O leitor Francisco José de Oliveira, em mensagem
publicada na seção de Cartas desta mesma edição,
escreveu-nos:
Pelo que já li, as informações relativas a Marte
mencionadas no artigo publicado como Especial na edição
372 desta revista contradizem o que Allan Kardec
escreveu em suas obras. Além disso, contrariam o que a
NASA já divulgou a respeito do planeta Marte, onde a
paisagem fotografada é sempre deserta e sem as casas e
amplas avenidas descritas nas mensagens mediúnicas
citadas no Especial 372. Estou equivocado com minhas
observações? Podem os senhores dizer algo a respeito?
O leitor tem razão em suas observações. Existe, sim,
clara divergência entre o que Allan Kardec escreveu
sobre o planeta Marte e o que alguns autores
desencarnados escreveram por meio de Chico Xavier.
Com respeito, especificamente, a Marte, é bom lembrar a
nota que o Codificador do Espiritismo escreveu à margem
da questão 188 d´O Livro dos Espíritos:
Segundo os Espíritos, de todos os mundos que compõem o
nosso sistema planetário, a Terra é dos de habitantes
menos adiantados, física e moralmente. Marte lhe
estaria ainda abaixo, sendo-lhe Júpiter superior de
muito, a todos os respeitos. O Sol não seria mundo
habitado por seres corpóreos, mas simplesmente um lugar
de reunião dos Espíritos superiores, os quais de lá
irradiam seus pensamentos para os outros mundos, que
eles dirigem por intermédio de Espíritos menos elevados,
transmitindo-os a estes por meio do fluido universal.
Considerado do ponto de vista da sua constituição
física, o Sol seria um foco de eletricidade. Todos os
sóis como que estariam em situação análoga. (O Livro
dos Espíritos, nota à margem da questão 188.)
Na Revista Espírita há referências a quatro planetas do
sistema solar. Conforme o que nela foi publicado, Vênus
e Júpiter seriam mundos mais adiantados do que a Terra,
e Mercúrio e Marte, inferiores ao nosso planeta.
As referências a Marte aparecem no volume de 1858 (pp.
70 e 71) e no volume de 1860 (pp. 332 a 334), em que
Marte é descrito como um mundo bem inferior à Terra,
onde os seres, embora tendo a forma humana, são
rudimentares e sem nenhuma beleza.
As obras psicografadas por Chico Xavier, mencionadas no
Especial da edição 372, escrito pelo saudoso confrade
Gerson Simões Monteiro, trazem informações diferentes.
Por que a contradição? Não sabemos responder.
O que podemos, sim, é afirmar que as informações
relacionadas com as condições de vida e com a natureza
dos habitantes dos diferentes planetas não deveriam
compor o corpo doutrinário do Espiritismo, visto que, em
primeiro lugar, falta ao tema a necessária concordância
nas revelações obtidas e, em segundo lugar, trata-se de
assunto cuja comprovação objetiva escapa, por motivos
óbvios, aos habitantes da Terra.
Como sabemos, no âmbito da Ciência as opiniões relativas
à existência ou não de vida em outros mundos são
divergentes. Há cientistas que creem nessa
possibilidade, mas a maioria pensa de forma diferente. E
essa divergência, como vemos, também se nota no que
diferentes espíritos disseram, primeiro a Kardec e, por
último, a Chico Xavier.
Devemos entender, pois, como opiniões pessoais ou como
revelações singulares os textos mediúnicos a respeito do
tema, visto que o consenso universal, ou seja, a
concordância entre as várias comunicações obtidas por
meio de médiuns diversos em diferentes lugares, é um dos
critérios que definem se determinado ensinamento faz
parte ou não da Doutrina Espírita. Em O Evangelho
segundo o Espiritismo, Introdução, item II, Kardec
trata com clareza desse assunto.
Esperamos que as explicações acima satisfaçam à
expectativa do leitor que nos escreveu.