Estimule no seu filho os dons criativos

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem... O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido! Rubem Alves

Meninazinha, eu tinha muita vontade de aprender a tocar piano. Filha de agricultores, vivia em uma cidade muito pequena no interior do Paraná. Não consegui, e creio que pela falta de conservatórios ou professores.

Com dez anos, já vivendo em uma cidade maior, fui devidamente matriculada em um tradicional conservatório para eu ter as desejadas aulas de piano.

Que tristeza! Desde as primeiras aulas, experimentei com a professora episódios de vergonha. No primeiro encontro, ela juntou minhas mãos e observando-as com rigor, uma cara muito feia, afirmou: “você não tem mãos de pianista.”

Ora… dali em diante foi só vexame. Mais envergonhada do que humilhada, passei a tocar as teclas e a pedir desculpa a cada instante, incapaz de cumprir os comandos secos da professora, sendo classificada por ela de “menina muito insegura”.

Pouco a pouco fui perdendo o interesse pelo piano, provavelmente por entender, guiada pela insensibilidade cruel da professora, que eu não possuía dons criativos para a música. Ou seja, segundo o olhar dela, zero talento.

Insisto com os pais e os professores: Não usem a vergonha como “ferramenta pedagógica”. Ela serve, na verdade, como uma obstrução ao talento, à alegria que motiva o ser humano para aprender e treinar conhecimentos novos e adquiridos. É péssimo crescer e recordar, de um modo doloroso, as “feridas de criatividade”.

O que a vergonha produz nas crianças? Medo. E, por isso, ela, a vergonha, atrofia a confiança, a motivação, o espírito curioso.
Hoje, adulta, sei que não seria uma pianista talentosa de profissão. Mas poderia tocar minhas músicas preferidas ou, ainda, usar o piano como um excelente recurso terapêutico…

Quer estimular com bom senso e delicadeza o gosto pelo aprender no seu filho pequeno? Incentive arte, música… Reaja positivamente aos pequenos progressos dele!  Sim, toda criança tem direito a explorar seus dons criativos. E isso também ajudará muito na construção da sua autoestima e autoconfiança.

Notinha

Nossa cultura (educacional/escolar) está muito impregnada de vergonha. E você? Viveu na infância algum episódio de vergonha?