Brasil
por Marinei Ferreira Rezende

Ano 18 - N° 881 - 21 de Julho de 2024

 

Theodoro José Papa, um dos grandes vultos espíritas do Brasil

 

Há longos anos, vindo das belas e longínquas plagas no extremo sul da romântica e histórica Itália, da pequenina Rizzicone, da brava Réggio Calabria, onde nasceu em 4 de julho de 1907, por aqui chegou, no verdor dos seus 7 anos e no alvorecer de sua existência,

Theodoro José Papa, que mais tarde se revelaria um digno trabalhador, de
coração franco e aberto e alma límpida e generosa.

Membro de tradicional família italiana, extremamente católica, desde os primeiros anos de sua infância, na cidade pequena da Calábria, ele via sua mãe cair por terra, em acessos, e com vizinhos e parentes a socorrê-la com vinagre e tapas no rosto até recuperar os sentidos. Seu pai já estava no Brasil desde 1912, onde desempenhava em Araraquara (SP) o cargo de engenheiro agrônomo da Prefeitura.

Em 1914 a família veio para o Brasil e o menino, como dissemos, contava apenas 7 anos. A família instalou residência na Morada do Sol, onde durante quase 4 anos assistiram às mesmas cenas: quedas, gritos, socorros e atendimento médico à sua mãe, sem resultado algum.

Por questões profissionais, a família transferiu residência em 1918 para Ribeirão Preto (SP), onde seu pai, a convite do prefeito, Dr. Marcelo Bittencourt, passou a exercer as mesmas funções de agrônomo, passando a família a residir numa casa no alto da rua Tamandaré, anexo à Escola Profissional, pois o Horto em que seu pai iria trabalhar abrangia uma grande área, inclusive o Bosque Municipal e parte do Morro de São Bento.

Vivia-se então o pós-guerra e Ribeirão Preto iniciava seus grandes passos com a riqueza cafeeira transbordante, escrevendo belas páginas de sua opulenta e radiosa história. Largos horizontes abriam-se à frente dos  olhos contemplativos de Theodoro José Papa e seus já iluminados ideais.

Ao lado de sua casa estava a Chácara Olímpia, onde residia a família do Sr. Lino Engrácia, com o qual logo a família fez amizade, e Theodoro brincava com o filho menor da família, mais tarde o Dr. João Engrácia de Oliveira.

Passados 3 meses, que foram cobertos de alegria, a família julgou que a genitora estivesse curada, devido à simples mudança de ares. Mas o engano foi total, e um dia que não se apagou da memória da família, principalmente dos filhos, que, apesar de estarem na faixa de 9 a 12 anos, viram a mãe correr, gritar e chorar pela rua do Horto, com cerca de 12 funcionários que procuravam acalmá-la, sem resultado. Avisado, o médico logo chegou de charrete com o marido. Aplicou-lhe injeção e ministrou remédios. Após algum tempo, ela se acalmou, voltando tudo à serenidade.

Mas, com a saída do médico, aproximou-se um funcionário conhecido do expediente do Horto que disse ao marido: “Sr. Papa, essa doença de sua esposa não é para médicos”. E como médium auditivo e vidente, que era, passou a relatar e a explicar toda aquela fenomenologia, que o marido aceitou de momento, pedindo orientação sobre aquele fenômeno e como deveria proceder. A orientação foi clara, indicando-se um médium de nome José Perujo e sua esposa, D. Fraquita, com o que se iniciou de imediato o  tratamento com passes e água fluidificada.

Além dos passes, os pais de Theodoro começaram a fazer reuniões mediúnicas em sua própria casa, durante os anos de 1919 a 1922, desenvolvendo a genitora excelente mediunidade de incorporação, por meio da qual foram, com o tempo,  transmitidas as mais belas comunicações. Embora sendo analfabeta, certo dia manifestou-se por seu intermédio o espírito de um Bispo católico, que repetiu uma missa em latim perfeito, idioma que seu marido conhecia muito bem.

Com o desenvolvimento e a prática da mediunidade, desapareceram os acessos e todas as suas consequências. Agora, sim, ela estava realmente curada e em sua casa, na rua Tamandaré, durante seis anos, todos assistiram, em plena luz do dia, aos mais belos fenômenos mediúnicos, razão por que toda a família passou a dedicar-se à nobre causa da codificação kardequiana.

Aos 15 anos, Theodoro José Papa empregou-se na Casa Bardaro, que tinha a maior oficina de serralheria, funilaria e instalações hidráulicas da cidade, tornando-se logo um perito oficial nessa laboriosa atividade. Em 1926, com 19 anos, estabeleceu-se por conta própria na Rua Saldanha Marinho com o comércio de louças e ferragens, continuando, porém, nos fundos da casa comercial com a oficina em que continuou o trabalho no qual se tornara perito oficial, exercendo com a mais alta proficiência o honrado mister.

Em 1933 casou-se com a jovem Albertina Vanini, de peregrinas virtudes, de cujo feliz e frutuoso consórcio matrimonial uno e duradouro advieram os filhos Vera Lúcia, Marcos Vinícius e Elisabete. Em 1968, encerrando todas as atividades materiais, passou a dedicar-se somente às atividades religiosas e assistenciais, fazendo-o com humanismo admirável, tornando-se afetuoso líder espírita, que distribuía a mancheias a bondade e o amor que brotavam, abundantemente, de seu coração, de todos conhecido.

Há muitos aspectos da vida de José Papa que não podem ser esquecidos e que não só marcaram sua personalidade como a adornaram sua devoção aos Evangelhos de Jesus, procurando segui-los na prática da bondade, do amor, da fraternidade, da humildade e da pregação, como evangelizador convicto e convincente, iluminado pelo ideal de fazer o bem.

Sua produção intelectual, formada por um conjunto de obras coroadas de êxito e admiração, é a seguinte:


Cenas de Nossa Vida - Teatro;

Luz na Ribalta - Teatro;

Contando à Nova Geração a História do Espiritismo em Ribeirão Preto;

Fatos e Fenômenos Mediúnicos;

Rumo a Damasco;

O Batismo;

Fenômenos Mediúnicos nas Velhas Escrituras;

A Viga Mestra;

Poemas;

Mais Poemas;

Outros Poemas;

Meus Poemas “Os últimos?”;

Inspiração (Homenagem a Chico Xavier).


Além dos livros que escreveu, Theodoro participou também da vida jornalística, tendo colaborado durante muitos anos com os Jornais O Diário, Diário da Manhã, A Cidade, Diário de Notícias e o Jornal espírita Verdade e Luz.

No campo assistencial, foi ele o idealizador e fundador da Creche Vovó Meca, no Conjunto Habitacional Geraldo Correa de Carvalho. Exerceu a presidência da mantenedora da “Creche Vovó Meca” e de outros departamentos, a Unificação Kardecista de Ribeirão Preto, de 1937 a 2004.

No campo das atividades culturais, destacam-se: em 1949, a fundação do Ginásio Espírita Apóstolo Paulo, que funcionou até 1972; a fundação e coordenação do Teatro Experimental Eurípedes Barsanulfo, da Unificação Kardecista de Ribeirão Preto; a elaboração de diversas peças teatrais, com que foi registrado na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Tesoureiro da Federação do Teatro Amador da Alta Mogiana em 1964-1965, colaborou com Bassano Vacarini na realização do III Festival do Teatro Amador do Estado de São Paulo.

Theodoro José Papa concedeu inúmeras entrevistas aos meios de comunicação de sua cidade e de outros estados sobre assuntos de interesse da comunidade, levadas ao ar pelas emissoras de rádio e televisão e outras publicadas em revistas e jornais locais.

Membro da Academia Ribeirão-pretana de Letras e da Ordem dos Velhos Jornalistas de Ribeirão Preto, não podemos esquecer o orador fluente, vibrante, o conferencista eloquente, sincero, espontâneo que foi Theodoro José Papa, que recebeu Cartão de Prata da Prefeitura Municipal em 30 de junho de 1993, como homenagem às pessoas que fizeram história em Ribeirão Preto.

Citado na História de Ribeirão Preto, no dia 17 de dezembro de 1967, quando ele contava 60 anos de idade, a Câmara Municipal de Ribeirão Preto concedeu-lhe a maior e mais importante láurea que poderia alguém receber: o título de Cidadão Honorário do município.

Theodoro José Papa faleceu em 26 de março de 2004, na sua residência da rua Visconde do Rio Branco, cercado de familiares e amigos, deixando como sugestão estas últimas palavras, que foram transmitidas por sua filha Vera Lúcia: “Deixem de lado tudo que for ruim, fiquem com tudo de bom que vocês aprenderam”.


Fontes
:

Anuário Espírita de 2000

Unificação Kardecista de Ribeirão Preto



 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita