evolutiva do planeta, existem na esfera carnal raríssimas uniões de almas gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs ou afins, e esmagadora porcentagem de ligações de resgate. O maior número de casais humanos é constituído de verdadeiros forçados, sob algemas". (Cf. Nosso Lar, cap. 20, pág. 113.)

Concluindo, podemos, com base nas informações acima, dizer que uniões marcadas pelo amor, embora raras, são perfeitamente possíveis. Tudo dependerá de nossa programação reencarnatória e de nossas necessidades no campo evolutivo.


  
 


 
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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita