Revista científica centrada na história
da psiquiatria realça Kardec
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Cinco dias antes da celebração do 156.º
aniversário da desencarnação de Allan Kardec (3
de outubro de 1804 - 31 de março de 1869) a
revista científica History of
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Psychiatry (História da Psiquiatria)
publicou online um artigo de 19 páginas
intitulado "Allan Kardec’s theories and
methods to investigate the nature of psychical
experiences" (As teorias e métodos de Kardec
para investigar a natureza das experiências
psíquicas), de Marcelo Gulão Pimentel, Klaus
Chaves Alberto e Alexander Moreira-Almeida. |
Este trabalho de morosa e cuidada investigação destaca a
contribuição incontornável do trabalho de Allan Kardec
para um melhor conhecimento do psiquismo humano.
Para quem estuda a doutrina espírita não é novo o facto
de encontrarmos no trabalho de Kardec luzes imorredouras
no que toca ao esclarecimento de questões ligadas à
natureza humana, à mediunidade, à filosofia e moral
imutável que se desprende dos factos, inspirada na
claridade dos ensinamentos de Jesus de Nazaré.
Porém, para a maior parte dos cientistas, Kardec tem
sido também um desconhecido. Se chegaram a ouvir falar
dele, muitos iludem-se e pensam que ele teria criado uma
seita a partir de teorias que imaginou. Curiosamente, o
percurso de Kardec foi distante dessa suposição fundada
na ignorância.
Kardec teve sempre em vista os factos observados e
testados. Esteve sempre convicto de que todos os
fenómenos, sem exceção, se processam através do
funcionamento de leis da natureza, logo não há
sobrenatural nem milagres. Estas palavras costumam ser
aplicadas pelas pessoas a fenómenos cujo funcionamento
ainda não é conhecido numa dada época, mas, a seu tempo,
tudo vem a ser explicado de forma experimental. Nesse
sentido, as hipóteses que foi colocando com vista a
compreender o que verificava experimentalmente foram
sendo avaliadas diante dos resultados e, portanto,
preteridas ou selecionadas.
Outro ponto interessante. A talhe de foice encontramos
no artigo a referência de que Kardec não foi de modo
algum um mero coletor de respostas obtidas através do
transe mediúnico de vários médiuns. Na verdade, foi
muito mais do que isso, como é normal num investigador
que se foca num objeto de estudo e o processa através de
uma metodologia adequada.
Estes e outros tópicos são explicados de forma
competente pelos autores do artigo em pauta.
Uma vez lido o texto multidisciplinar destes
investigadores – Marcelo é professor e historiador,
Klaus é professor na Escola de Arquitetura e Urbanismo
de Juiz de Fora e Alexander é um notável investigador e
professor de Psiquiatria na universidade da mesma cidade
brasileira – conclui-se que o mesmo constitui uma
síntese muito bem fundamentada na obra de Kardec e muito
bem escrita.
O artigo que apresentam, e que promete trazer
desenvolvimentos, restaura, diante da comunidade
científica, o merecido estatuto de Kardec enquanto
investigador inalienável da história da ciência, da
qual, por preconceito, muitos tentaram apagar.
Para os menos familiarizados com o tema, deve ser dito
que o artigo começa por referir que Kardec foi um
educador francês que se interessou pelo estudo dos
fenómenos mediúnicos no século XIX. A partir daí teve
necessidade de desenvolver uma metodologia para
investigar esses fenómenos, que se baseava sobretudo na
observação, na experimentação e na comparação de
diferentes relatos. Kardec também propôs uma teoria para
explicar os fenómenos mediúnicos, que se baseou na
existência de espíritos (pessoas com corpo espiritual e
cujo corpo material morreu) que se comunicam com os
“vivos” através de médiuns.
O leitor depara com um resumo do percurso palmilhado por
Kardec na produção das teorias e métodos que divulgou na
sua obra. Os autores concluem que Kardec foi um pioneiro
na investigação dos fenómenos psíquicos e que o seu
trabalho continua a ser relevante hoje em dia.
Este trabalho é um recurso muito útil para quem está
interessado em aprender mais sobre as teorias e métodos
de Allan Kardec para investigar a natureza das
experiências psíquicas.
Como é do conhecimento geral, são numerosas as obras
publicadas de Allan Kardec, mas as mais conhecidas são
“O Livro dos Espíritos” (1857), “O Livro dos Médiuns”
(1861), “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (1864), “O
Céu e o Inferno” (1865) e “A Génese” (1868).
Embora na época de Kardec a língua francesa fosse o meio
nobre de divulgar cultura e conhecimento científico,
desde meados do século XX que o Inglês configura um
processo bem mais universal de comunicação de ciência.
Os leitores encontram o resumo do artigo em língua
inglesa neste link: https://encr.pw/GeRi0
Jorge Gomes reside na cidade do Porto,
Portugal.
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