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por Gebaldo José de Sousa

 

Tios muito amados

 

“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.”  Jesus (Jo., 13:34/35)


Sempre me vêm à lembrança a palavra e a entonação de pura ternura da voz daquele tio, ao me reconhecer, ao telefone:

– Amigo!!!

Essa voz – a alegria e a sinceridade que sempre expressava – jamais se apagará de minha memória!

Ele e a esposa, hoje na Pátria espiritual, são tios amigos e muito queridos.

Os poucos fatos que conheci de sua vida a dois – residiam em Santos, muito distante de Goiânia –, oferecem-nos bons exemplos da boa convivência de ambos, pela serenidade de suas condutas.

Ela goiana, ele baiano. Pelo hábito de os baianos saírem pelas estradas, eles ‘casualmente’ se encontraram e se entenderam. Ele já era pai de um filho, o que não foi obstáculo para ela aceitá-lo.

Ele foi hábil artesão: trabalhava a madeira, esculpindo belas figuras. Ao aposentar-se, dedicou-se ainda mais a essa bela arte. Recebi dele algumas garças, com a finalidade de vender e aplicar os recursos em obras sociais.

Ambos eram muito afáveis e isto, associado ao baianismo dele, pleno de paciência e discrição, resultou em diálogos saborosos, dentre os quais ouso registrar alguns, não só pelo encanto que revelavam na boa convivência, mas pelos exemplos de paciência e tolerância, que lhes preservou o casamento com alegria e bom humor.

Quando ele reclamava ao sentir um pouco mais de sal naquele bife habitual – naqueles tempos era comum esse costume, pelos preços acessíveis da carne sempre de vaca, já que os açougues não oferecem carne de boi –, ela ponderava:

– Ô João! Eu pus tão pouco sal...

E o assunto se encerrava aí, nesse breve e sereno diálogo.

O mesmo ocorria, quando ele sentia que o café estava doce em excesso:

– Ô João! Mas eu pus tão pouco açúcar!

E a vida seguia suave em seu lar; ele dedicado ao trabalho nas docas de Santos, como soldador, e ela nas lides caseiras, a cuidar da casa e dos rebentos.

***

Numa ocasião, em que ela tentava, por todos os meios, impedir a briga entre dois de seus filhos, ao perceber que não obteria sucesso, mesmo após ameaças e alteração da voz, recorreu ao marido, para solucionar o impasse que a aborrecia.

Encontrava-se ele a meio caminho entre ela e os filhos, sentado confortavelmente em cadeira de balanço, a ler seu jornal, quando ela o chamou. Com a paciência de seu temperamento soteropolitano – ilustrado à saciedade por Dorival Caymmi – respondeu:

– O que foi, ‘Verja’? – como se não estivesse a ouvir a algazarra dos filhos e o diálogo que ela mantinha com eles.

– A briga dos meninos, João! Dá um jeito!

Ele, serenamente, sem levantar-se, interrompeu a leitura e dirigiu-se ao mais velho dos dois:

– Fulano! Abre o olho, meu filho! Abre o olho!

Prontamente encerrou-se a disputa entre os dois, revelando para nós o que pode a força moral de um pai que não usa violência em hipótese alguma, mas dialoga e conquista o amor e o respeito dos filhos!

Com esse saboroso tempero, mantinham a harmonia e a paz.

São belas lições que me ficam – a mim, que lhe invejo a serenidade e a postura equilibrada em toda sua longa vida!

***

A vida nos é concedida para evoluirmos e conquistarmos a felicidade plena. Só obteremos esses resultados cuidando de nos melhorarmos, amando e servindo ao semelhante, como nos exemplificou Jesus.

Será que para conquistar esse temperamento terei que renascer na Bahia?

Ou bastar-me-á cuidar, atentamente, da própria reforma íntima – corrigindo defeitos e conquistando virtudes –, onde quer que me encontre?

 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita