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por Ricardo Orestes Forni

 

A mala pesada


“As expiações são impostas, irrecusáveis, por constituírem a medicação eficaz, a cirurgia corretiva para o mal que se agravou.” 
– Joanna de Ângelis


A família ia realizar uma viagem para fora do país. Todos preparavam as suas malas com muita alegria. Aquela seria a primeira vez e a expectativa das novidades a serem vividas trazia uma euforia muito grande. Entrando no quarto dos filhos para supervisionar a arrumação das malas a fim de que nada fosse esquecido, o pai verificou que uma filha adolescente montava uma bagagem muito pesada. Muitos aeroportos de outros países eram grandes. Acontecia de ter que se arrastar as malas durante distâncias consideráveis. O cansaço da viagem juntamente com o peso da bagagem imporia grandes esforços mesmo às pessoas jovens. Com a finalidade de poupar a filha desse incômodo, o pai alertou:

– Minha filha. Diminua as coisas que está levando porque as malas terão que ser transportadas por distâncias grandes dentro de determinados aeroportos. Você irá se cansar após longas horas de viagem. Agora tudo é festa, mas quando tiver que puxar a bagagem de um lado para outro verá que não é tão fácil assim.

– Ora, papai! – retrucou a adolescente eufórica pela viagem – o senhor não entende que as mulheres precisam combinar uma série de coisas? Sapatos, roupas variadas, bolsas etc. Como levar pouca coisa se a moda impõe a nós, mulheres, determinadas normas que não existem para os homens?

– Apenas estou lhe avisando que puxar de um lado para outro a bagagem pesada irá cansá-la. Leve vestimentas mais simples e em menor quantidade. Você vai entender o que estou falando quando passar suas mãos na alça e puxar a sua mala.

– Desculpe, papai. Não vou me vestir fora da moda. Prefiro fazer força.

– Você é quem sabe. Avisada você foi.

E como o pai previu, ocorreu. As muitas horas de viagem aérea para chegar até o destino. A má acomodação do corpo na poltrona da aeronave. O sono mal dormido impunha cansaço ao corpo, mesmo dos mais jovens. O aeroporto muito grande exigia o deslocamento de uma região distante de outra para novo embarque e a jovem começou a reclamar.

– Papai, estou cansada! Não dá para o senhor levar um pouco a minha mala?

– Não lhe avisei, minha filha? Vou ajudá-la um pouco porque também tenho minhas bagagens e sou mais velho do que você. Infelizmente terá que levar tudo o que trouxe, apesar de alertada, por sua própria conta pela maior parte do caminho. Da próxima vez, escute as palavras do seu pai.


***


Caro leitor, amiga leitora, você é capaz de identificar nas figuras acima a nossa pessoa?

Quem seria o pai que procurou alertar a filha quanto ao peso da bagagem, senão os Espíritos amigos quando nos avisam sobre as consequências dos nossos erros?

Quem seria a mala pesada que temos que carregar pelos caminhos da jornada física, senão a nossas expiações que vamos ajuntando e colocando dentro da mala de nossa consciência culpada?

Quem seria a jovem teimosa, senão cada um de nós quando troca o correto pelo erro mesmo quando alertado pela voz da consciência?

Quando “aterrissamos” no aeroporto da Terra através da reencarnação, quanto mais pesada a mala dos erros, tanto mais esforço teremos que desenvolver para podermos chegar ao local certo que a Providência Divina determinou para cada um de nós.

Vamos aliviar o peso da mala para a próxima reencarnação? Vamos colocar nessa mala as boas escolhas que transformam nossa mala espiritual em objeto leve de ser transportado?

Muita gente engana-se ao acreditar que os Espíritos carregarão nossa mala de imperfeições. Eles não farão isso. Muitas pessoas se decepcionam injustamente com a Doutrina Espírita porque vão ao Centro Espírita e os problemas continuam. Lógico que continuem. Os problemas são construções nossas e não dos Espíritos. A eles compete dar sugestões para que carreguemos nossas malas até esvaziá-las dos erros que aí colocamos livremente. Auxiliam-nos através das sugestões para que nossa escolha caia sobre o certo e afastemo-nos do erro. O erro é o peso desnecessário que ajuntamos e que teremos que transportar em nossa caminhada terrestre. Jesus foi claro quando afirmou que aqueles que desejassem segui-Lo que tomasse a sua própria cruz e o fizesse. Jesus não se propôs a carregar a nossa cruz, aquela cruz que confeccionamos através dos erros livremente cometidos.

Que tal começarmos hoje mesmo a nos “vestir” conforme recomenda a nossa consciência e não como recomenda a “moda” dos interesses do mundo? Dessa forma estaremos preparando uma bagagem mais leve para as futuras reencarnações.
  
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita