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por Jorge Gomes

 

Revista científica centrada na história da psiquiatria realça Kardec

 

Cinco dias antes da celebração do 156.º aniversário da desencarnação de Allan Kardec (3 de outubro de 1804 - 31 de março de 1869) a revista científica History of
Psychiatry (História da Psiquiatria) publicou online um artigo de 19 páginas intitulado "Allan Kardec’s theories and methods to investigate the nature of psychical experiences" (As teorias e métodos de Kardec para investigar a natureza das experiências psíquicas), de Marcelo Gulão Pimentel, Klaus Chaves Alberto e Alexander Moreira-Almeida.

Este trabalho de morosa e cuidada investigação destaca a contribuição incontornável do trabalho de Allan Kardec para um melhor conhecimento do psiquismo humano.

Para quem estuda a doutrina espírita não é novo o facto de encontrarmos no trabalho de Kardec luzes imorredouras no que toca ao esclarecimento de questões ligadas à natureza humana, à mediunidade, à filosofia e moral imutável que se desprende dos factos, inspirada na claridade dos ensinamentos de Jesus de Nazaré.

Porém, para a maior parte dos cientistas, Kardec tem sido também um desconhecido. Se chegaram a ouvir falar dele, muitos iludem-se e pensam que ele teria criado uma seita a partir de teorias que imaginou. Curiosamente, o percurso de Kardec foi distante dessa suposição fundada na ignorância.

Kardec teve sempre em vista os factos observados e testados. Esteve sempre convicto de que todos os fenómenos, sem exceção, se processam através do funcionamento de leis da natureza, logo não há sobrenatural nem milagres. Estas palavras costumam ser aplicadas pelas pessoas a fenómenos cujo funcionamento ainda não é conhecido numa dada época, mas, a seu tempo, tudo vem a ser explicado de forma experimental. Nesse sentido, as hipóteses que foi colocando com vista a compreender o que verificava experimentalmente foram sendo avaliadas diante dos resultados e, portanto, preteridas ou selecionadas.

Outro ponto interessante. A talhe de foice encontramos no artigo a referência de que Kardec não foi de modo algum um mero coletor de respostas obtidas através do transe mediúnico de vários médiuns. Na verdade, foi muito mais do que isso, como é normal num investigador que se foca num objeto de estudo e o processa através de uma metodologia adequada.

Estes e outros tópicos são explicados de forma competente pelos autores do artigo em pauta.

Uma vez lido o texto multidisciplinar destes investigadores – Marcelo é professor e historiador, Klaus é professor na Escola de Arquitetura e Urbanismo de Juiz de Fora e Alexander é um notável investigador e professor de Psiquiatria na universidade da mesma cidade brasileira – conclui-se que o mesmo constitui uma síntese muito bem fundamentada na obra de Kardec e muito bem escrita.

O artigo que apresentam, e que promete trazer desenvolvimentos, restaura, diante da comunidade científica, o merecido estatuto de Kardec enquanto investigador inalienável da história da ciência, da qual, por preconceito, muitos tentaram apagar.

Para os menos familiarizados com o tema, deve ser dito que o artigo começa por referir que Kardec foi um educador francês que se interessou pelo estudo dos fenómenos mediúnicos no século XIX. A partir daí teve necessidade de desenvolver uma metodologia para investigar esses fenómenos, que se baseava sobretudo na observação, na experimentação e na comparação de diferentes relatos. Kardec também propôs uma teoria para explicar os fenómenos mediúnicos, que se baseou na existência de espíritos (pessoas com corpo espiritual e cujo corpo material morreu) que se comunicam com os “vivos” através de médiuns.

O leitor depara com um resumo do percurso palmilhado por Kardec na produção das teorias e métodos que divulgou na sua obra. Os autores concluem que Kardec foi um pioneiro na investigação dos fenómenos psíquicos e que o seu trabalho continua a ser relevante hoje em dia.

Este trabalho é um recurso muito útil para quem está interessado em aprender mais sobre as teorias e métodos de Allan Kardec para investigar a natureza das experiências psíquicas.

Como é do conhecimento geral, são numerosas as obras publicadas de Allan Kardec, mas as mais conhecidas são “O Livro dos Espíritos” (1857), “O Livro dos Médiuns” (1861), “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (1864), “O Céu e o Inferno” (1865) e “A Génese” (1868).

Embora na época de Kardec a língua francesa fosse o meio nobre de divulgar cultura e conhecimento científico, desde meados do século XX que o Inglês configura um processo bem mais universal de comunicação de ciência.

Os leitores encontram o resumo do artigo em língua inglesa neste link: https://encr.pw/GeRi0

 

Jorge Gomes reside na cidade do Porto, Portugal.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita