Espiritismo e compaixão
Aprendemos com a Doutrina Espírita que devemos ter
empatia para com o nosso semelhante, principalmente no
que diz respeito ao sofrimento alheio moral e material,
assim como ter piedade do que o semelhante vem passando
e, quando possível, ter um movimento de o auxiliar de
alguma forma, moralmente ou materialmente.
“Sem compaixão não há caridade.” 4 (Cairbar
Schutel)
Esse convite de uma mudança de conduta da nossa parte
não é recente; Paulo de Tarso, em seus Atos aos
Apóstolos, já procurava exortar seus seguidores a não
hesitarem diante da dor e das provas; se fazia
necessário um testemunho pessoal de acolhimento aos
necessitados e sofredores, estendendo sempre as mãos no
intuito de auxiliar.
Levando em conta os acontecimentos recentes, fica uma
pergunta:
- Em que grau sentimos a necessidade de realmente ajudar
as pessoas que cruzam nosso caminho, nas esquinas das
ruas da vida? E, quando fazemos esse movimento de ajuda,
estamos sendo levados por uma compaixão ou simplesmente
por um ato involuntário de dar esmolas, pois aprendemos
de forma genérica que devemos ser solidários e ajudar.
Um desafio que vai além da nossa proposta íntima de
reforma moral.
“A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos;
é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus. Ah! Deixai
que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das
misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes.”1 (E.S.E.)
Em um mundo tão conturbado, onde a sobrevivência
material desvia nosso olhar apenas para o nosso dia a
dia, fazendo com que o nosso foco de atenção nunca
esteja no semelhante, mas apenas nas nossas questões
mais imediatas, acaba infelizmente favorecendo um
sentimento de egoísmo, que vai se acentuando devido às
questões sociais, pelas quais estamos passando. Poucas
pessoas se esforçam em ser solidárias às necessidades do
próximo, deixando a cargo de instituições filantrópicas
arrecadar recursos e alimentos para ajudar as pessoas em
condição de risco, que vivem como indigentes ou aqueles
cuja sobrevivência dependa de um ganho diário, através
de trabalhos como bicos (serviços esporádicos), sem
vínculo empregatício.
O grande abismo social
que existe favorece uma série de irregularidades, como
vários delitos e crimes de diferentes proporções, numa
sociedade onde a mobilidade social está engessada e
aqueles que poderiam fazer algo para mudar estão
empedernidos quanto às necessidades de sobrevivência das
camadas mais pobres. “A piedade é a simpatia
espontânea e desinteressada que se antepõe à antipatia
gratuita moral e material, junto daqueles que no-la
despertam, sem o que se torna infrutífera.”4
Essas dificuldades sociais de sobrevivência se tornam um
grande desafio para um cidadão comum lutar contra o
sentimento de egoísmo que se instalou culturalmente,
fruto de um individualismo, pois muitos percebem que
assim como ele luta para sobreviver, por que outros se
aproveitam do sentimento da caridade alheio para
sobreviver sem o mesmo espírito de sacrifício. Mesmo que
isso não seja uma verdade, infelizmente, essa ideia se
instalou no bojo da nossa sociedade.
“Escasseia, na atual conjuntura terrestre, o sentimento
da compaixão. Habituando-se aos próprios problemas e
aflições, o homem passa a não perceber os sofrimentos do
seu próximo.”3 (Joanna
de Ângelis)
Existem grandes bolsões de miséria próximos aos centros
das grandes capitais, onde reencarnam Espíritos com a
missão de sobreviver em condições precárias, passando
totalmente desapercebidos ao olhar de um indivíduo
comum. Às vezes voluntários de instituições que fazem
trabalho social com comunidades carentes ficam
impressionados, pois existem pessoas que vivem muito
abaixo do nível de pobreza extrema e não se dão conta
disso, pois sobrevivem um dia de cada vez, sem qualquer
expectativa de um futuro ou uma vida melhor. Às vezes
encontramos algumas dessas pessoas como catadoras de
latinha, diaristas muito simples e analfabetas, que nem
o nome sabem assinar e sem capacidade mental de aprender
além do necessário. Dentro de um grande universo de uma
periferia, onde encontramos um pouco de cada coisa,
somente sendo percebido por aqueles que fazem uma
releitura da nossa realidade paralela aos grandes
centros urbanos.
A noção da reencarnação nos permite avaliar que hoje
estamos num momento evolutivo para nosso aprimoramento,
porém em uma futura reencarnação podemos vivenciar uma
experiência de vida que hoje temos dificuldade em
aceitar no outro. Alguns benfeitores espirituais nos
dizem que perceber a vida material na condição “de
vigília” é uma coisa, porém estando “em
desdobramento”, a visão moral da vida é
completamente diferente, nos surpreendemos com os
Espíritos missionários que por merecimento recebem do
alto uma missão e os Espíritos mais comprometidos por
misericórdia reencarnam de forma a não se comprometerem
tanto, para conseguir avançar um pouco mais. As
revelações que existem nos bastidores da vida nos
surpreenderiam a todos, principalmente aqueles que já
possuem uma visão holística mais apurada e a noção da
imortalidade da alma. Com isso somos naturalmente
convidados a uma releitura da vida, que nos leva à busca
de um outro sentido de existência.
Dessa forma, muitos reencarnam com a tarefa de ajudar
através de exemplos a serem seguidos pelos seus
familiares diretos, como filhos e irmãos. As limitações
mentais de aprendizagem nem sempre são incapacidade de
aprendizagem do espírito, mas uma condição
reencarnatória, uma solicitação para que as dificuldades
ajudem em um burilamento dos sentimentos. Nos tornando
mais receptivos às necessidades do próximo, quando
aprendemos a nos colocar no lugar do outro e não julgar.
Segundo Allan Kardec, “Fora da Caridade não há
salvação”; essa passagem engloba esses dois sentimentos:
empatia pelo próximo, assim como a compaixão. Diz-nos o
Espírito de Paulo, o apóstolo:
“Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que
pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente
os que a possuem hajam de ser salvos; é que,
ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos
faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os
vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a
reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão
são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos
praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo
da seita a que pertençam”.2
Referências:
1) Kardec,
Allan; O Evangelho segundo o Espiritismo; FEB;
Cap. XIII; it. 17.
2) _________;
__________; Cap. XV; it. 10.
3) Franco,
Divaldo Pereira; Responsabilidade; Ed. LEAL; it.
Compaixão.
4) Xavier,
Francisco Cândido; O Espírito da Verdade; FEB;
Cap. 96; “Sê Compassivo”.
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