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por José Reis Chaves

A reencarnação na História ocidental

A doutrina das vidas sucessivas ou reencarnação é chamada também de Palingenesia, de duas palavras gregas, Palin, de novo, gênese, nascimento. Ela foi formulada desde a aurora da civilização na Índia. Encontra-se nos Vedas: " Da mesma forma que nos desfazemos de uma roupa usada para pegar uma nova, assim a alma se descarta de um corpo usado para se revestir de novos corpos."

Pitágoras foi o primeiro a introduzir na Grécia a doutrina dos renascimentos da alma que tinha conhecido em suas viagens no Egito e na Pérsia. Platão adotou a ideia pitagoriana da Palingenesia: "É certo que os vivos nascem dos mortos; que as almas dos mortos renascem ainda." (Phèdre)

A escola neoplatônica da Alexandria ensinava a reencarnação precisando a vantagem desta evolução progressiva para as condições da alma. Plotino, o primeiro de todos, a revê várias vezes no curso de suas Eneidas. É um dogma, disse ele, muita antigo e universalmente ensinado que, se a alma comete faltas, é condenada a expiá-las submetendo-se a punições nos infernos tenebrosos, depois do que é admitida a voltar em um novo corpo para recomeçar suas provas. "A providência de Deus, escreveu Plotino, assegura a cada um de nós a sorte que lhe convém e que é harmônica com seus antecedentes, segundo suas existências sucessivas." Jâmblico acrescenta: "Assim as penas que nos afligem são frequentemente castigos de um pecado do qual a alma se rende culpada em sua vida anterior. Algumas vezes, a razão do castigo nos é ocultada por Deus, mas nós não devemos duvidar de sua justiça."

Entre os romanos que adquiriram a maior parte de seus conhecimentos na Grécia, Virgílio exprime claramente a ideia da Palingenesia nestes termos: "Todas as almas, ainda que por milhares de anos tenham retornado à roda desta existência (no Elísios ou no Tártaro), Deus as chama em numerosos enxames ao rio Léthé, a fim de que, privadas de recordações, revejam os lugares superiores e convexos e comecem a querer voltar ao corpo."

Os Gauleses acreditavam nas vidas sucessivas. César escreveu na Guerra de Gales: "Uma crença que eles buscam sempre estabelecer, é que as almas não perecem de forma alguma e que após a morte elas passam de um corpo para outro."

Em suas obras, o historiador Joseph fez profissão de sua fé na reencarnação; relata que essa era a crença dos Fariseus. O Pe. Didon o confirma nestes termos, em sus "Vida de Jesus: "Então crê-se, entre o povo (judeu) e mesmo nas escolas, no retorno à vida da alma dos mortos." O sábio beneditino Dom Calmet se exprime assim em seus Comentário, sobre essa passagem das Escrituras: "Vários doutores judeus creem que as almas de Adão, Abraão, Phinées, animaram sucessivamente vários homens de sua nação." O Talmud ensina que a alma de Abel passou ao corpo de Seth e mais tarde ao de Moisés. O Zoar diz: "Todas as almas são submetidas às provas da transmigração" e a Cabala: "São os renascimentos que permitem aos homens se purificar."

Os judeus acreditavam que o retorno de Elias sobre a Terra devia preceder o do Messias. Isto porque, no Evangelho, quando seus discípulos perguntaram a Jesus se ele voltaria, Ele respondeu afirmativamente dizendo: "Elias já veio e não o reconheceram, mas eles lhe têm feito tudo o que havia sido predito." E seus discípulos compreenderam, diz o Evangelista, que era de João que lhes falava.

Um dia, Jesus perguntou a seus discípulos o que diziam dele no povo. Eles responderam: "Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros Jeremias, ou qualquer um dos antigos profetas que vieram ao mundo." Jesus, longe de os dissuadir, como se eles estivessem falando coisas imaginárias, se contenta em acrescentar: " E vós, quem acreditam que sou?" Quando encontram o cego de nascença, seus discípulos lhe perguntam se esse homem nasceu cego por causa dos pecados de seus pais ou dos pecados que ele tinha cometido antes de nascer. Eles acreditavam então na possibilidade da reencarnação e na possível preexistência da alma. Sua linguagem fazia mesmo crer que essa ideia estava difundida entre o povo, e Jesus parecia autorizá-la, em vez de combatê-la; Ele fala das numerosas moradas de que se compõe a casa do Pai.

Lemos no Evangelho de João: "Havia um homem entre os fariseus, chamado Nicodemos, um dos principais judeus. Esse homem veio de noite encontrar Jesus e lhe disse: "Mestre, sabemos que tu és um doutor vindo da parte de deus, porque ninguém poderia fazer os milagres que tu fazes se Deus não estivesse com ele." Jesus lhe respondeu: "Em verdade, eu te digo que se um homem não nascer da água e do espírito. ele não pode entrar no reino de Deus. Aquele que nasceu da carne é carne, e aquele que nasceu do espírito é espírito. Não se espante de nada disso que te digo; é preciso que vós nasçais de novo. O vento sopra onde quer, e tu ouves o ruído, mas não sabes donde ele vem nem para onde ele vai. O mesmo ocorre de todo homem que nasceu do espírito."

Entre os Hebreus, a água representava a essência da matéria, e quando Jesus adianta que o homem deve renascer da água e do espírito, não é como se dissesse que deve renascer da matéria e do espírito, quer dizer em corpo e em alma?

De todos os Padres da Igreja, Orígenes é o que afirmou de forma mais precisa, em numerosas passagens de seu Princípios (livro 1°), a reencarnação ou renascimento das almas. Sua tese é esta: "A justiça do Criador deve aparecer em todas as coisas." São Jerônimo, por seu lado, afirma que a transmigração das almas fazia parte dos ensinamentos revelados a um certo número de iniciados. Em suas Confissões, santo Agostinho nos diz: "Minha infância não sucedeu a uma outro idoso morto antes dela?... Mesmo antes desse tempo, tinha já estado em qualquer parte? Fui alguma pessoa qualquer?"

Ainda no século quinze, o cardeal Nicolas de Cusa "sustentava em pleno Vaticano a teoria da pluralidade das existências da alma e dos mundos habitados, não somente com o assentimento, mas com os encorajamentos sucessivos de dois papas: Eugênio IV e Nicolau V." Malgrado esta exceção, a doutrina das vidas sucessivas permaneceu velada por toda a duração da idade média, porque estava severamente proscrita pela Igreja.

É preciso esperar os tempos modernos e a liberdade de pensar e discutir para que isso reaparecesse. Leibnitz, estudando o problema da origem da alma, admitiu que o princípio inteligente, sob a forma de mônada, tinha podido se desenvolver no reino animal. Numerosos pensadores se reuniram à reencarnação: Dupont de Nemours, Charles Bonnet, Lessing, Constant Savy, Pierre Leroux, Fourier, Jean Reynaud. A doutrina das vidas sucessivas foi vulgarizada para o grande público por autores como Balzac, Théophile Gautier, George Sand e Victor Hugo."              


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita