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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Desigualdade das riquezas: Kardec errou?


Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVI, Kardec apresenta belas ideias em torno das desigualdades das riquezas, elencando três causas fundamentais para esse fenômeno social tão lamentável.

A primeira delas encontra-se nas próprias diferenças existentes entre os indivíduos: nem todos são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar, afirma o codificador. E acrescenta que se toda a riqueza da Terra fosse dividida igualmente para todas as pessoas, feita essa divisão, o equilíbrio estaria desfeito em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e aptidões.

A necessidade de os Espíritos viverem experiências corpóreas diferentes e conseguirem as coisas pelo próprio esforço seria uma segunda causa. Lembra Kardec que são necessárias as provas da pobreza e da riqueza para que os seres espirituais desenvolvam habilidades diferentes: resignação, perseverança, desprendimento, compaixão etc. são virtudes que serão construídas paulatinamente nas diferentes experiências, ora na abundância, ora na escassez.

E, finalmente, a terceira causa das desigualdades: o egoísmo e a ganância humana, levando os homens a cometerem toda sorte de abusos, em detrimento daqueles que, por limitações intelectuais, familiares e culturais, não possuam os mesmos recursos para terem acesso aos bens da Terra.

No entanto, no texto em exame, nos causa espécie a seguinte afirmação de Kardec: é ponto matematicamente demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade, daria a cada um parcela mínima e insuficiente. O sociólogo Domenico de Masi comenta em seu último livro – O mundo ainda é jovem – que, segundo dados financeiros confiáveis, se dividíssemos igualmente a riqueza produzida, bastaria para assegurar o bem-estar de todos. Organizações financeiras internacionais validam uma medida-padrão de avaliação da riqueza: o Produto Interno Bruto per capita, obtido dividindo-se a riqueza de um país pelo número de habitantes. Pois bem, se dividíssemos o PIB mundial, ou seja, toda a riqueza do mundo (cerca de 80 trilhões), pelos 7,4 bilhões de habitantes da Terra, daria para cada indivíduo cerca de 10 mil dólares por ano, ou seja, 45 mil reais, o que daria para que todos vivessem dignamente.

No entanto, Kardec afirmou algo diferente, segundo mostramos anteriormente. Será que ele se equivocou? Acredito que não! Kardec faz essa afirmativa com base na realidade de sua época, em meados do século XIX. Informa-nos Steven Pinker, na obra O novo Iluminismo, que, em virtude do notável desenvolvimento tecnológico, ficamos muito mais ricos, pois o PIB mundial cresceu cem vezes de meados do século XIX até nossos dias, enquanto a população mundial aumentou apenas sete vezes. Possivelmente, àquela época, tal afirmação de Kardec fosse pertinente, não se mostrando mais em nossos dias.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita