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por Temi Mary F. Simionato

 

Gratidão


A gratidão é filha do nosso amadurecimento psicológico e enriquece de paz e de alegria todos que a cultivam.

É quando nos damos conta de que viver é experienciar gratidão por tudo quanto nos acontece e aproveitar a oportunidade de vivenciá-la. A nossa existência terrena é um hino de louvor, portanto, de gratidão. É vibração, de harmonia, presente em todo o Universo.

Isso tudo nos leva a entender que a gratidão é filha da maturidade alcançada mediante a razão, que nos coloca acima do instinto e assim nos proporciona equilíbrio.

A psicologia da gratidão torna-se um instrumento hábil quando vivenciada em todos os instantes da nossa existência terrena. Sendo usada como roteiro de segurança para a conquista da realidade. Porém, na nossa imaturidade emocional acreditamos que a gratidão é uma retribuição pelo bem ou pelos favores que recebemos.

No entanto, ele é um sentimento mais profundo e significativo, e é grandioso porque nos traz satisfação, pois todo aquele que é grato, que compreende seu significado real, tem grande saúde física, emocional e psíquica, porquanto sente a alegria de viver compartilhando de todas as coisas.

Enquanto a ingratidão é filha da soberba, quando não do orgulho ou da prepotência, que são os remanescentes do instinto, vivendo inquietos, perturbando-se e desequilibrando os que estão ao seu redor e, dessa forma, acabam cultivando as enfermidades da agressividade, da violência ou da autocompaixão, entregando-se aos conflitos e transferindo mecanismos de responsabilidades. Impossilitados de compreender a finalidade existencial à busca de um sentido para a autorrealização, fazem-se omissos, até mesmo no que diz respeito aos seus insucessos, e entregam-se a condutas estranhas para esconder seus conflitos.

Todavia, devemos respeitar os ingratos tanto quanto os amigos gratos. Cabe a cada um de nós compreender que a criatura ingrata ainda se encontra em um patamar evolutivo em que o egoísmo se sobrepõe à humildade e ao sentimento de gratidão e fraternidade.

Assim podemos lembrar-nos de Jesus que, ao ser injuriado e desprezado, jamais repreendeu os ingratos de forma julgadora. Ele mostrou e exemplificou o caminho a seguir. Por isso, precisamos em nossa jornada ter sempre Jesus como Modelo e Guia para tomarmos as melhores atitudes.

Temos o livre-arbítrio e, caso recebamos a ingratidão, oremos e agradeçamos a Deus a oportunidade de sermos instrumentos e tenhamos o entendimento de que esse irmão ainda não alcançou a compreensão dos ensinamentos trazidos pelo Mestre Nazareno.

Se Deus permitiu que fôssemos pagos com a ingratidão foi para que tivéssemos vontade firme, perseverança, bom ânimo para continuarmos a praticar o bem desinteressadamente, pois somos todos devedores uns dos outros, seja nos pequenos como nos grandes lances da existência. Desta maneira, façamos o bem a todos: amigos, desafetos, companheiros, estranhos, conhecidos. Assim, até os mais endurecidos ficarão comovidos pelo exemplo do bem que praticarmos.

Bendizer os ingratos e orar por eles – tal é o nosso dever, porquanto eles se encontram em piores condições, mais do que supomos, visto que neles ainda o orgulho e o egoísmo estão ativos. Na verdade, o nosso sentido existencial é de conquistas internas aplicadas em favor da gratificação, ou seja, à medida que recebemos devemos doar mais e mais. É quando alcançamos o objetivo do nosso significado imortal; é quando entendemos com discernimento lúcido, abençoando tudo e todos, agradecendo a oportunidade de uma nova reencarnação.

É um estado interior que se agiganta, contrário à reclamação – que é perda de tempo. É quando perdemos a oportunidade de fazer o bem, pois a reclamação, a lamúria não auxiliam nem resolvem problemas, só os tornam mais difíceis.

Vamos exercitar o silêncio interior e exterior quando a vontade de reclamar visitar nossa mente. Na reclamação nossas dificuldades, pedras, obstáculos se tornam maiores do que realmente são, enquanto que na gratidão temos e sentimos a espiritualidade amiga a nos envolver, principalmente diante das adversidades, e assim ampliamos nossos horizontes para o bem, para o belo, para o bom e para o útil.

Qualquer coisa pode ser motivo para reclamar ou agradecer. O que fará a diferença em nossa jornada serão as nossas escolhas. Exatamente por isso a importância de mudarmos a sintonia da reclamação para a sintonia do agradecimento.

Em O Evangelho segundo O Espiritismo, no capítulo 28, item 28, temos o seguinte esclarecimento: “…que esquecemos facilmente do bem, para de preferência lembrarmo-nos do que nos aflige. Se registrássemos, diariamente, os benefícios de que somos objetos sem o havermos pedido, quase sempre ficaríamos espantados por termos recebido tantos e tantos que se apagaram da nossa memória com a nossa ingratidão”.

Muitas pessoas perguntam como podemos render graças a Deus pelas dores que sacodem a nossa caminhada. Basta-nos leve reflexão para que venhamos a reconhecer a função renovadora do sofrimento. Mesmo que não entendamos de imediato, vamos receber a provação que nos chega como sendo o melhor que necessitamos agora em favor do amanhã.

Mesmo que lágrimas dolorosas nos lavem a alma, sejamos gratos, pois Deus está à frente de tudo sempre. Os acontecimentos que dizem respeito ao mal têm como objetivo nos educar e instruir. Portanto, como nos lembra o apóstolo Paulo de Tarso, na primeira Carta aos Tassalonissences, 5:18: “Em tudo dai graças, porque está na vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.

O Universo é uma corrente de amor em movimento incessante; dessa forma, recordemos que ninguém é tão sacrificado pelo dever que não possa, de quando em quando, levantar os olhos em sinal de agradecimento com uma prece, uma saudação afetuosa, uma flor, um bilhete amistoso, conseguindo com esse pequeno gesto apagar o fogaréu da discórdia ou dissipar os rochedos das sombras.

Por mais dura que seja a estrada, aprendamos a sorrir e a abençoar para que a alegria siga adiante, incentivando corações e as mãos que operam a expansão da bondade divina.

Francisco de Assis com sua nobre humildade para vivenciar o amor maior afirmou, em certa ocasião, que a gratidão é das mais difíceis moedas a se ofertar na vida. Por isso ele sempre se preocupava em ser grato a tudo e a todos. Agradecia ao irmão Sol por aquecê-lo e por proporcionar vida à Terra; ao irmão Vento por acariciá-lo nos dias de calor; à irmã Lua, por enfeitar as noites de céu claro; ao irmão sofrimento, porque lhe permitia introspeções e aprendizados na prisão do corpo físico.

O exemplo de Francisco de Assis nos remete a profundas reflexões nestes dias em que preponderam o egoísmo, a violência, a crueldade…

No tumulto do dia a dia e dos compromissos, não paramos para perceber as oportunidades que a vida nos oferece e, egoístas que ainda somos, esquecemo-nos de agradecer a experiência da nossa reencarnação e também pelas nossas conquistas e benesses. Mas, por que também não podemos agradecer pelo mal que nos aconteceu? Pelas pedras e obstáculos do caminho? Pelas dores que chegam?

Os benefícios da gratidão são inúmeros, gerando paz íntima e predispondo-nos a colaborar com Deus em Sua obra.

Ampliemos, portanto, a nossa resignação, pois já compreendemos que os desígnios divinos são justos, sempre nos impulsionando para frente, ensinando-nos a superar as desavenças, as mágoas, vivendo bem melhor e semeando uma existência mais feliz nos corações daqueles que partilham conosco a jornada.

Emmanuel, em Ato de Gratidão, nos envolve: “Agradeço-te, Oh! Pai! o amor com que me envolves. Agradeço-te a vida, o pão, a luz, o lar e os amigos queridos que me estendem as mãos. Mas agradeço, ainda, a luz do sofrimento que me faz caminhar. Pela dor que me envias, sê bendito, Meu Deus! Agradeço, Senhor!”


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita