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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 

A variável espiritual


Recentemente, andando pelos mares da internet, encontrei alguns vídeos da palestrante radicada em Brasília Mayse Braga. Já a conhecia de eventos, mas passei a me deter mais nas palestras disponíveis e gostei muito do que vi, e creio que seja interessante destacar um aspecto da abordagem dessa palestrante que merece uma reflexão mais apurada, sob pena de cometer injustiças ao ignorar outros aspectos igualmente positivos.

São palestras muito didáticas e leves, mas o que me chamou mesmo a atenção foi um traço de trazer para as questões cotidianas a dimensão espiritual. Cada situação é sempre vista com a lembrança de que ali naqueles dilemas está um espírito imortal reencarnado em processo de evolução, e isso traz não só uma visão bem didática, como consoladora no trato das questões mais áridas.

Pode parecer óbvio essa abordagem, mas não é. Ainda se vê muito apartado o conhecimento espírita da resolução das questões concretas, e se discute o que se deve fazer sem se lembrar do que se é realmente, em termos espirituais. O caminho mais fácil é fazer essa discussão apartada, pois se mantêm os mesmos paradigmas de sempre, com uma etiqueta superficial de Espiritismo.

O que nos faz espíritas não é dizer que acredita no aspecto A ou B. É pautar a nossa vida por essa crença viva, nos seus pilares, que são poucos, mas relevantes. É lembrar que não estamos aqui pela primeira vez; que essas pessoas que estão conosco têm relações pretéritas com a nossa história; que somos acompanhados por outras entidades similares a nós, em outro plano; e que a vida continua, aqui e no infinito do universo.

Parece que não, mas esses pressupostos mudam a interpretação dos fatos mais cotidianos, as decisões mais complexas. Os dramas humanos assumem outra dimensão e o olhar espírita se faz na compreensão de cada situação em uma visão mais ampliada. Ler um simples jornal sob a ótica espírita, por si só, é bem diferente.

Importante que o conhecimento espírita seja algo presente na nossa vida, não em uma visão ascética, monástica, isolada do mundo, e sim como uma ferramenta para proceder nesse período encarnado, que é relevante, sem perder de vista que estamos aqui de passagem.

Não queremos só viver na subcultura espírita e sim que esse conhecimento seja uma ponte para mediar as nossas relações com o mundo, à luz de pressupostos que para nós fazem sentido. Não é ser espírita para viver no mundo dos espíritas. É para enfrentar o real, vivendo no mundo sem ser do mundo.

Nesse sentido, importa que nas equações de nossa vida coloquemos a variável espiritual, que muda o jogo de forças quando considerada. Será que as decisões que tomamos em nossa vida, a forma que reagimos às alegrias e aos dissabores, levam em consideração as verdades da doutrina espírita?

Não podemos é ler livros espíritas, estudar Kardec, ouvir palestras e pautar a nossa vida por um materialismo arraigado ou por um cristianismo de um Deus punitivo que, se contrariado, nos manda ao inferno. Esse é um dos aspectos libertadores da doutrina espírita, ao nos permitir viver sob novos pressupostos, não só mais razoáveis, mas também fundamentados em aspectos mais lógicos e que fazem sentido. 

Kardec foi um revolucionário. Jesus também. Quebraram paradigmas e inauguraram novos olhares em relação ao mundo que nos cerca, visível e invisível.

Cabe a nós trazer essa revolução para o nosso interior, com um olhar coerente com o nosso falar e, consequentemente, com o nosso agir.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita