Obreiros e obreiros
Quem muito abarca, pouco aperta.
“O trabalhador de Jesus não será tão
somente o condutor de si mesmo, mas
também o amigo, o orientador, o
sacerdote e o médico espiritual dos
irmãos sofredores.” -
Eurípedes Barsanulfo
Chico Xavier foi (e será sempre) o
exemplo do trabalhador bem-aventurado,
organicamente frágil, mas
espiritualmente fortalecido e sempre
renovado em suas energias pelo Pai
Celestial até o crepúsculo da sua
existência que o encontrou com as mãos
nas charruas do Bem incessante em favor
dos Filhos do Calvário que pululam à
nossa volta. Trabalhou até o limite
máximo de suas forças...
“(...) e eu te mostrarei a minha fé
pelas minhas obras”
O obreiro sem fé jamais logrará êxito em
seus empreendimentos no Bem. Conseguirá
tão somente espalhar ao seu redor a
inquietação e o desânimo, pois o
equilíbrio e a persistência jamais
estarão presentes em seu desempenho.
Terá sempre uma justificativa na ponta
da língua para suas omissões e
defecções...
Não é sem
motivo que Emmanuel, através da luminosa
mediunidade de Chico Xavier, afirma que
a fé sem obras não passa de perigosa
embriaguez da Alma. E como ébrio, o
obreiro sem fé permanece colado ao chão
do mundo, perdido no intricado báratro
dos interesses subalternos quão
imediatistas e transitórios, ávido que
se encontra pelo usufruto das mordomias
terrestres. É a esses indivíduos que os
juízes cósmicos um dia dirão: “(...)
já recebestes na Terra a vossa
recompensa, tal como a quisestes. Nada
mais vos cabe pedir; as recompensas
celestes são para os que não tenham
buscado as recompensas da Terra”.
A nobre
mentora Joanna de Ângelis, através da
não menos luminosa mediunidade de
Divaldo Pereira Franco, esclarece que “(...)
todo empreendimento de alta magnitude
enfrenta obstáculos e defecções de
muitos combatentes. Entanto, exatamente
por isso, merece insistência e
continuidade. Se fora fácil, estaria
destituído de relevância, não possuindo
profunda significação para alterar as
vidas que se beneficiem.
Define-te pelo que irás realizar e
persevera na sua execução...
Inicialmente, convence-te que é exatamente
isso que deves e que podes realizar,
evitando novos envolvimentos e
multiplicação de compromissos que não
poderás atender. Quem muito abarca,
pouco aperta, afirma a sabedoria
popular, conclamando à eleição de um
compromisso que seja expressivo, porém,
sem desvios para a diversidade que dilui
o trabalho.
(...) Sê decidido no teu mister, mesmo
que a sós. No princípio, serão muitas as
dificuldades a vencer, e depois
continuarão outras dificuldades a serem
superadas.
Ninguém atinge o acume de um monte sem
os problemas das baixadas. Todavia,
vencendo-os, a pouco e pouco, se é
compensado pela beleza e deslumbramento
das alturas. O mesmo ocorre na
atividade espiritual a que te afervoras:
não vivas trocando de tipo de serviço,
acumulando decepções do passado e
anelando por esperanças em relação ao
futuro. Qualquer trabalho a executar
terá sempre o seu peso moral para ser
carregado. Silencia as ansiedades do
coração e procura fazer o que possas. O
teu serviço valerá não pelo número de
realizações, mas pela qualidade dele,
pelos resultados na área da beneficência
e do amor, da iluminação de consciências
e de libertação de vidas das algemas da
ignorância.
Esta é a tua hora de realizar. Já
dispuseste de muito tempo para eleger o
que fazer e deste início ao que
realmente te cumpre desenvolver. Se a
tua é uma terra árida, utiliza-te da
adubação; se for sáfara, busca
fertilizá-la; se for seca e ingrata,
recorre à água generosa; mas seja qual
for o tipo que tenhas para trabalhar,
insiste e persevera, porque somente o
tempo futuro se encarregará de
oferecer-te a resposta da sementeira que
pretendes realizar”.
Lembra-nos o dr. Vitor Ronaldo Costa,
que no início das atividades redentoras
no mundo espiritual, André Luiz foi
tomado de um comportamento entusiástico,
como se quisesse recuperar o tempo
perdido e decidiu abraçar
responsabilidades que excederiam as doze
horas máximas de trabalho diário
recomendados na colônia. Daí ser
carinhosamente advertido por Tobias para
não se precipitar solicitando acréscimo
de responsabilidade, pois a
responsabilidade perante a rotina de
vida, nos solicita honestidade,
dedicação, amor ao trabalho e respeito
aos limites estabelecidos. Se
observarmos as regras e contivermos o
entusiasmo, certamente, atingiremos com
equilíbrio e oportunidade os objetivos
em mente.
Lembra-nos ainda, o confrade amigo4 que
cada tipo de atividade laboriosa, se
executada com sabedoria, torna-se
produtiva e não sobrecarrega o
trabalhador... É interessante notar que
sempre ao lado dos embromadores
renitentes, situam-se os responsáveis em
demasia, verdadeiras máquinas de
trabalhar. Há que se lembrar a esses
últimos de que tudo aquilo que
ultrapassa certos limites, torna-se
pernicioso. É preciso analisar esta
questão com o devido cuidado, para que
se não peque por negligência ou excesso,
pondo-se em risco a própria saúde. O
equilíbrio deve ser a baliza das
tarefas.
Não
podemos aqui nos olvidar que o próprio
Allan Kardec foi – inúmeras vezes –
advertido pelos Espíritos amigos quanto
à moderação com a qual devia pautar suas
redentoras e profícuas atividades,
incluindo-se aí o dr. Demeure que nem
mesmo a desencarnação fê-lo desligar-se
dos zelos e cuidados para com o Mestre
Lionês. Na verdade, não foi fácil
conter o ímpeto de trabalho do
Codificador, até que, finalmente, no
fatídico 31 de março de 1869, “deu-se
com ele o que se dá com todas as almas
de forte têmpera: a lâmina gastou a
bainha”.
O importante não é se matar de
trabalhar, mas trabalhar com sabedoria e
senso de oportunidade na direção certa e
da maneira adequada, uma vez que não
podemos nos esquecer da profecia do
Espírito de Verdade, quando nos adverte
com sua proverbial sabedoria2:
“(...) aproxima-se o tempo em que se
cumprirão as coisas anunciadas para a
transformação da humanidade. Ditosos
serão os que houverem trabalhado no
campo do Senhor, com desinteresse e sem
outro móvel, senão a Caridade! Seus dias
de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do
que tiverem esperado.
Ditosos os que hajam dito a seus
irmãos: “trabalhemos juntos e unamos
os nossos esforços, a fim de que o
Senhor, ao chegar, encontre acabada a
obra”, porquanto o Senhor lhes
dirá: “vinde a mim, vós que sois bons
servidores, vós que soubestes impor
silêncio aos vossos ciúmes e às vossas
discórdias, a fim de que daí não viesse
dano para a obra!” Mas, ai daqueles
que, por efeito das suas dissensões,
houverem retardado a hora da colheita,
pois a tempestade virá e eles serão
levados no turbilhão!
Discernimento, sabedoria, eficiência,
persistência, coragem, abnegação,
devotamento e equilíbrio, tal a equação
da saúde e dos sadios corolários no
labor com Jesus.
-
KARDEC, Allan. O Evangelho
Seg. o Espiritismo. 129.ed.
Rio [de Janeiro]: FEB, 2009,
cap. XX, item 5, § 1º.