Correio mediúnico

Espírito: Hilda

Suicídio e obsessão


Amigos:

Há duas palavras com significação muito diferente na Terra e na Vida Espiritual.

Uma delas é “consciência”, a outra é “responsabilidade”.

No Plano físico, muitas vezes conseguimos sufocar a primeira e iludir a segunda temporariamente, mas, no campo das Verdades Eternas, não será possível adormecer ou enganar uma e outra.

A consciência revela-nos tais quais somos, seja onde for, e a responsabilidade marca-nos a fronte com os nossos merecimentos, culpas ou compromissos.

Enquanto desfrutais o aprendizado na experiência humana, acautelai-vos na conceituação dessas duas forças, porque o pensamento é a energia coagulante de nossas aspirações e desejos. Por isso, não fugiremos aos resultados da própria ação.

Fala-vos humilde companheira que ainda sofre, depois de aflitiva tragédia no suicídio, alguém que conhece de perto a responsabilidade na queda a que se arrojou, infeliz.

O pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que colocamos na casa de nossa mente. De instante a instante, a corrupção se dilata e atraímos em nosso desfavor todos aqueles elementos que se afinam com a nossa invigilância e que se sentem garantidos por nossa incúria, presidindo-nos a perturbação que fatalmente nos arrasta a grande perda.

Obsidiada fui eu, é verdade.

Jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a ideia da fuga, menoscabando todos os favores que a Providência Divina me concedera à estrada primaveril.

Acalentei a ideia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela, fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava mais alto no presente. Esqueci-me dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos familiares, junto dos quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço; olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em minha justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, ignorando deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha restauração espiritual.

Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma. E, nesse passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se reconstituíram, religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo infortúnio empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.

Refiro-me a essa hora terrível e inolvidável, para fortalecer em vosso espírito a responsabilidade do pensamento criado, alimentado, e vivido…

No momento cruel, um raio de luz clareou-me por dentro!… Eu não deveria morrer assim — comecei a pensar. Cabia-me guardar nos ombros, por título de glória, a cruz que o Senhor me confiara!…

Imensa repugnância pela deserção, de súbito, iluminou-me a alma; entretanto, na penumbra do quarto, rostos sinistros se materializaram de leve e braços hirsutos me rodearam. Vozes inesquecíveis e cavernosas infundiram-me estranho pavor, exclamando: — “É preciso beber.”

A bênção do socorro celeste fora como que abafada por todas as correntes de treva que eu mesma nutrira. Debalde minha mão trêmula ansiou desfazer-se do líquido fatal. Esvaíram-se-me as forças. Senti-me desequilibrada e, embora sustentasse a consciência do meu gesto, sorvi, quase sem querer, a poção com que meu corpo se rendeu ao sepulcro.

Em verdade, eu era obsidiada… Sofria a perseguição de adversários, residentes na sombra, mas perseguição que eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade mental.

Corporificara, imprevidente, todas as forças que, na extrema hora, me facilitaram a queda. Conservando a ideia lamentável, acabei lamentando a minha própria ruína. Em razão disso, padeci, depois do túmulo, todas as humilhações que podem rebaixar a mulher indefesa…

Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos amigos encarnados a noção de “responsabilidade” e “consciência”, no campo das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total da prova em que vim a desfalecer.

É por essa razão que terminamos as nossas frases despretensiosas, lembrando a vós outros que o pensamento deplorável, na vida íntima, é assim como o detrito que guardamos irrefletidamente em nosso templo doméstico.

Se somos atenciosos para com a higiene exterior, usando desinfetantes e instrumento de limpeza, assegurando a saúde e a tranquilidade, movimentemos também o trabalho, a bondade e o estudo, contra a dominação do pensamento infeliz, logo que o pensamento infeliz se esboce levemente na tela de nossos desejos imanifestos.

Cumpramos nossas obrigações, visitemos o amigo enfermo, atendamos a criança desventurada, procuremos a execução de nossas tarefas, busquemos o convívio do livro nobre, tentemos a conversação robusta e edificante, refugiemo-nos no santuário da prece e devotemo-nos à felicidade do próximo, instalando-nos sob a tutela do bem e agindo sempre contra o pensamento insensato, porque, através dele, a obsessão se insinua, a perseguição se materializa, e, quando acordamos, diante da própria responsabilidade, muitas vezes a nossa consciência chora tarde demais. (*)

 

(*) Autor desta mensagem, o Espírito da jovem Hilda, suicida em fase de reajuste, transmitiu-a na noite de 15 de março de 1956, ofertando-nos nela interessantes apontamentos em torno de sua situação pós-morte.


Do livro 
Vozes do Grande Além, mensagem recebida psicofonicamente pelo médium Francisco Cândido Xavier.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita