Novos planetas
instigam a ciência na descoberta de vida extraterrestre
“Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede
também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se
assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou
para vos preparar o lugar." João 14:1
A Enciclopédia de planetas extrassolares (exoplanet.eu)
contabilizava em março deste ano aproximadamente 5.300
exoplanetas em torno de 854 sistemas planetários
conhecidos.
Um exoplaneta é o nome dado aos planetas descobertos em
torno de outras estrelas e, em 2019, um Prêmio Nobel de
Física foi concedido a Michael Mayor e Didier Queloz,
por avanços na descoberta, em 1992, dos primeiros
exoplanetas.
Hoje, técnicas de medidas muito precisas permitem
descobrir continuamente novos planetas em outras
estrelas. Esse é o caso da missão espacial TESS (sigla
em inglês para “satélite de busca de exoplanetas por
trânsito”), lançada em 2018.
Só para se ter uma ideia do que isso significa, existem
hoje quase 10 mil novos candidatos na fila de
confirmação como novos planetas e o número de 6 mil
mundos descobertos é uma quantidade ínfima, se comparada
à real quantidade deles em nossa galáxia. O vórtice de
estrelas que abriga o Sol, por exemplo, contém cifras da
ordem de 300 bilhões de estrelas. Ainda que cada uma
delas contivesse apenas um planeta, chegaríamos a
números da ordem de centenas de bilhões.
A vida em novos planetas
Embora a maioria das estrelas possam abrigar
dezenas de planetas, acredita-se que
muitas delas sejam solitárias. Há evidências ainda de
uma incrível quantidade de ‘planetas desgarrados’ a
vagar pelo espaço sozinhos, sem estrelas que os
abriguem.
A técnica de medida utilizada na descoberta de
exoplanetas permitiu a constatação de que grande parte
desses novos planetas se localizam em torno de estrelas
pequenas, menores que o Sol. A ciência moderna
identifica nesses sistemas chances de existência de vida
pelo conceito de ‘zona habitável’. Nessa região
habitável, haveria um ambiente tépido o suficiente em
que a água de um planeta como a Terra se encontraria em
estado líquido.
Qualquer estrela apresenta essa zona habitável, que
poderá estar mais ou menos distante dela, conforme a
variação de sua luminosidade. Mesmo sistemas planetários
peculiares foram associados a zonas habitáveis, como,
por exemplo, o sistema Trappist-1 (1), formado
por sete planetas semelhantes à Terra que cabem todos
dentro da órbita de Mercúrio. Uma vez que a estrela que
os abriga é uma anã-vermelha fria, sua zona habitável
estaria prevista para pelo menos três planetas.
Outros mundos habitados
Quando o Criador resolveu ‘enfeitar’ o céu com as
estrelas, o fez de tal forma que para a mente humana
encarnada sua obra se mostrou incompreensível, pois o
número de centenas de bilhões é tão imenso que sobram
planetas em nossa galáxia para a população inteira da
Terra. Diante desse número, fica evidente que o nosso
mundo não é o único habitado. As ‘muitas moradas’ a que
se refere Jesus é um superlativo que nem conseguimos
conceber.
A ‘pluralidade dos mundos habitados’ é tema abordado no
capítulo 3 de O livro dos espíritos, na questão
55. Já na questão 58, os espíritos desafiam o conceito
de zona habitável, indicando existir fontes
inimagináveis de energia nos mundos muito afastados do
centro estelar. Dessa forma, mesmo planetas
“desgarrados” poderiam abrigar vida. Tal noção aprovada
pelos espíritos não era uma novidade na época de Kardec,
embora contasse com uma maioria esmagadora de
opositores, principalmente religiosos.
A pluralidade dos mundos foi defendida por Giordano
Bruno de Nola (1558-1600) em sua obra De l’infinito,
universo e mondi, (Do infinito, o universo e os
mundos), publicada em 1584. O dramaturgo francês Bernard
Le Bovier De Fontenelle (1657-1757) desenvolveu a tese
em 1686 em seu Entretiens sur la pluralité des mondes (Conversações
sobre a pluralidade dos mundos). Um precursor do
espiritismo, Emanuel Swedenborg (1688-1772), publicou em
1758 De Telluribus in mundo nostro solari (Terras
em nosso sistema solar), livro em que declara ter
entrado em comunicação com espíritos de
extraterrestres.(2) Revelações desse tipo ocorreram
antes da codificação, ainda que sem o conhecimento da
faculdade mediúnica. A razão para essas revelações sobre
outros planetas pode ser encontrada no capítulo 26 de O livro
dos médiuns: como “um meio de vos fixarem as ideias
sobre o futuro”.
Família universal
Independentemente da maneira como a ciência moderna
conceitua a vida em outros planetas, laços de união
ligam os habitantes da Terra aos seres encarnados nesses
mundos. Tais laços se estabelecem primeiramente pela
universalidade do elemento espiritual e seu princípio
evolutivo, cujo reflexo é a escala espírita (ver O
livro dos espíritos, 2ª parte, cap. I). Da mesma
forma como o elemento material obedece a leis
universais, o princípio espiritual é comum a todas as
formas de vida no Universo. Assim, espera-se que as
mesmas leis que regem a evolução na Terra regulem a
evolução em outros mundos, guardadas as diferenças de
densidade e condições de vida para cada um deles. Por
isso, a forma e organização física dos seres em outros
planetas não deve ser muito diferente dos da Terra.
Universalmente, deve prevalecer o aspecto ‘humanoide’ ou
‘em forma de humano’.
Idênticos degraus de ascensão espiritual devem ser
percorridos por eles e nós. Também, as mesmas regras de
comunicação mediúnica são válidas. Assim, a comunicação
com espíritos de outros mundos é possível tanto quanto
com os desencarnados da Terra. As descrições obtidas não
diferem em alcance das descrições dos espíritos, sobre
as cercanias do mundo espiritual terreno, ou seja, elas
"têm por fim o vosso melhoramento moral" conforme o
citado parágrafo em O livro dos médiuns. Embora
restrito em objetivos, esse parece ser o único meio
viável de se comunicar com outros mundos presentemente.
As invasões alienígenas
A questão 172 de O livro dos espíritos também
esclarece que as muitas encarnações se passam em
diferentes mundos e que a encarnação terrena é uma das
mais materiais. Nas questões 176-177, outra consequência
lógica se infere: a ‘escala espírita’ tem reflexos na
escala dos mundos. Os diversos planetas são mais ou
menos avançados conforme o grau maior ou menor de
evolução dos espíritos que nele habitam. Essa escala de
progressão explica o ‘Paradoxo de Fermi’ (3), que
contrapõe a alta probabilidade de vida extraterrestre
com a aparente inexistência de ‘provas materiais’ dela
presentemente. À medida que progride, não só os mundos
se tornam ‘menos materiais’, mas seus interesses
convergem para o desenvolvimento integral de seus
habitantes. Assim, não há por que se temer uma ‘invasão
alienígena’ material. Seres avançados vivem uma
realidade espiritual muito acima das mesquinharias dos
interesses terrenos. Por outro lado, os atrasados não
têm condições de se comunicar ou vir até aqui. A
respeito disso, na obra O consolador (questão 74,
afirma o espírito Emmanuel que “o insulamento da Terra é
um bem inapreciável” muito mais para os habitantes de
outros mundos do que para nós.
Diferentes densidades fluídicas
Além da falta de condições ou disparidade de interesses,
os espíritos também relatam que são diferentes as
densidades fluídicas em cada mundo. Até mesmo o
perispírito não escapa à mudança de mundos, conforme
podemos ler na questão 187 de O livro dos espíritos ou
na questão 75 de O consolador. Porém, essas
diferenças de agregação se aplicam também ao elemento
material. Por conceitos físicos que nos escapam ao
entendimento, a questão 181 de O livro dos espíritos declara
que os corpos em outros mundos são “mais ou menos
materiais, conforme o grau de pureza a que chegaram os
espíritos”. Como o princípio material se verifica
provavelmente no mesmo estado em cada mundo, podemos
inferir a existência de vida em outros planetas em
formas inacessíveis aos sentidos humanos. Isso
significaria que encontrar vida em outros planetas é uma
atividade muito mais difícil pelos meios científicos
convencionais, sempre submetidos às limitações dos
nossos sentidos ordinários.
Na posição em que nos encontramos, é difícil conhecer
mais detalhes sobre outros mundos, em que pese a curva
ascendente das novas descobertas de exoplanetas. Essa
dificuldade se aplica às revelações dos espíritos,
conforme lemos na questão 182 de O livro dos
espíritos “porque nem todos estão em estado de
compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria”.
Porém, podemos estar certos de que outros mundos nos
esperam com possibilidades quase infinitas de
existência. Dentre eles, permanece a Terra como um
planeta subdesenvolvido, não obstante pleno de
oportunidades e já algo distante dos mais atrasados.
Em uma interessante resposta na questão 72 de O
consolador, Emmanuel considera que “no vosso, sem
que haja qualquer sacrifício de vossa parte, tendes
gratuitamente céu azul, fontes fartas, abundância de
oxigênio, árvores amigas, frutos e flores, cor e luz, em
santas possibilidades de trabalho, que o homem há
renegado em todos os tempos”. Nos inferiores à Terra, as
condições de existência são muito mais penosas.
No alvorecer do século 21, a questão da pluralidade dos
mundos foi resolvida em concordância com o ensino dos
espíritos. Quem imaginaria que nossas concepções
tacanhas de ‘céu, inferno e purgatório’ seriam
substituídas pela certeza de muitos ‘bilhões de
planetas’ em lento, mas ascendente processo de
crescimento espiritual!
Mas os espíritos foram além e descreveram a Terra como
um dos inumeráveis degraus em que a alma nutre sua
evolução incessante, até atingir os mundos plenamente
redimidos.
Acrisolados no dia a dia de nossas existências
limitadas, muitas vezes nos esquecemos da realidade
desses muitos mundos que nos mostra de maneira
assombrosa a verdadeira face da justiça divina e de sua
infinita bondade.
Referências:
1 Clique neste Link-1
2 Roy-Di Piazza,
V. (2020). Ghosts from other planets: plurality of
worlds, after life and satire in Emanuel Swedenborg’s De
Telluribus in mundo nostro solari (1758). Annals of
Science, 77(4), 469-494.
3 A. Xavier
(2019). A resposta ao Paradoxo de Fermi; para
acessar, clique
aqui
Físico, mestre e doutor em física pela UNICAMP –
Universidade Estadual de Campinas, Ademir Xavier é
servidor público federal em autarquia vinculada ao
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo
Federal.