Ainda sobre a
homossexualidade
Veem-se, ainda,
em parcela do
movimento
espírita,
considerações
inadequadas
sobre o tema
homossexualidade.
Ainda temos
ouvido as
seguintes
expressões: “não
é coisa de
Deus”, “escolha
infeliz”, “culpa
dos pais”,
“viciado em
sexo” ou
“sublimar o
sexo”.
Há quem afirme
que a literatura
espírita não
possui elementos
suficientes que
permitam um
posicionamento
definido em
torno da
homossexualidade
e da
transexualidade.
Penso que tal
argumentação se
fundamenta em
colocações que
foram feitas, no
passado, por
personalidades
importantes,
como Herculano
Pires e Jorge
Andréa, ou por
Espíritos como
Philomeno de
Miranda.
Acredito que as
considerações,
hoje superadas,
vindas dessas
figuras
altamente
respeitáveis se
devem a
ausência, em sua
época, de
estudos
científicos bem
delineados sobre
o tema.
Estudos recentes
efetuados por
diversos
pesquisadores
têm mostrado
que:
01) As
evidências de
que os processos
biológicos
desempenham
algum papel na
orientação
sexual são
consistentes. A
melhor evidência
disponível
sugere que a
exposição a
hormônios,
especialmente a
testosterona, no
ambiente
pré-natal, está
relacionada à
orientação
sexual.[i]
02) Ninguém
se torna hetero,
homo ou
bissexual por
opção ou
escolha. Um
conjunto de
influências de
ordem
biopsicosocioculturais
nos inclina para
esta ou aquela
orientação (que
não é opção)
sexual. [ii]
03) Nasce-se
homossexual, não
se escolhe
sê-lo. O balanço
entre fatores
biológicos ou
culturais
suscetíveis de
explicar a
homossexualidade
pende
notavelmente em
favor dos
fatores
biológicos,
agindo de
maneira
preponderante
durante a vida
embrionária. A
homossexualidade
seria o
resultado de uma
interação entre
fatores
genéticos e
hormonais
embrionários com
uma contribuição
menor dos
efeitos de
experiências
sociais e
sexuais
pós-natais.[iii]
04) Estudos com
imagem têm dado
suporte à visão
de que o
encéfalo de
homens
homossexuais se
assemelha aos de
mulheres
heterossexuais,
e que o encéfalo
de mulheres
homossexuais se
assemelha aos de
homens
heterossexuais.[iv]
05) Não há
evidência de que
a maneira como
os pais tratam
seus filhos tem
alguma coisa a
ver com a
orientação
sexual. Do mesmo
modo, não foi
encontrado
nenhum outro
fator ambiental
para explicar a
homossexualidade.[v]
06) Não há
relação entre
homossexualidade
e comportamento
imoral. Os
homossexuais
“traem” seus
parceiros com a
mesma
prevalência dos
heterossexuais.
Existem
promíscuos tanto
entre homo e
hetero e não se
pode relacionar
a
homossexualidade
com a
promiscuidade
sexual. [vi]
07) Não se trata
de uma condição
patológica,
tendo sido
excluída do
Manual
diagnóstico e
estatístico de
transtornos
mentais, desde
1973 e do Código
internacional de
doenças, desde
1990. [vii]
08) A orientação
sexual não pode
ser alterada com
terapia, e estar
com pessoas cuja
orientação
sexual difere da
sua não muda sua
orientação
sexual.[viii]
09) Grande parte
dos casamentos
entre
homossexuais tem
grande
durabilidade, e
os problemas
identificados
nesses
casamentos são
semelhantes aos
observados em
casamentos de
heterossexuais. [ix]
10) Os
homossexuais
podem ser tão
bons pais quanto
os
heterossexuais.
A investigação
científica tem
demonstrado que
os filhos
criados por pais
gays ou mães
lésbicas
apresentam o
mesmo nível de
funcionamento
emocional,
cognitivos e
sexual que os
filhos de pais
heterossexuais. [x]
Na obra de Allan
Kardec, na
literatura
mediúnica
produzida
através de Chico
Xavier e em
considerações
mais recentes do
Espírito Joanna
de Ângelis,
encontramos
ampla correlação
com as
considerações
apresentadas
acima.
Kardec relaciona
a
homossexualidade
a uma mudança
reencarnatória
de polaridade
sexual.
Esclarece que pode
acontecer que o
Espírito que
percorra uma
série de
existências no
mesmo sexo,
possa conservar,
na condição de
Espírito, o
caráter de homem
ou de mulher,
cuja marca nele
ficou impressa.
Numa nova
encarnação, ele
trará
naturalmente o
caráter e as
inclinações que
tinha como
Espírito.
Mudando de sexo
ele poderá,
portanto, sob
essa impressão e
em sua nova
encarnação,
conservar os
gostos, as
inclinações e o
caráter
inerentes ao
sexo que acaba
de deixar. Assim
se explicam
certas anomalias
aparentes,
notadas no
caráter de
certos homens e
de certas
mulheres. [xi]
Sabemos que a
formação do
cérebro, durante
o período fetal,
é, em grande
parte, efeito do
psiquismo do
Espírito
reencarnante, o
que torna óbvio
que um Espírito
com psiquismo
distinto da
biologia
corporal no que
se refere a
masculinidade ou
feminilidade,
irá interferir
na constituição
desse cérebro,
justificando, do
ponto de vista
espírita, o que
os estudos têm
mostrado: a
homossexualidade
definida ainda
no período
gestacional.
Sobre a origem
precoce da
homossexualidade,
Emmanuel coloca:
[...] em
minhas noções de
dignidade do
espírito, não
consigo entender
por que razão
esse ou aquele
preconceito
social impedirá
certo número de
pessoas de
trabalhar e de
serem úteis à
vida
comunitária,
unicamente pelo
fato de haverem trazido
do berço características
psicológicas ou
fisiológicas
diferentes da
maioria (o grifo
é nosso). [xii]
Joanna caminha
nessa linha de
pensamento, ao
afirmar que a
homossexualidade pode
ser considerada
como certa
predisposição
fisiológica.[xiii]
No que concerne
as experiências
sexuais entre
pessoas do mesmo
sexo, não
encontramos na
obra de Kardec e
na literatura
produzida por
Chico nada de
substancial que
considere tal
conduta como
eticamente
reprovada,
obviamente,
considerando o
respeito ao
parceiro e à
função sexual,
pela prática
monogâmica
respeitosa, tal
qual se espera
das relações
heterossexuais.
Kardec
considerou que é necessário
não esquecer que
é o Espírito
quem ama, e não
o corpo.[xiv] O
codificador dá
uma importância
relativamente
pequena ao
fenótipo sexual,
quando coloca
que para o
Espírito pouco
lhe importa
encarnar no
corpo de um
homem ou de uma
mulher, pois tudo depende
das provas pelas
quais deverá
passar.[xv] Segundo
Kardec, as
almas ou
Espíritos não
têm sexo. As
afeições que os
unem nada têm de
carnal e, por
isto mesmo, são
mais duráveis,
porque são
fundadas numa
simpatia real e
não são
subordinadas às
vicissitudes da
matéria. [xvi]
Quando
estabelece que o
casamento é uma
instituição
fundada na lei
natural, Kardec
enfatiza que se
trata de uma
união permanente
entre dois
seres. [xvii] (o
grifo é nosso)
Este pensamento
de Kardec
embasou a
resposta de
Emmanuel à
seguinte
indagação:
- É
lícito a duas
pessoas do mesmo
sexo viverem sob
o mesmo teto,
como marido e
mulher
Na resposta,
Emmanuel, se
reportando ao
pensamento
anterior,
coloca:
- A esta
indagação o
Codificador da
Doutrina
Espírita
formulou a
Questão 695, em
“O Livro dos
Espíritos’ com
as seguintes
palavras: «O
casamento, quer
dizer, a união
permanente de
dois seres, é
contrário à lei
natural?” Os
orientadores dos
fundamentos da
Doutrina
Espírita
responderam com
a seguinte
afirmação: “É um
progresso na
marcha da
Humanidade”. Os
amigos
encarnados no
plano físico com
a tarefa de
sustentar e
zelar pelo
Cristianismo
Redivivo, na
Doutrina
Espírita estão
aptos ao estudo
e conclusões do
texto em exame. [xviii]
Emmanuel
considera que à
frente da vida
eterna, os erros
e acertos dos
irmãos de
qualquer
procedência, nos
domínios do sexo
e do amor, são
analisados pelo
mesmo elevado
gabarito de
Justiça e
Misericórdia.
Isso porque
todos os
assuntos nessa
área da evolução
e da vida se
especificam na
intimidade da
consciência de
cada um. [xix]
A obra de André
Luiz considera
que esses
relacionamentos,
quando fundados
na afeição
sincera (à
semelhança dos
casamentos
heterossexuais)
nada significam
de imoral ou que
devam ser
proscritos. Em
obra
psicografada em
1947, o autor
comenta que erro lamentável
é supor que só a
perfeita
normalidade
sexual,
consoante as
respeitáveis
convenções
humanas, possa
servir de templo
às manifestações
afetivas. O
campo do amor é
infinito em sua
essência e
manifestação.
Insta fugir às
aberrações e aos
excessos;
contudo é
imperioso
reconhecer que
todos os seres
nasceram no
Universo para
amar e serem
amados. [xx]
O autor volta ao
tema, em obra de
1963 colocando
que nos
foros da justiça
Divina, em todos
os distritos da
Espiritualidade
Superior, as
personalidades
humanas tachadas
por anormais são
consideradas tão
carecentes de
proteção quanto
as outras que
desfrutam a
existência
garantida pelas
regalias da
normalidade,
segundo a
opinião dos
homens,
observando-se
que as faltas
cometidas pelas
pessoas de
psiquismo
julgado anormal
são examinadas
no mesmo
critério
aplicado às
culpas de
pessoas tidas
por normais,
notando-se,
ainda, que, em
muitos casos, os
desatinos das
pessoas supostas
normais são
consideravelmente
agravados, por
menos
justificáveis
perante
acomodações e
primazias que
usufruem, no
clima estável da
maioria. [xxi]
Acrescentou, na
mesma obra, que
no mundo
porvindouro os
irmãos
reencarnados,
tanto em
condições
normais quanto
em condições
julgadas
anormais, serão
tratados em pé
de igualdade, no
mesmo nível de
dignidade
humana,
reparando-se as
injustiças
assacadas, há
séculos, contra
aqueles que
renascem
sofrendo
particularidades
anômalas,
porquanto a
perseguição e a
crueldade com
que são batidos
pela sociedade
humana lhes
impedem ou
dificultam a
execução dos
encargos que
trazem à
existência
física, quando
não fazem deles
criaturas
hipócritas, com
necessidade de
mentir
incessantemente
para viver, sob
o Sol que a
Bondade Divina acendeu
em benefício de
todos.
No programa Pinga-fogo,
em 1971, Chico
se manifestou
dizendo que
tanto quanto
acontece com a
maioria que
desfruta de uma
sexualidade dita
normal, aqueles
que são
portadores de
sentimentos de
homossexualidade
ou
bissexualidade
são dignos do
nosso maior
respeito, e
acrescentou que
o comportamento
sexual da
humanidade
sofrerá, no
futuro, revisões
muito grandes.[xxii]
E, finalmente,
Joanna de
Ângelis, em obra
de 2007,
escreveu que o
fato de alguém
amar outrem do
mesmo sexo não
significa
distúrbio ou
desequilíbrio da
personalidade,
mas uma opção
que merece
respeito,
podendo também
ser considerada
como certa
predisposição
fisiológica.
Pode-se
considerar como
uma necessidade
sexual diferente
com objetivos
experimentais no
processo da
evolução. O
amor, no
entanto, será
sempre o
definidor de
rumos em favor
do ser humano em
toda e qualquer
situação em que
o mesmo se
encontre.[xxiii]
[i] Ciência
psicológica,
Michael
Gazzaniga
[ii] Carmita
Abdo sociedade@oglobo.com.br 09/08/2014
[iii] Biologie
de
l’homosexualité,
Jacques
Balthazart
[iv] Princípios
de
neurociência,
Eric
Kandel
[v] Ciência
psicológica,
Michael
Gazzaniga
[vi] A
experiência
homossexual,
Marina
Castañeda
[vii] Ciência
psicológica,
Michael
Gazzaniga
[ix] A
experiência
homossexual,
Marina
Castañeda
[x]
Academia
americana
de
psiquiatria,
arquivos,
2002;
Academia
americana
de
Pediatria,
Pediatrics,
2002
[xi] RE,
janeiro
de 1866
[xii]
Lições
de
sabedoria:
entrevistas
de
Chico/Emmanuel,
à Folha
espírita
de SP
[xiii] Encontro
com a
paz e a
saúde,
cap.8
[xviii] Lições
de
sabedoria:
entrevistas
de
Chico/Emmanuel,
à Folha
espírita
de SP
[xix] Vida
e sexo,
cap 21
[xx] No
mundo
maior,
cap.11
[xxi] Sexo
e
destino,
cap.9,
parte II
[xxiii] Encontro
com a
paz e a
saúde,
cap.8