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por Marcus De Mario

 

O controle divino


Diante de tantos desmandos por parte dos homens, de tantas dificuldades existenciais, de tantos males sociais, de tantas violências, muitas pessoas passam a acreditar que, se Deus existe, ele está omisso, deve ter largado o comando, que ele não está mais presente no fluxo da vida, pois acontecem coisas que são difíceis de acreditar que estejam sob o seu controle, ainda mais diante do livre arbítrio que possuímos, e que parece agir aleatoriamente, sem que qualquer regra possa explicar, muito menos a afirmativa de que nada acontece sem a permissão de Deus, sem que ele saiba.

Para entendermos todos esses acontecimentos e, simultaneamente, a presença de Deus, lembremos que o Espiritismo, que é doutrina espiritualista, tem por princípio a existência de Deus, apresentando-o como inteligência suprema do universo e causa primária de todas as coisas. Se ele é a inteligência suprema, isso quer dizer que nada há além dele, ou igual a ele. Deus é único e soberano, portanto, sua lei é também única e soberana, o que, por consequência, leva ao entendimento que Deus é perfeito, não pode ser diferente, sendo, portanto, sua lei igualmente perfeita, regendo a vida tanto no aspecto espiritual quanto material. Não pode ser diferente, pois nesse caso ele não seria Deus, não seria a maior força do universo, o criador de tudo o que existe, e teríamos que procurar outro ser como princípio de tudo, o que não é lógico, não é racional.

Ora, do fato de não conhecermos Deus em sua plenitude, e termos pouco aprendizado sobre os mecanismos da lei divina, isso não quer dizer que essa lei, representando-o em todos os cantos do universo, não controle tudo. Do fato de não sabermos explicar como acontece determinado fenômeno químico, físico, biológico, psicológico ou mediúnico, por falta de pesquisa e estudo, ou mesmo por falta de conhecimento que ainda não conseguimos alcançar, isso não quer dizer que o fenômeno não seja regido por leis, não obedeça determinados parâmetros, embora em sua aparência nos leve a pensar em ação aleatória, em acaso, que o Espiritismo afirma não existirem.

Para bem julgar uma coisa é preciso estudar com profundidade, e mais do que isso, é preciso ter a percepção da nossa realidade espiritual, pois não somos o corpo biológico, nem esta é a nossa única existência, proclamando o Espiritismo a realidade da reencarnação. Como podemos entender Deus com o olhar exclusivamente material sobre ele? Como Deus não é humano, não é um ser que possamos imaginar, e muito menos se reveste de um ancião de barba branca sentado num trono entre nuvens e anjos, figuração muito acanhada e humanizada do Ser Supremo do Universo, quem somos nós, imperfeitos do ponto de vista intelectual e moral, para julgá-lo e pretender sancionar que Deus não está no controle da vida?

Precisamos compreender, e é o Espiritismo que racionalmente nos explica, que o livre arbítrio, a liberdade que temos de pensar, escolher e agir, faz parte da lei divina, que pode ser entendida como lei de consequências, ou lei de causa e efeito, ou ainda lei de ação e reação, onde sempre assumimos as consequências das nossas escolhas e ações. Isso pode acontecer ainda no decorrer desta atual existência terrena, ou no depois da morte, retornando ao mundo espiritual, e muitas vezes ainda na próxima encarnação, pois as existências são solidárias entre si.

Mesmo o mal, que seja o mais hediondo, ele não acontece sem a permissão de Deus. Perguntar-se-á como Deus pode permitir o mal se ele, como é anunciado pelas religiões e também pela Doutrina Espírita, se ele é amor. Como o amor sublime pode permitir que seres que ele ama, se matem com crueldade? Não há nada de estranho nisso quando entendemos o livre arbítrio como faculdade do Espírito para realizar os aprendizados necessários à sua evolução, portanto, erros e acertos fazem parte, mas tudo é arquivado na própria consciência, exigindo mais à frente reparação, ou colheita da felicidade, dependendo se nossa escolha foi pelo bem ou pelo mal.

E o futuro, o que Deus nos reserva? A lei divina é lei de progresso, destinando-nos a um dia alcançarmos a perfeição intelectual e moral, portanto, com o tempo a própria humanidade terrena irá se depurar pela consequente depuração daqueles que a formam, passando o planeta Terra de mundo de expiações e provas para mundo de regeneração, ou seja, hoje o mal predomina, mas amanhã a predominância será do bem.

A presença de Deus, para quem estuda com profundidade o Espiritismo e sai do ponto de vista exclusivamente terreno, é inquestionável. Sim, Deus está no controle, e sua lei, de modo imperceptível para nós, tudo rege, inclusive o uso que fazemos do livre arbítrio, sem que com isso percamos a liberdade, pois é da lei que a cada um seja sempre dado segundo suas obras.

 

Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo online de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui mais de 35 livros publicados.
 
 

     
     

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