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por Paulo Hayashi Jr.

 

Considerações sobre o primeiro milagre de Jesus


A saga de Nosso Senhor Jesus Cristo na Terra é um legítimo presente dos céus como inspiração e exemplo para se comportar frente aos desafios e tentações do mundo material. Tê-lo como referência significa seguir o caminho seguro para a verdade e a vida que edifica e traz os bons resultados esperados (João 14:6). Caminho este difícil, mas não impossível, em especial quando se tem o conhecimento e também, a vontade para fazer o que é certo. Apesar das passagens do mestre Nazareno serem bem conhecidas do público em geral, em especial as parábolas e o Sermão dos Montes, destaca-se como significativo também, o primeiro milagre sobre a transformação da água em vinho nas bodas de Caná (João 2:1-11).  Além da possibilidade de interpretação literal, da bebida água em vinho, pode-se também explorar uma outra versão metafórica. É o ser humano que, se obedecer a todas as recomendações do mestre Nazareno, será transformado de água para vinho, ou seja, algo agradável e sofisticado, que alegra e traz saúde.

O ser humano tem muito de água no início da existência material e sofre transformações ao longo do tempo. O indivíduo, com a idade, começa a sofrer desidratação e a sua média de porcentagem de água que compõe o corpo físico diminui significativamente. Seguem alguns números[1]: “Entre 0 e 2 anos de idade é de cerca de 75%; entre 10 e 15 anos diminui para 65%; e por aí vai até que o organismo de pessoas idosas, com mais de 60 anos, seja mais ou menos 50% de água”.  Ou seja, o tempo passa e cada vez menos água temos em nossa composição. Uma curiosidade é que o planeta Terra tem em sua composição 75% de água também[2].

Além de sofrermos esta desidratação e dependendo da conduta, do estilo de vida e dos resultados obtidos, podemos ter melhorado como pessoas, tal como vinhos que estarão prontos para o casamento. Em uma outra passagem sobre bodas na bíblia, Jesus Cristo (Lucas, 14:8) recomenda que sejamos humildes e não presunçosos de sentar nas primeiras filas, pois convidados mais ilustres podem chegar para o casamento. O mestre recomenda sentar então na última fileira, pois “qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Lucas 14:11). Além do uso da humildade, para o ser humano não se “vinagrar”, é preciso limpar o “odre” também. Ou seja, a mente e o coração das possíveis sujeiras que podem contaminar o mosto e deturpar os resultados. Em preciosa história contada pelo espírito Neio Lúcio[3], em psicografia de Francisco Cândido Xavier, Sara, a esposa de Benjamin, pergunta para Jesus como iniciar-se no Reino dos Céus, uma vez que ainda sente presa à tradição e por isso, tem dificuldades para perdoar.  Como Sara e seu esposo se dedicam à criação de cabras, o mestre pergunta para ela: “Como procedes para conservar o leite inalterado e puro no benefício doméstico?”. Sara prontamente responde observando a necessidade de cuidadosa limpeza nos vasilhames para não azedar o precioso líquido. E o mestre então complementa: “Assim é revelação celeste no coração humano”. Se o coração estiver impuro, o conhecimento superior acaba sendo distorcido. Por fim, finaliza Jesus com a seguinte passagem: “O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na poeira da estrada, é gota lamacenta. Não se esqueça dessa verdade simples e clara da natureza”.

Então, podemos destacar a humildade para acatar as sugestões do mestre e o esforço para limpar o nosso interior como ações necessárias para envelhecer de forma a nos tornarmos como ‘vinhos’. Ou seja, pessoas que amadureceram bem como o tempo e não vinagraram na mágoa, no ressentimento e em outras expressões baixas. Indivíduos que se ‘vinagram’ com o tempo, tornam-se críticas demais, frustrados demais, ranzinzas demais, que temos dificuldades de conviver.  Por isso, como bem expressou Sara: “a Boa-Nova aconselha, acima de tudo, o amor e o perdão”.

Talvez, mais do que nunca, precisamos aprender que o perdão é caminho sine qua non para que as fagulhas de amor não se percam com o tempo. Perdoar é tarefa necessária para que o progresso interno venha. Sem o perdão, não há o amor universal, tampouco a própria paz de consciência. Enfim, com o perdão, o ser humano pode se apaziguar e a se dulcificar como legítimo vinho que atende a todos os requisitos organolépticos e de espírito para que então se diga: é uma verdadeira obra-prima de Deus. [4]


 

[3] Neio Lúcio. Jesus no Lar. Brasília: FEB, 2019, pés 14-16.

[4] Em homenagem aos meus queridos genitores, Paulo Higashi e Ioko Ikefuti Hayashi, que já se encontram na pátria espiritual.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita