Hospital Espírita de Pelotas: 61 anos
servindo à comunidade
A Constituição de 1988 criou o sistema universal de
saúde, definindo as responsabilidades dos entes estatais
(União, Estados e Municípios) e estabeleceu o direito à
saúde como um preceito fundamental. Em paralelo foi
criado por normativos complementares o sistema de saúde
complementar, ofertado por operadores de planos e
seguradoras de saúde, destinado a empresas e famílias,
planos empresariais e individuais, regidos por diploma
legal, regulado pela Agência Nacional de Saúde (ANS),
autarquia vinculada ao Ministério da Saúde. Nessa
combinação de agentes, teríamos a complementaridade de
atividades, de forma uniforme e harmônica. Ocorre que
uma dinâmica perversa criou ao longo das décadas uma
transferência de responsabilidades e atribuições, de
maneira que o sistema privado acabou sendo compelido a
exercer um papel crescente de oferta de serviços, muitas
vezes de forma transversa à revelia da relação
contratual, transferência de responsabilidades, mudanças
em coberturas e regras de elegibilidades e por fim a
crescente judicialização de litígios das relações
contratuais. Hoje, a situação dos serviços do setor
privado encontra um quadro preocupante, aumento nos
custos hospitalares, elevação nas despesas de internação
e exacerbação na ampliação de coberturas. Todavia, muito
antes da constituição criar o Sistema Nacional de Saúde,
pessoas pelo Brasil a fora se organizavam em busca de
soluções para as epidemias que a sociedade enfrentava e
que o Estado não tinha capacidade de suprir. Nos idos de
1940 a cidade de Pelotas - RS enfrentava um sério
problema, onde pessoas sofriam com transtornos
psiquiátricos e perambulavam pelas ruas da cidade sem a
perspectiva do recebimento de tratamento humanizado.
Sanatório Espírita de Pelotas foi o nome inicial –
Naquela época os pacientes eram recolhidos ao presídio
municipal aguardando a passagem do trem de passageiros
que tinham como destino à capital Porto Alegre, momento
este em que os pacientes embarcavam rumo ao Hospital São
Pedro e no fim, muitos permaneciam lá até o final de
suas vidas. Entendendo que esta situação era um tanto
preocupante, a Liga Espírita Pelotense reuniu esforços e
solicitou a prefeitura da época a doação de um terreno
para fundar o Hospital Psiquiátrico que se encarregaria
de cuidar das pessoas nestas situações. O Hospital
Espírita de Pelotas é uma entidade
filantrópica, sem fins econômicos, fundado pela Liga
Espírita Pelotense em 12 de dezembro de 1948 e
inaugurado em 31 de março de 1956. Na fundação recebeu o
nome de Sanatório Espírita de Pelotas, havendo em 1988,
a mudança para o atual. Atua na área de saúde mental sob
uma visão holística, biopsíquica, sociológica,
espiritual, tendo como filosofia "Aqui o homem é visto
como um ser total".
É, estatutariamente, permitida apenas a participação do
quadro social, efetivo e da cúpula diretiva da
instituição, de irmãos que pertençam ao quadro social de
casas espíritas filiadas à Liga Espírita. Utiliza
terapias convencionais e recebe pacientes de todas as
classes sociais, sem considerar suas origens étnicas,
políticas ou religiosas. Atualmente o hospital possui
199 leitos, atendendo SUS, particulares e convênios,
direcionados ao tratamento de pacientes com transtornos
mentais e dependência química. Destes leitos, 160 são
SUS, sendo que anteriormente eram 190, porém houve uma
redução no ano de 2004 devido à Reforma Psiquiátrica. A
instituição tem uma área própria de terreno 38.883,6 m²
e a área construída total de 6.059,78 m². É o único
hospital especializado em psiquiatria de Pelotas, sendo
referência para atendimento da 3º Coordenadoria regional
de saúde, que abrange 23 municípios.
Um grito de socorro – Atualmente,
o Hospital Espírita de Pelotas possui cinco unidades:
uma voltada a pacientes do sexo masculino com
transtornos psiquiátricos; uma unidade com pacientes do
sexo masculino em situação de sofrimento oriundos do uso
de álcool; uma unidade com pacientes do sexo masculino
em situação de sofrimento oriundos do uso de drogas;
uma unidade destinada a pacientes do sexo feminino com
transtornos psiquiátricos e em situação de sofrimento
oriundos do uso de álcool ou drogas, e uma unidade de
convênios médicos e particulares também para pacientes
com sofrimento decorrente do uso de drogas e álcool e
transtornos psiquiátricos. Como já mencionado, do total
dos leitos do hospital, 80% é destinado a pacientes
atendidos pelo SUS que recebem internação sem nenhum
custo. Recentemente, a equipe da instituição deu um
grito de socorro, talvez o primeiro de uma série, ainda
que a torcida seja para que fique apenas no de hoje. É
que a situação chegou no limite, em função de gritos
anteriores não terem sido ouvidos, de o agravamento da
situação não ter sido percebido. Por 24h o protesto
ficou marcado por uma paralisação nas atividades
externas do Hospital Espírita de Pelotas. Apenas os
pacientes internados receberão a atenção dos servidores
e gestores da instituição hospitalar. Apesar de
relevante, o motivo é simples: a falta de recursos que
dificulta a prestação dos serviços à comunidade.
“Importante ressaltar que num passado recente, o
Hospital Espírita de Pelotas mantinha 100% de seus
leitos destinados ao SUS. Entretanto, face a
impossibilidade de sustentar os custos de manutenção de
seus serviços apenas com o Sistema Único de Saúde, teve
que reduzir este percentual para 80% de sua capacidade
instalada”, aponta o administrador, Tiago Martinato,
lamentando ter de paralisar os atendimentos externos
para tentar sensibilizar as autoridades.
As dificuldades financeiras são uma constante –
O Hospital Espírita de Pelotas, pelo simples fato de ser
um hospital especializado em psiquiatria, sofre
limitações de acesso a verbas e políticas públicas de
saúde. Viu ao longo dos últimos anos emendas
parlamentares destinadas por senadores e deputados
estaduais ao nosso Hospital, serem negadas, viu recursos
também estaduais importantes serem suprimidos no
primeiro semestre de 2015, e outros serem pagos com
atraso no ano de 2016. Vê-se, pois, obrigado a trabalhar
com valores de diárias de internação que não sofrem
reajuste há mais de 5 anos, quando tudo, materiais,
insumos, alimentos, medicações, salários, entre outros
sofreram inúmeros reajustes. Atualmente
o Hospital consta com o labor profissional de 216
funcionários distribuídos em funções das áreas
técnico-médica e administrativa.
O hospital conta com atendimento multidisciplinar aos
pacientes atendidos pela instituição como
nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, terapeutas
ocupacionais, educadores físicos, entre outros. Já o
departamento Espiritual foi criado fora do corpo do
hospital, em espaço próprio, onde desenvolve todas suas
atividades, não só doutrinárias, como também possui o
seu setor assistencial, que cuida das principais
necessidades dos pacientes, tanto materiais, físicas ou
espirituais, todos desenvolvidos por voluntários da
instituição.
Os pacientes são convidados a participar duas vezes por
semana do departamento, não sendo obrigatório, para que
recebam orientações por meio das palestras realizadas e
também para receber o passe. Tais atividades são
oferecidas à comunidade, porém em horários diferentes
aos direcionados aos pacientes. É disponibilizada a
pacientes, funcionários e à comunidade uma biblioteca,
constituída de diversas obras espíritas para o
esclarecimento de quem possuir interesse.
A felicidade está, sim reservada ao homem neste mundo –
O Departamento Espiritual recebe doações de roupas e
calçados, que são distribuídas aos pacientes internados
na instituição conforme a necessidade.
Nesse departamento são realizadas atividades como Reunião
de desobsessão; Fluidoterapia: com horários exclusivos
para pacientes e horários para a comunidade e Momento de
reflexão para pacientes. A instituição possui também uma
horta, espaço este conhecido como horta terapêutica que
contribui na luta contra a dependência química, faz
parte de um projeto do Núcleo de Terapia Ocupacional do
hospital. O projeto conta além das terapeutas
responsáveis, com um jardineiro profissional que ensina
e orienta os pacientes no manejo correto da terra e das
variedades cultivadas na horta. Inclusive, os alimentos
são utilizados nas refeições dos próprios pacientes.
Além de todo cuidado com higiene pessoal, serviço de
hotelaria, os pacientes recebem 5 refeições diárias
sendo café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e
lanche noturno.
Segundo um paciente interno, a interação e participação
efetiva nos trabalhos da horta nota-se quão é
destrutível o uso de entorpecentes, pois assim como as
plantas sofrem e se deterioram com o uso do agrotóxico,
o corpo humano também sofre com a dependência química.