Escola e dignidade cultural
Apostar numa Filosofia da Educação para o conhecimento,
para o trabalho, para a vida e para a felicidade,
poderia ser uma excelente promessa eleitoral, todavia, a
educação não pode ficar prisioneira de promessas, e
muito menos de promessas não cumpridas. A educação vai
muito mais além do que a simples, e quantas vezes
enganadora, propaganda demagógica, porque ela deve ser
entendida como um desígnio nacional que todos, sem
exceção, devem ajudar a concretizar.
O mundo moderno, que se pretende civilizado e
democrático, quaisquer que sejam os instrumentos
constitucionais, em que uma determinada sociedade se
constitua, tolera cada vez menos as práticas ditatoriais
e, nesse sentido, implementará medidas educativas,
formativas e cívicas que, gradualmente, inspirem um novo
conceito de cidadania.
Na base de tais estratégias, e para lhes dar a
credibilidade e eficácia adequadas, encontra-se a Escola
no seu papel insubstituível de educar, formar e
instruir. Naturalmente que não se pode ignorar a força,
legitimidade e competências do poder político, legal e
democraticamente constituído, ao qual compete, em
primeira instância, enquanto legislador e executor,
traçar os objetivos, proporcionar os meios e acompanhar
todo o processo educativo.
Neste quadro, a ideologia política dominante procura,
por consenso ou votação democrática maioritária, aprovar
o projeto educativo que melhor se identifica com o seu
programa político. Será pela educação, em contexto
escolar, que se desenvolvem as metodologias que visam
direcionar o cidadão para determinados valores,
princípios e comportamentos.
Construir um projeto educativo, à medida de determinadas
vocações, é um objetivo nobre, que não só dignifica a
instituição escolar, como enriquece todos os
intervenientes na iniciativa, sejam
educadores-formadores, sejam educandos-formandos e
qualquer outro pessoal fora do contexto escolar, mas que
sinta o chamamento vocacional para uma área da
intervenção educativa.
Nesta linha de orientação, o perfil do cidadão, que se
pretende para os novos tempos que se avizinham, será o
de um interventor decisivo na elaboração,
desenvolvimento prático e validação do projeto
vocacional, para o que, indiscutivelmente, carece de uma
orientação credível, e, ao longo da vida, a qual será
prestada por instituições escolares dos vários níveis do
ensino/aprendizagem e formação, para o efeito dotadas
dos recursos humanos, técnicos e financeiros,
especificamente apropriados e compatíveis, na medida em
que nestes projetos, e no seu sucesso, se joga, em
grande parte, a felicidade, em todos os sentidos do
humanamente possível, da sociedade do futuro.
Com efeito, caminha-se para uma sociedade cada vez mais:
exigente, instruída, informada, interventora e com
poderes decisórios, porque «Os jovens se tornam cada
vez mais exigentes na definição do seu percurso
profissional, a orientação vocacional (aqui situada em
termos de educação de projectos) desempenha papel
fundamental na construção individual de um projeto de
existência» (FONSECA, 1994:67).
Investir na educação, em ordem à construção de uma
sociedade instruída, culta e cívica, corresponde a
terminar com a maior parte dos conflitos mundiais, a
médio prazo. No limite, significa, entre outras
interpretações, igualmente legítimas, educar para a
cidadania.
Bem no âmago da questão, estará sempre o desejo de um
novo e diferente cidadão, o qual tem de ser preparado
pelos agentes de socialização, com destaque,
principalmente no tempo, para a família e para a escola.
Deseja-se a intervenção de uma filosofia prudente.
Urge proporcionar condições de interiorização de uma
cultura para a cidadania, a partir da Filosofia da
Educação, na vida ativa integrada na sociedade, na opção
responsável por: princípios, valores, atitudes,
participação num qualquer domínio democrático da
sociedade. Nesta lógica, elaboração de teorias, projetos
utópicos ou publicação de muitos artigos científicos,
podem ser articulados com as experiências vivenciadas
individual e/ou coletivamente; e a sabedoria popular que
resulta da acumulação dos saberes das várias gerações.
Educar para uma cultura da cidadania do século XXI é um
projeto que não pode dispensar a participação, tanto do
cidadão anônimo, quanto do mais ilustrado acadêmico,
porque, «Em termos restritos, a cidadania consistirá,
então, na inserção do indivíduo no espaço político e na
participação dos cidadãos nas instituições sociais. Na
perspectiva do Estado, a cidadania significa lealdade,
participação e serviço em benefício da coletividade. Na
perspectiva do indivíduo, a cidadania traduz-se por
liberdade, autonomia e controlo político dos poderes
públicos» (Ibid.:43).
Bibliografia: