A leitora Maria Auxiliadora Schwarz, em mensagem
publicada na seção de Cartas desta mesma edição,
escreveu-nos:
Amigos da revista O Consolador, bom dia. Além do que
Allan Kardec escreveu no Evangelho segundo o Espiritismo
sobre a prece e sua eficácia, nosso grupo de estudos
agradeceria se vocês pudessem fornecer-nos outros
subsídios tirados da obra de Kardec e de outros autores,
acerca da importância da prece e os seus efeitos.
O tema prece foi examinado na obra de Allan Kardec em
diversas oportunidades.
Vamos, no entanto, para não nos alongarmos em demasia,
apresentar de forma sintética o que nos é dito sobre o
assunto na principal obra espírita, O Livro dos
Espíritos, que dedicou à prece as questões 658 a
666:
1) A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo
coração. É, assim, preferível ao Senhor a prece vinda do
íntimo à oração lida, por mais bela que seja, se for
lida mais com os lábios do que com o coração.
2) A prece é um ato de adoração, com o qual podemos
propor-nos três coisas: louvar, pedir, agradecer.
3) A prece torna melhor o homem, porque aquele que ora
com fervor e confiança se faz mais forte contra as
tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para
assisti-lo.
4) O essencial não é orar muito, mas orar bem. Existem
pessoas, no entanto, que supõem que todo o mérito está
na longura da prece e fecham os olhos para os seus
próprios defeitos. Essas criaturas fazem da prece uma
ocupação, um emprego do tempo, nunca um estudo de si
mesmas.
5) Podemos pedir a Deus que nos perdoe as faltas, mas só
obteremos o perdão mudando de proceder, porque as boas
ações são a melhor prece e os atos valem mais que as
palavras.
6) As provas por que passamos estão nas mãos de Deus e
há algumas que têm de ser suportadas até o fim; mas Deus
leva sempre em conta a resignação. A prece traz para
junto de nós os bons Espíritos, que nos dão a força de
suportá-las corajosamente.
7) A prece nunca é inútil, quando bem feita, porque
fortalece aquele que ora.
8) A prece não tem por efeito mudar os desígnios de
Deus, mas a alma por quem oramos experimenta alívio e
sente sempre um refrigério quando encontra pessoas
caridosas que se compadecem de suas dores.
9) Pode-se orar pelos Espíritos e aos bons Espíritos,
porque estes são os mensageiros de Deus e os executores
de suas vontades. O poder deles está, porém, relacionado
com a superioridade que tenham alcançado e dimana sempre
do Senhor, sem cuja permissão nada se faz.
Sobre a importância da fé ardente e os efeitos da prece,
é oportuno que lembremos aqui um episódio ocorrido por
ocasião da 2ª Guerra Mundial, a que André Luiz se
reporta no cap. 18 do livro Os Mensageiros. O
fato, segundo relatado por Alfredo, um dos personagens
do livro, ocorreu na cidade inglesa de Bristol.
Em determinada noite, Bristol estava sendo sobrevoada
por alguns aviões pesados de bombardeio e as
perspectivas de destruição eram assustadoras. Para
dificultar o trabalho dos agressores, a cidade havia
sido imersa em total escuridão. Visto de muito longe,
destacava-se, porém, à visão espiritual, um farol de
intensa luz. Seus raios faiscavam no firmamento,
enquanto as bombas eram arremessadas ao solo. Alfredo e
seus companheiros desceram ao ponto luminoso e
verificaram, então, com surpresa, que ele se encontrava
numa igreja, cujo recinto devia ser quase sombrio para o
olhar humano, mas altamente luminoso para os olhos
espirituais. Alguns cristãos corajosos reuniam-se ali e
cantavam hinos. O ministrante do culto havia lido a
passagem dos Atos em que Paulo e Silas cantavam à
meia-noite, na prisão, e as vozes cristalinas
elevavam-se ao Céu, em notas de fervorosa confiança.
Enquanto as bombas explodiam lá fora, os cristãos
cantavam, unidos, em celestial vibração de fé viva. O
chefe da equipe espiritual mandou, então, que Alfredo e
seus companheiros se conservassem de pé, diante daquelas
almas heroicas, em sinal de respeito e reconhecimento,
afirmando "que os políticos construiriam os abrigos
antiaéreos, mas os cristãos edificariam na Terra os
abrigos antitrevosos". (Os Mensageiros, cap. 18,
pp. 101 e 102)
Vale por fim registrar aqui o depoimento que a respeito
da prece nos deixou o fisiologista e cirurgião francês
dr. Alexis Carrel, Prêmio Nobel de Medicina de 1912 e
autor do livro O homem, esse desconhecido, best-seller na
América do Norte em 1935.
Eis, resumidamente, o que disse sobre a prece o notável
médico:
1) A prece marca com os seus sinais indeléveis as nossas
ações e conduta.
2) A oração é uma força tão real como a gravidade
terrestre. A influência da prece sobre o corpo e sobre o
espírito humano é tão suscetível de ser demonstrada como
a das glândulas secretoras.
3) Muitos enfermos têm-se libertado da melancolia e da
doença graças à prece. É que, quando oramos, ligamo-nos
à inexaurível força motriz que aciona o universo e, no
pedir, nossas deficiências humanas são supridas e
erguemo-nos fortalecidos e restaurados.
4) Não devemos, no entanto, invocar Deus tendo em vista
meramente a satisfação dos nossos desejos. Maior força
colhemos da prece quando a empregamos para suplicar-lhe
que nos ajude a imitá-lo.
5) Toda vez que nos dirigimos a Deus, melhoramos de
corpo e de alma. Não tem, porém, sentido orar pela manhã
e viver como um bárbaro o resto do dia.
6) Hoje, mais do que nunca, a prece é uma necessidade
inelutável na vida de homens e povos. É a falta de
intensidade no sentimento religioso que acabou por
trazer o mundo às bordas da ruína. (Seleções
do Reader’s Digest, edição de fevereiro de 1942)