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por Mário Frigéri

 

Retrato de Chico Xavier


Nas questões 918 e 919 de O livro dos espíritos encontramos uma substanciosa explanação filosófica de Santo Agostinho em resposta aos questionamentos de Allan Kardec sobre os caracteres do homem de bem e o autoconhecimento. Disse esse grande teólogo dos primeiros séculos do Cristianismo que o verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei divina com pureza e integridade, guiando-se pela justiça, pelo amor e pela caridade. Ele interroga a própria consciência, analisando se cumpriu seus deveres, se evitou o mal e se fez todo o bem ao seu alcance. Dotado de profundo sentimento de fraternidade, trata a todos como irmãos, independentemente de raça ou crença. Se possui riquezas ou autoridade, vê-as como depósitos confiados a si por Deus e as emprega para o bem, sem orgulho ou vaidade. Indulgente com as fraquezas alheias e avesso à vingança, ele perdoa as ofensas e respeita os direitos de seus semelhantes, conforme deseja que os seus próprios sejam respeitados.

Para alcançar esse estado moral elevado, Santo Agostinho ensina que o meio mais eficaz de progresso é o autoconhecimento, resumido na máxima: “Conhece-te a ti mesmo”. Ele recomenda um exame de consciência diário, no qual cada um deve revisar suas ações, indagando se feriu alguém, se faltou a algum dever ou se realizou algo que desaprovaria em outra pessoa. Esse processo rigoroso, acompanhado da prece e da orientação espiritual, fortalece a alma e ilumina os aspectos que precisam ser corrigidos. Para evitar ilusões, deve-se considerar a opinião sincera dos outros, até mesmo dos adversários, que podem revelar falhas que o amor-próprio encobre.

A reflexão sobre os próprios atos permite medir a soma do bem e do mal existente em nós. Muitas faltas passam despercebidas, mas o exame criterioso, formulado em perguntas diretas, impede que escapemos à verdade. Assim como dedicamos esforços para garantir conforto material na velhice, vale a pena empregar igual diligência para conquistar a felicidade eterna. O objetivo do Espiritismo, segundo Santo Agostinho, é justamente dissipar as dúvidas sobre o futuro espiritual e proporcionar ensinamentos claros para o aperfeiçoamento moral de cada um. Desse contexto salutar extraímos o poema:


O HOMEM DE BEM

 

A Chico Xavier, onde estiver.


O verdadeiro homem de bem

Pratica sempre a lei de amor:

Não faz o mal nunca a ninguém

E se acaso o fere alguém,

Desculpa logo o ofensor.

 

Passa em revista a consciência

E a interroga ao fim do dia:

Se não agiu com negligência;

Se deu motivo à impaciência;

Se fez o bem que deveria.

 

É por querer se melhorar

Que ele exercita a introspecção:

Suas ações busca pesar

E se no fim o bem triunfar,

Repousa em paz o coração.

 

Ouve os amigos com presteza

E com respeito o inimigo:

Este lhe aponta uma fraqueza,

Talvez até com mais franqueza

Do que o faria o próprio amigo.

 

Trabalha em prol da sociedade,

Sem distinção de crença ou cor:

Se Deus lhe dá autoridade,

Usa o poder com humanidade,

Tudo reporta ao Criador.

 

Iluminar-se interiormente

É a grande meta que o entretém:

Mas o amor que tem presente

No coração puro e na mente

É que faz dele homem de bem.


Mário Frigéri é poeta, escritor, autor e youtuber com a mente e o coração voltados para o esplendor do Evangelho e da Doutrina Espírita. Campinas-SP.

 
  
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita