Retrato de Chico Xavier
Nas questões 918 e 919 de O livro dos espíritos encontramos
uma substanciosa explanação filosófica de Santo
Agostinho em resposta aos questionamentos de Allan
Kardec sobre os caracteres do homem de bem e o
autoconhecimento. Disse esse grande teólogo dos
primeiros séculos do Cristianismo que o verdadeiro homem
de bem é aquele que pratica a lei divina com pureza e
integridade, guiando-se pela justiça, pelo amor e pela
caridade. Ele interroga a própria consciência,
analisando se cumpriu seus deveres, se evitou o mal e se
fez todo o bem ao seu alcance. Dotado de profundo
sentimento de fraternidade, trata a todos como irmãos,
independentemente de raça ou crença. Se possui riquezas
ou autoridade, vê-as como depósitos confiados a si por
Deus e as emprega para o bem, sem orgulho ou vaidade.
Indulgente com as fraquezas alheias e avesso à vingança,
ele perdoa as ofensas e respeita os direitos de seus
semelhantes, conforme deseja que os seus próprios sejam
respeitados.
Para alcançar esse estado moral elevado, Santo Agostinho
ensina que o meio mais eficaz de progresso é o
autoconhecimento, resumido na máxima: “Conhece-te a ti
mesmo”. Ele recomenda um exame de consciência diário, no
qual cada um deve revisar suas ações, indagando se feriu
alguém, se faltou a algum dever ou se realizou algo que
desaprovaria em outra pessoa. Esse processo rigoroso,
acompanhado da prece e da orientação espiritual,
fortalece a alma e ilumina os aspectos que precisam ser
corrigidos. Para evitar ilusões, deve-se considerar a
opinião sincera dos outros, até mesmo dos adversários,
que podem revelar falhas que o amor-próprio encobre.
A reflexão sobre os próprios atos permite medir a soma
do bem e do mal existente em nós. Muitas faltas passam
despercebidas, mas o exame criterioso, formulado em
perguntas diretas, impede que escapemos à verdade. Assim
como dedicamos esforços para garantir conforto material
na velhice, vale a pena empregar igual diligência para
conquistar a felicidade eterna. O objetivo do
Espiritismo, segundo Santo Agostinho, é justamente
dissipar as dúvidas sobre o futuro espiritual e
proporcionar ensinamentos claros para o aperfeiçoamento
moral de cada um. Desse contexto salutar extraímos o
poema:
O HOMEM DE BEM
A Chico Xavier, onde estiver.
O verdadeiro homem de bem
Pratica sempre a lei de amor:
Não faz o mal nunca a ninguém
E se acaso o fere alguém,
Desculpa logo o ofensor.
Passa em revista a consciência
E a interroga ao fim do dia:
Se não agiu com negligência;
Se deu motivo à impaciência;
Se fez o bem que deveria.
É por querer se melhorar
Que ele exercita a introspecção:
Suas ações busca pesar
E se no fim o bem triunfar,
Repousa em paz o coração.
Ouve os amigos com presteza
E com respeito o inimigo:
Este lhe aponta uma fraqueza,
Talvez até com mais franqueza
Do que o faria o próprio amigo.
Trabalha em prol da sociedade,
Sem distinção de crença ou cor:
Se Deus lhe dá autoridade,
Usa o poder com humanidade,
Tudo reporta ao Criador.
Iluminar-se interiormente
É a grande meta que o entretém:
Mas o amor que tem presente
No coração puro e na mente
É que faz dele homem de bem.
Mário Frigéri é poeta, escritor,
autor e youtuber com a mente e o coração voltados para o
esplendor do Evangelho e da Doutrina Espírita.
Campinas-SP.