Brasil
por Izabel Vitusso

Ano 19 - N° 920 - 27 de Abril de 2025

 

Sutilezas da mediunidade e a lição de Jorge Rizzini
 

Médium desde a tenra idade, o escritor Jorge Rizzini (1924-2008) passou a sonhar ainda novo com a literatura. Desde quando se casou
com a escritora Iracema Sapucaia, aos 23 anos, o assunto estava sempre presente. Passados alguns anos, e levado pelo calor da conversa, Rizzini disse, certa
vez, num bate-papo em família, que seria capaz de escrever um livro infantil como Monteiro Lobato. E ouviu de sua sogra:

– Pois faça isso. A literatura infantil é dificílima e será um bom exercício para você.

Instigado, em menos de três semanas Rizzini já tinha pronta a sua história com mais de cem páginas¹, rapidamente publicada pela editora Brasiliense, depois de ter impressionado o editor, pela semelhança de estilo com Monteiro Lobato. Rizzini havia escrito sob a influência do próprio escritor, desencarnado em 1948.

Ainda entusiasmado com sua facilidade, percebia que ‘coisas estranhas’ aconteciam quando escrevia, mas atribuiu novamente a si a autoria da segunda obra, escrita uma vez mais sob a influência de Lobato, e que recebeu igualmente grande destaque.

O sucesso também se fez escrevendo para adultos, com o livro Beco dos aflitos², premiado, em 1957, pela União Brasileira de Escritores e tendo recebido os melhores elogios da crítica literária.

Jorge Rizzini só se deu conta de que era médium psicógrafo quando passou a receber Antologia do mais além³, contendo poesias – gênero literário
que ele não dominava – assinadas por poetas desencarnados.

Foi quando finalmente entendeu: “A fim de que todas as dúvidas terminassem de uma só vez, começaram mais intensamente os efeitos físicos e voltei a ouvir vozes espirituais, agora de poetas e do meu espírito guia, e então me rendi à evidência da mediunidade psicográfica que possuía e que minha vaidade literária não queria admitir”, conta na apresentação da obra.

Em 1978, a espiritualidade mais uma vez o testou, ao ser convidado para participar da fundação da Academia Brasileira de Escritores de Literatura Infantil e Juvenil. “Qualquer escritor veria nesse convite o abraço da glória e meu primeiro impulso, confesso, foi aceitá-lo. Mas, refleti, como receberiam os acadêmicos uma obra psicografada por um de seus pares? Seria mesmo um escândalo. Mas, ainda assim, a vaidade beliscava-me e consultei meu espírito mentor, com a vaga esperança de que ele concordasse:

– O que faria o senhor em meu lugar?

E sua voz se fez ouvir em minha mente. Tentei argumentar, ainda.

– Mas, a Academia...

– Deixe-a para a próxima encarnação.

Era o que eu tinha a fazer. E recusei o honroso convite. É evidente que eu não havia passado no teste. Vacilara... Como é difícil nos libertarmos de nossas inferioridades.”


1. Carlito e os homens da caverna, Brasiliense, 1951.

2. Beco dos aflitos, Civilização Brasileira, 1959.

3. Antologia do mais além, LAKE, 1972.


Este texto foi publicado originalmente no jornal Correio Fraterno, de São Bernardo do Campo-SP, em 8 de fevereiro de 2025.


 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita