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por Marcus De Mario

 

Perda de entes queridos


Quem, diante da morte de uma pessoa muita querida, seja um familiar ou um amigo/a, não se perguntou o porquê e não chorou de tristeza, sentindo um vazio na própria alma à frente do corpo inerte e sem vida? Quem não sentiu profunda tristeza ao se deparar nos dias seguintes com a ausência de quem lhe preenchia a vida? O sentimento de perda e de vazio costumam nos acompanhar face à morte, principalmente quando não temos outra perspectiva a não ser o fim de tudo, separação definitiva e irremediável trazida pelo pensamento do nascer, viver e morrer. Entretanto, seja como for que pensemos a vida, é fato que a morte, mais cedo ou mais tarde, nos visitará, ceifando entes queridos, até chegar o nosso próprio momento de encará-la de frente, pois a morte é a única fatalidade da vida humana, ou seja, todos morreremos um dia.

Outro é o sentimento quando nossa visão sobre a vida leva em conta a existência da alma, como nos ensina o Espiritismo. Com a crença da vida futura após a morte, ou seja, que a alma sendo imortal continua viva e independente no mundo espiritual, mantendo sua individualidade, sua inteligência e seus sentimentos, como tinha aqui na Terra, a perspectiva sobre a morte se modifica totalmente, e ela passa a não mais a nos aterrorizar, sendo encarada com naturalidade, afinal a existência terrena é passageira, pois a verdadeira vida é a espiritual, onde a morte não existe.

A visão espírita sobre a morte não exclui o sentimento humano de saudade, sentimento aliás natural, nem impede que vertamos lágrimas na despedida, mas nos conforta e, ao mesmo tempo, nos impele a continuar a nossa vida, pois sabemos que quem partiu de retorno ao mundo espiritual também dará continuidade ao seu viver. A vida pertence a Deus e assim como ele nos dá, ele nos retira, sempre de acordo com sua vontade perfeita e justa, e sempre de acordo com as nossas necessidades evolutivas, pois o acaso não existe.

A vida continua tanto aqui na Terra como no Céu. Os que morrem apenas desencarnam, deixam o corpo orgânico, que é perecível, e passam a viver a vida espiritual através de outro corpo, o perispírito, também conhecido como corpo espiritual. E vão realizar novos aprendizados e executar novos serviços, e vão reencontrar entes queridos que partiram antes deles. Eles também sentem a dor da despedida, também sentem saudade dos que aqui ficaram. Nos acompanham e ficam tristes com a nossa tristeza, e ficam felizes com a nossa alegria de viver. Estamos ligados através do pensamento e do sentimento, daí a importância de termos bons pensamentos sobre o “morto” e endereçarmos a ele nossas preces de saudade e gratidão.

E podemos agora perguntar: será possível a realização de um reencontro? Se for possível, esse reencontro somente acontecerá quando também partirmos de volta à espiritualidade? Sim, esse reencontro é possível, e pode acontecer de várias maneiras, e aqui mesmo, enquanto estamos na caminhada terrena. Como todos somos almas imortais, a primeira possibilidade é o reencontro através do sono, quando nosso corpo repousa e assim vivemos a realidade espiritual, patenteada pelas lembranças dos sonhos. Quem já não sonhou com um ente querido, sendo esse sonho tão vívido que lembramos dos mínimos detalhes e o tomamos como real? A segunda possibilidade está em recebermos a visita dos familiares e amigos espirituais. Embora normalmente nãos os percebamos, podemos sentir sua presença através de sensações como um leve arrepio, um odor agradável que momentaneamente invade o ambiente, uma troca de pensamentos, como se estivéssemos dialogando conosco mesmo, uma lembrança inesperada do ente querido que nos acorre à mente. Também podemos ter esse reencontro via mediunidade, quando aquele que está no mundo espiritual se comunica conosco utilizando a intermediação do médium. Como podemos ver, o reencontro pode acontecer bem antes da nossa própria morte e retorno ao mundo espiritual.

Destacando o sono, quando nos emancipamos parcialmente do corpo, e também a morte, quando nos desligamos definitivamente do corpo, precisamos lembrar que o reencontro somente poderá acontecer dentro de determinadas circunstâncias. Primeiro, o desencarnado deverá estar em condições satisfatórias para poder nos reencontrar, pois após a morte existe um período mais ou menos longo, mais ou menos profundo, de perturbação. Segundo, muitos dos desencarnados precisam receber autorização dos espíritos superiores para realizar essa visita. Terceiro, o reencontro também depende da nossa condição moral e espiritual, e se será benéfico tanto para nós quanto para eles.

De qualquer modo, mesmo dependendo de determinadas condições, o Espiritismo nos assegura, através do raciocínio lógico e do estudo dos fatos, que não existe separação definitiva. O amor é o laço que nos une por todo o universo e em todas as dimensões da vida, e é da lei divina que vivos e mortos possam manter o intercâmbio para fortalecimento dos laços afetivos e do progresso que todos devemos empreender rumo à perfeição a que somos destinados.

Finalmente, para maior consolo e entendimento sobre a perda de entes queridos, passemos a palavra ao benfeitor espiritual Emmanuel, que através da mediunidade de Chico Xavier, nos trouxe o belíssimo texto Eles Vivem:

Ante os que partiram, precedendo-te na Grande Mudança, não permitas que o desespero te ensombre o coração. Eles não morreram. Estão vivos. Compartilham-te as aflições, quando te lastimas sem consolo. Inquietam-se com sua rendição aos desafios da angústia quando te afastas da confiança em Deus.

Eles sabem igualmente quanto dói a separação. Conhecem o pranto da despedida e te recordam as mãos trementes no adeus, conservando na acústica do espírito as palavras que pronunciaste, quando não mais conseguiram responder as interpelações que articulaste no auge da amargura. Não admitas estejam eles indiferentes ao teu caminho ou à tua dor.

Eles percebem quanto te custa a readaptação ao mundo e à existência terrestre sem eles e quase sempre se transformam em cirineus de ternura incessante, amparando-te o trabalho de renovação ou enxugando-te as lágrimas quando tateais a lousa ou lhes enfeitas a memória perguntando porque. Pensa neles com a saudade convertida em oração. As tuas preces de amor representam acordes de esperança e devotamento, despertando-os para visões mais altas na vida.

Quando puderes, realiza por eles as tarefas em que estimariam prosseguir e tê-los-ás contigo por infatigáveis zeladores de teus dias. Se muitos deles são teu refúgio e inspiração nas atividades a que te prendes no mundo, para muitos outros deles és o apoio e o incentivo para a elevação que se lhes faz necessária. Quando te disponhas a buscar os entes queridos domiciliados no Mais Além, não te detenhas na terra que lhes resguarda as últimas relíquias da experiência no plano material…

Contempla os céus em que mundos inumeráveis nos falam da união sem adeus e ouvirás a voz deles no próprio coração, a dizer-te que não caminharam na direção da noite, mas sim ao encontro de Novo Despertar.

Eis que a perda de entes queridos, na visão espírita, não é uma perda, mas uma despedida momentânea, para um reencontro futuro, mesmo que leve tempo, na continuidade da vida imortal.

 

Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante, coordenador no Seara de Luz, grupo de estudo da doutrina espírita, e editor do canal Orientação Espírita no YouTube.


 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita