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por Maria de Lurdes Duarte

 

Mansidão precisa-se


Nos tempos conturbados da atualidade terrena, a máxima de Jesus “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra (Mateus 5:4)”, deveria, mais do que nunca, estar presente nos nossos pensamentos, atitudes e comportamentos.

Quem são estes “mansos” de que Jesus nos falou? Será fácil fazer parte deste grupo de mansos?

Somos invadidos, a todo o instante, através dos meios de comunicação e redes sociais, por notícias de acontecimentos, de impacto mundial ou, simplesmente, de cariz individual, familiar ou afetando pequenas comunidades, mas de igual gravidade, que atestam o grau de agitação, stress, ansiedade doentia e descontrole emocional a que a humanidade terrena se entrega. Estes sentimentos descontrolados, restos da animalidade que nos caraterizou (ou continua a caraterizar) ao longo dos milénios, estão a gerar uma violência exacerbada, para além de todos os limites que poderiam se aceites e compreendidos numa época em que atingimos um nível de civilização e intelectualidade, que em nada deveria compactuar com tal atraso moral.

Podemos, até, considerar que a agressividade e a violência se alastram mais rapidamente do que uma pandemia. E isso não deixa de ser verdade, se não aprendermos, de uma vez por todas, a controlar os nossos instintos, reações e emoções. Não pensemos que estamos imunes a este “vírus” destruidor da nossa humanidade; não pensemos que é algo que só afeta os outros. Estamos, todos nós, uns mais dos que outros, evidentemente, mas todos nós, em maior ou menor grau, muito longe da perfeição, da angelitude de Jesus, o manso e meigo Jesus, que tanto queremos seguir, mas que nos custa ainda tanto a imitar. Não esqueçamos o “orai e vigiai” (Mateus 26: 41), com que o Mestre nos alertou. É esse orai e vigiai que nos falta, demasiadas vezes. Esquecemo-nos de olhar dentro de nós mesmos e de analisar os instintos que ainda nos comandam as atitudes e os sentimentos que ainda nutrimos, tanto em relação aos outros como, até, em relação a nós mesmos. Basta ver, como nos agitamos perante as notícias de alguma violência ou crime cometido, quando pensamos com isso estar em defesa da vítima, mas, no fundo, estamos apenas a desejar a aniquilação do carrasco ou criminoso. Se usarmos o Mestre como modelo, verificamos que Ele nunca se indignou contra o pecador, apenas contra o pecado praticado. Amou incondicionalmente bons e maus, sem nunca deixar de recriminar o erro, mas ajudando aquele que errou, perdoando, compreendendo, aconselhando à mudança de atitude.

Como estamos longe desse desejo sincero de tentar eliminar o crime sem desejar a aniquilação do criminoso! Porque não nos lembramos da dura realidade de que, muitas vezes, o erro perante o qual hoje tanto nos indignamos é, precisamente, aquele que já praticámos, e que, mesmo hoje, ainda nos atormenta intimamente? Como diz Jonana de Ângelis, pela mediunidade de Divaldo Franco no livro … Até ao fim dos tempos, “Os homens não abdicam facilmente dos seus hábitos doentios e perversos (…)”.

Violência gera violência. Quando alimentamos sentimentos de violência e vingança, nem que seja apenas em pensamento, estamos a sintonizar com forças espirituais que se alimentam desses mesmos sentimentos e que têm, por não estarem presos a um corpo de carne, mais oportunidade de pôr em prática aquilo que nós mesmos não fazemos. Por tudo isso, o nosso mundo terreno ainda se encontra envolto numa atmosférica espiritual deletéria, que respiramos e nos impulsiona à prática de todo o género de males. Então, como limpamos a atmosfera espiritual da Terra? “Orai e vigiai”, repetimos. Orando, para nos ligarmos às forças do Bem, que hão de amparar os nossos propósitos de mansidão, e vigiando aquilo que subjaz no nosso íntimo e limpando os nossos pensamentos.

Voltando à questão colocada acima: quem são os mansos de que falava Jesus? Quem são esses que herdarão a Terra? Mansos são os que tentam alimentar apenas bons sentimentos, os que já se esforçam por controlar as suas emoções, os que tentam agir com justiça, mas não se cristalizam em sentimentos de vingança e retribuição do mal, os que não cultivam rancor e mágoa, mas permanecem de mente aberta ao perdão. Richard Simonetti sintetiza bem esta ideia de “ser manso”, no seu livro Para Viver a Grande Mensagem, reflexões acerca do Espiritismo no dia a dia: “O indivíduo manso é tão somente alguém que conseguiu superar os impulsos agressivos que caraterizam o estágio evolutivo em que nos encontramos, tornando-se senhor de si mesmo”.

É por isso que Jesus oferece a herança terrena aos mansos. O momento espiritual que a Terra atravessa, de ascensão de Mundo de Expiação e Provas a Mundo de Regeneração, é um momento de separação do trigo e do joio de que Jesus falava (Mateus 13:30). Na Terra, após esta fase de transição, ficarão apenas os que forem compatíveis com esse Mundo de Regeneração: são os herdeiros que continuarão a reencarnar por aqui, por sintonizar com um mundo em que o crime e a violência serão apenas memórias antigas de um tempo sem retorno.

Todos estamos cansados de milénios de agitação, guerra, criminalidade e animosidades pessoais e entre povos, que dores tão profundas têm causado. Todos ansiamos pela Paz. O Mundo de Regeneração será pautado pela Paz, o Equilíbrio e a Harmonia, em que poderemos restabelecer forças para novas conquistas na senda da evolução. Entretanto, para que nos aproximemos cada vez mais dessa era de Regeneração, precisamos de pessoas que cultivem a mansidão no coração e nas atitudes. Precisamos de cultivar a paciência, que Joanna de Ângelis, no livro Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, define como a ciência da paz. Paciência com as nossas próprias imperfeições, sem esquecer de tentar limá-las; paciência com as imperfeições dos outros, de modo a que não nos invada o instinto de revidação, tão contrário à mansidão preconizada pelo Mestre.

Usemos Jesus como modelo pois, “Imperturbável, Ele é o modelo sem igual para a autoiluminação da criatura, para o encontro consigo mesmo, para a luta contra o mal que existe no imo do ser humano, sem cujo concurso ninguém chegará ao Pai” (Joanna de Ângelis, … Até ao fim dos tempos).

 

Bibliografia:

Evangelho segundo Mateus

Richard Simonetti; Para Viver a Grande Mensagem, reflexões acerca do Espiritismo no dia a dia

Joanna de Ângelis; mediunidade de Divaldo Franco; …Até ao fim dos tempos

Joanna de Ângelis; mediunidade de Divaldo Franco; Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda

 

Maria de Lurdes Duarte reside em Arouca, Portugal, e é gestora do blog "Caminhos da imortalidade", que o leitor pode acessar clicando neste link: 
Caminhos da imortalidade


 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita