Barbárie humana: dos EUA ao Oriente...
“Um café, se faz favor”, pedi ao empregado que me
veio servir à mesa da esplanada. Ao lado, a conversa em
alta voz (um mau hábito, recorrente, com esta história
dos telemóveis) entre dois homens, na casa dos 45 anos.
Discutiam a questão em voga dos migrantes africanos,
sírios, afegãos, mexicanos etc.….
Um deles (vamos chamar o Sr. A), bem nutrido (a
barriguinha fazia a chamada “curva da felicidade” nos
homens), bem-vestido, sentado numa esplanada num país em
paz, onde o calor trazia um ar de Verão, do alto do seu
“bem-estar” vociferou: “essa cambada, se fosse
eu que mandasse, ia a nado para casa, nem sabemos se são
terroristas ou não…”. O colega de mesa (vamos chamar
o Sr. B) parecia ser menos reativo, mais habituado a
medir as palavras e / ou os conceitos. Tinha aquilo a
que se chama o ar de “boa pessoa”. O Sr. B falava de um
modo diferente, falava dos direitos humanos e tentava
esclarecer o amigo, tentando que ele se colocasse na
posição dos migrantes. “E se fosses tu, pá?”… “E
se fosses tu a tentar entrar nos EUA em busca de uma
vida melhor e te tirassem os filhos menores para serem
‘presos’ longe de ti, juntamente com mais de 1.000 (mil)
crianças?”
O Sr. A disparou logo: “isso é problema deles, que se
amanhem, não venham é cá estragar o que é nosso”.
Confesso que fiquei um pouco nauseado, não pelo café que
tinha acabado de beber, saboroso, mas por aquela dose
auditiva de veneno tóxico que recebera – o egoísmo
feroz.
Meditando no que tenho aprendido com a Doutrina dos
Espíritos (Espiritismo ou Doutrina Espírita), senti-me
mais aliviado por as minhas ondas mentais calcorrearem
caminhos diferentes, caminhos de compreensão,
fraternidade, irmandade universal, pese embora os muitos
defeitos que ainda carrego.
Fiquei mais calmo… como que uma voz, mentalmente, me
questionava: “será que aquele egoísta feroz tem o
conhecimento da imortalidade do Espírito? Será que ele
sabe que vai voltar à Terra, as vezes que forem
necessárias, para evoluir espiritual e intelectualmente,
em novos corpos (reencarnação)? Será que ele conhece a
lei de causa e efeito, onde cada um colhe o que semeia
(nesta vida e nas seguintes)?”
Fazer ao próximo o que desejamos para nós é a medida do
bem-estar e da felicidade interior.
Pois é, pensei cá com os meus botões, ele não deve
saber, não deve ter conhecimento que lhe permita pensar
de maneira mais fraterna…
E aqueles que, tendo esse conhecimento, pensam e agem da
mesma maneira?
Esses são mais autorresponsáveis, moralmente falando…
Apeteceu-me entrar na conversa e dizer ao Sr. A: “Sabe
por que você não é feliz? Porque o egoísmo é a mãe de
todos os nossos vícios e, enquanto não nos libertarmos
desse vício, entendendo a vida de modo holístico, não
seremos felizes. Enquanto não fizermos ao próximo o que
desejamos para nós, não teremos paz interior e exterior.
Enquanto não nos conseguirmos colocar no lugar dos
outros, não seremos felizes”.
Mas não era oportuno meter-me na conversa alheia.
Paguei o café, estava a ler o Jornal de Espiritismo,
deixei-o em cima da mesa, na esperança que ele desse uma
vista de olhos no jornal ali “esquecido”…
No livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o
Espiritismo”, um dos capítulos fala das qualidades
do Homem de Bem.
Fui-me embora a meditar nesse belo texto, que serve de
roteiro luminoso para a nossa evolução intelectual e
moral, para o nosso bem-estar…
Como queremos o mundo em paz se as leis dos Homens estão
tão longe das leis divinas ou lei natural?
Como queremos paz se fomentamos a guerra no nosso
quotidiano, nas conversas com termos belicosos, nas
leituras e programas de TV escandalosos, nas atitudes e
reações agressivas, sem entendermos que o Amor é a
grande estrada da evolução, como diz um amigo meu?
Por isso não somos (ainda) felizes, mas podemos mudar…
quando quisermos, já hoje!
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