Perda de entes queridos
Quem, diante da morte de uma pessoa muita querida, seja
um familiar ou um amigo/a, não se perguntou o porquê e
não chorou de tristeza, sentindo um vazio na própria
alma à frente do corpo inerte e sem vida? Quem não
sentiu profunda tristeza ao se deparar nos dias
seguintes com a ausência de quem lhe preenchia a vida? O
sentimento de perda e de vazio costumam nos acompanhar
face à morte, principalmente quando não temos outra
perspectiva a não ser o fim de tudo, separação
definitiva e irremediável trazida pelo pensamento do
nascer, viver e morrer. Entretanto, seja como for que
pensemos a vida, é fato que a morte, mais cedo ou mais
tarde, nos visitará, ceifando entes queridos, até chegar
o nosso próprio momento de encará-la de frente, pois a
morte é a única fatalidade da vida humana, ou seja,
todos morreremos um dia.
Outro é o sentimento quando nossa visão sobre a vida
leva em conta a existência da alma, como nos ensina o
Espiritismo. Com a crença da vida futura após a morte,
ou seja, que a alma sendo imortal continua viva e
independente no mundo espiritual, mantendo sua
individualidade, sua inteligência e seus sentimentos,
como tinha aqui na Terra, a perspectiva sobre a morte se
modifica totalmente, e ela passa a não mais a nos
aterrorizar, sendo encarada com naturalidade, afinal a
existência terrena é passageira, pois a verdadeira vida
é a espiritual, onde a morte não existe.
A visão espírita sobre a morte não exclui o sentimento
humano de saudade, sentimento aliás natural, nem impede
que vertamos lágrimas na despedida, mas nos conforta e,
ao mesmo tempo, nos impele a continuar a nossa vida,
pois sabemos que quem partiu de retorno ao mundo
espiritual também dará continuidade ao seu viver. A vida
pertence a Deus e assim como ele nos dá, ele nos retira,
sempre de acordo com sua vontade perfeita e justa, e
sempre de acordo com as nossas necessidades evolutivas,
pois o acaso não existe.
A vida continua tanto aqui na Terra como no Céu. Os que
morrem apenas desencarnam, deixam o corpo orgânico, que
é perecível, e passam a viver a vida espiritual através
de outro corpo, o perispírito, também conhecido como
corpo espiritual. E vão realizar novos aprendizados e
executar novos serviços, e vão reencontrar entes
queridos que partiram antes deles. Eles também sentem a
dor da despedida, também sentem saudade dos que aqui
ficaram. Nos acompanham e ficam tristes com a nossa
tristeza, e ficam felizes com a nossa alegria de viver.
Estamos ligados através do pensamento e do sentimento,
daí a importância de termos bons pensamentos sobre o
“morto” e endereçarmos a ele nossas preces de saudade e
gratidão.
E podemos agora perguntar: será possível a realização de
um reencontro? Se for possível, esse reencontro somente
acontecerá quando também partirmos de volta à
espiritualidade? Sim, esse reencontro é possível, e pode
acontecer de várias maneiras, e aqui mesmo, enquanto
estamos na caminhada terrena. Como todos somos almas
imortais, a primeira possibilidade é o reencontro
através do sono, quando nosso corpo repousa e assim
vivemos a realidade espiritual, patenteada pelas
lembranças dos sonhos. Quem já não sonhou com um ente
querido, sendo esse sonho tão vívido que lembramos dos
mínimos detalhes e o tomamos como real? A segunda
possibilidade está em recebermos a visita dos familiares
e amigos espirituais. Embora normalmente nãos os
percebamos, podemos sentir sua presença através de
sensações como um leve arrepio, um odor agradável que
momentaneamente invade o ambiente, uma troca de
pensamentos, como se estivéssemos dialogando conosco
mesmo, uma lembrança inesperada do ente querido que nos
acorre à mente. Também podemos ter esse reencontro via
mediunidade, quando aquele que está no mundo espiritual
se comunica conosco utilizando a intermediação do
médium. Como podemos ver, o reencontro pode acontecer
bem antes da nossa própria morte e retorno ao mundo
espiritual.
Destacando o sono, quando nos emancipamos parcialmente
do corpo, e também a morte, quando nos desligamos
definitivamente do corpo, precisamos lembrar que o
reencontro somente poderá acontecer dentro de
determinadas circunstâncias. Primeiro, o desencarnado
deverá estar em condições satisfatórias para poder nos
reencontrar, pois após a morte existe um período mais ou
menos longo, mais ou menos profundo, de perturbação.
Segundo, muitos dos desencarnados precisam receber
autorização dos espíritos superiores para realizar essa
visita. Terceiro, o reencontro também depende da nossa
condição moral e espiritual, e se será benéfico tanto
para nós quanto para eles.
De qualquer modo, mesmo dependendo de determinadas
condições, o Espiritismo nos assegura, através do
raciocínio lógico e do estudo dos fatos, que não existe
separação definitiva. O amor é o laço que nos une por
todo o universo e em todas as dimensões da vida, e é da
lei divina que vivos e mortos possam manter o
intercâmbio para fortalecimento dos laços afetivos e do
progresso que todos devemos empreender rumo à perfeição
a que somos destinados.
Finalmente, para maior consolo e entendimento sobre a
perda de entes queridos, passemos a palavra ao benfeitor
espiritual Emmanuel, que através da mediunidade de Chico
Xavier, nos trouxe o belíssimo texto Eles Vivem:
Ante os que partiram, precedendo-te na Grande Mudança,
não permitas que o desespero te ensombre o coração. Eles
não morreram. Estão vivos. Compartilham-te as aflições,
quando te lastimas sem consolo. Inquietam-se com sua
rendição aos desafios da angústia quando te afastas da
confiança em Deus.
Eles sabem igualmente quanto dói a separação. Conhecem o
pranto da despedida e te recordam as mãos trementes no
adeus, conservando na acústica do espírito as palavras
que pronunciaste, quando não mais conseguiram responder
as interpelações que articulaste no auge da amargura.
Não admitas estejam eles indiferentes ao teu caminho ou
à tua dor.
Eles percebem quanto te custa a readaptação ao mundo e à
existência terrestre sem eles e quase sempre se
transformam em cirineus de ternura incessante,
amparando-te o trabalho de renovação ou enxugando-te as
lágrimas quando tateais a lousa ou lhes enfeitas a
memória perguntando porque. Pensa neles com a saudade
convertida em oração. As tuas preces de amor representam
acordes de esperança e devotamento, despertando-os para
visões mais altas na vida.
Quando puderes, realiza por eles as tarefas em que
estimariam prosseguir e tê-los-ás contigo por
infatigáveis zeladores de teus dias. Se muitos deles são
teu refúgio e inspiração nas atividades a que te prendes
no mundo, para muitos outros deles és o apoio e o
incentivo para a elevação que se lhes faz necessária.
Quando te disponhas a buscar os entes queridos
domiciliados no Mais Além, não te detenhas na terra que
lhes resguarda as últimas relíquias da experiência no
plano material…
Contempla os céus em que mundos inumeráveis nos falam da
união sem adeus e ouvirás a voz deles no próprio
coração, a dizer-te que não caminharam na direção da
noite, mas sim ao encontro de Novo Despertar.
Eis que a perda de entes queridos, na visão espírita,
não é uma perda, mas uma despedida momentânea, para um
reencontro futuro, mesmo que leve tempo, na continuidade
da vida imortal.
Marcus De Mario é escritor, educador,
palestrante, coordenador no Seara de Luz, grupo de
estudo da doutrina espírita, e editor do canal
Orientação Espírita no YouTube.
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