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por Roni Ricardo Osorio Maia

 

Karla Alexeievna


Apresentamos uma síntese do conto suprarreferido, constante do livro Sublimação, da autoria espiritual de Leon Tolstói, psicografado por Yvonne A. Pereira. Assim. recuaremos no tempo e voltaremos ao século XIX, nos tempos da Rússia Imperial. O jovem Alex Mikhailovich Melvinski foi o narrador da história de sua tia-avó Karla Alexeievna, a qual durante a mocidade ele foi conhecê-la em Kazan (capital da República do Tartaristão, na Rússia) e tomou conhecimento de seu passado pela governanta Sófia. Karla, uma mulher madura, sozinha, paralítica, inutilizada para a vida social, pois, só podia locomover-se amparada por duas muletas. O curioso Alex resolveu perguntar o porquê de sua tia Karla ter ficado aleijada, e ele tanto insistiu com a ama, apesar de ela ter relutado, resolveu relatar-lhe o drama de sua tia-avó.

Na juventude, Karla Alexeievna conheceu, quando estudava música na Alemanha, o conde Rupert van Gallembeck, ambos foram alunos de Ludwig Van Beethoven. Os dois enamoraram-se e uma vez apaixonados marcaram o casamento, faltava um mês para as bodas, a família de Rupert viera da Alemanha para as cerimônias e os parentes de Karla também vieram dos cantos da Rússia. Diziam os antigos que, não era bom a noiva visitar a casa que habitaria antes de casar-se, porque tal ato trazia desgraça. Mas, resolveram visitar o local, uma mansão no campo, prepararam uma cavalgada e combinaram almoçar no bosque onde ficava a propriedade. Karla, no esplendor de sua mocidade, partira montada em uma égua que galopava na frente do grupo, na volta do passeio, Karla e Rupert corriam na dianteira dos demais companheiros, a égua que a futura esposa estava montada era um equino muito sensível e nervoso, e Karla, como uma dama, sentou-se de lado sobre a sela apropriada, onde enganchava a perna, uma postura errônea e muito arriscada.

Eles corriam pela estrada. Nisso, duas grandes lebres apareceram de súbito, a égua espantou-se, com o pavor, empinou-se com as patas dianteiras no ar, Karla, assustada, tentou contê-la, porém, não conseguiu e a égua disparou em galopada, e a dama caiu violentamente sobre blocos de pedras, fraturou a coxa e a perna direitas, e também uma parte do ilíaco, ficou estendida sobre as pedras à espera de médico, desacordada, foi acudida, daí a três dias voltou a si com as fraturas graves. A cirurgia, naquele tempo, era incapaz de resolver os problemas ortopédicos. Assim, ela resolveu romper-se com o noivo, diante de um quadro irreversível, julgou-se que seria um fardo na vida dele, como inválida. Rupert, arrasado, tentou refutar a questão, mas foi abandonado pela noiva, ele ainda fazia visitas mensais para a aleijada. O noivo tentou a reconciliação de todas as maneiras, em vão. Karla procurava esquecê-lo e passou a dedicar-se à filantropia e à educação das crianças pobres, que eram filhas de seus servos na rica propriedade. Durante vinte e cinco anos nada alterou para ela. Rupert casou-se com Halina, amiga de Karla, que aceitou a união, uma vez entendedora ter sido aquela a melhor solução para a vida dele.

Karla dedicou-se nos trabalhos manuais, tais como: bordados, tricôs e costuras para os necessitados. Um dia, os sinos da igreja local dobraram-se a finados, depois, soube-se que era Rupert que morrera, depois de dois meses doente. Karla sofreu resignadamente, orou e prestou-lhe a última homenagem terrena àquele que amara em silêncio sofredor e contida nos sentimentos. Alex conta-nos, que já maduro, foi morar em Paris e tomou conhecimento dos fenômenos espíritas (1872) e na capital francesa conheceu o escritor Victor Hugo e o dramaturgo Victorien Sardou, ambos adeptos da nascente crença na comunicação com os mortos que surgira na França. Ao participar de uma sessão de tiptologia (toques), na residência de seu amigo Boris Polianovski, ele não se lembrava mais de sua tia-avó morta há tempos. As entidades comunicantes daquela reunião privativa se manifestaram, e uma delas seria o espírito de Karla Alexeievna.

A mensagem foi transmitida enquanto Victorien contava as pancadinhas e Hugo escrevia a comunicação que lhes era ditada. Karla declarou ao sobrinho-neto a sua profunda emoção pelo carinho dele para com ela, desde a infância, e relatou-lhe a razão de seu drama. Enquanto, reencarnada, segundo o próprio espírito, em vida pregressa, anterior à vida onde foi a noiva de Rupert, foi casada com o conde Gallembeck, o qual chamava-se Igor, ele foi lutar em uma guerra, e não retornou, morreu em um combate, ela ficou desesperada e jogou-se do terceiro andar do prédio onde eles moravam, praticou o suicídio, após ter caído vertiginosamente e fraturar o corpo. No mundo espiritual, depois de ter sido socorrido o seu espírito, após a readaptação e o conhecimento de seu verdadeiro estado, aquela alma escolheu nova reencenação reparadora.

Portanto, observamos que o espírito consciente da infração à Lei de Deus solicitou os sofrimentos moral e físico como forma de reabilitação do autocídio na existência equivocadamente exterminada, e lavrou a própria sentença por infringir a Lei Soberana.  No final da comunicação, prosseguiu o ditado pela mão de Victorien que psicografou o recado e o drama vivido, Karla informou que se encontravas bem e muito feliz, depois de resgatar pela aflição o erro grave do autoextermínio; e através da renúncia perante a justiça divina, naquele momento, encontrava-se acompanhada por Rupert no mundo imaterial, sob as bênçãos da Lei Suprema. Relembramos a questão 291 de O Livro dos Espíritos, na conclusão deste artigo, quando os benfeitores invisíveis revelaram que as almas afins se procuram e se reencontram, seja no mundo corpóreo ou no etéreo.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita