Mensagem de irmã
Meus amigos, que a paz de nosso Senhor Jesus Cristo
reine em nossos corações!
Fala-vos humilde companheira, que militou em Cachoeiro
do Itapemirim, de cuja experiência pode dar notícia o
nosso Ênio. Não me comunico, porém, com qualquer
propósito pessoal em minha visitação. Trago-vos apenas
minha própria alma a derramar-se-me nas palavras
singelas com o júbilo daquelas afeições que se
reencontram sob a permissão do Senhor. Outros
doutrinarão, nós conversaremos. Lembrar-nos-emos de
alguns traços esquecidos de nosso movimento, como seja a
construção do nosso caráter espírita para o dia de
amanhã.
Recordaremos, assim, nossos deveres mais simples, aquela
caridade da mão direita que se oferece sem que a
esquerda o saiba. Caridade que não se resume à doação do
supérfluo de nossa mesa, mas sim aquela que entrega a
própria alma em função desse amor que nós fomos chamados
a cultivar com o Mestre da Cruz. Desculpar em silêncio,
sem nunca mais nos referirmos à ofensa. Cumprir os
nossos deveres com alegria. Tolerarmo-nos, mutuamente,
dentro do lar, naquela harmonia, por vezes, tão difícil
de construir. Ajudar sem exigir o entendimento daqueles
que as nossas mãos auxiliam. Olvidar, de maneira
definitiva e sem qualquer condição, as pequeninas
alfinetadas que recebemos, em nosso próprio benefício,
no círculo daqueles a quem mais amamos. Cultuar cada dia
a humildade, o serviço, a oração. Ser, realmente, bons
uns para com os outros.
Por vezes, nós, os espíritas que precedemos nossos
companheiros na grande viagem, percebemos, em quase toda
parte, intensivo interesse na salvação obrigatória dos
outros. Tanto tempo gasto em conversação sem proveito!…
Tantas horas que despendemos, julgando aqueles cuja
conduta não nos diz respeito à edificação espiritual!…
Estamos, habitualmente, preocupados no exame dos outros,
observando a consciência dos outros, a inclinação dos
outros, a economia dos outros, a atitude dos outros e os
passos dos outros, quando em matéria de nossas relações
recíprocas fomos chamados a ajudar — ajudar a todos —,
começando de nossa própria casa, plasmando o Espiritismo
naqueles que nos acompanham de perto.
Por isso mesmo a nossa cartilha de pregação há de
principiar com aqueles a quem Deus nos confia: nossa
esposa, nosso esposo, nossos filhos, nossos pais, nossos
irmãos, nossos parentes, nossos amigos… Caminharmos
entre eles com a obrigação de elevá-los com o nosso
próprio exemplo, através da assimilação da Doutrina
abençoada que veio florir, em bênçãos, no campo de
nossas almas.
No mundo, como o de agora, em que há corridas quase que
intermináveis e quase todos os dias para determinados
interesses materiais, acreditamos que nós, os espíritas,
precisamos, algumas vezes, parar, de algum modo, para
pensar. A grande obra, a obra fundamental de nosso
movimento, é a da própria restauração de nós mesmos para
nosso Senhor Jesus Cristo.
Tudo na vida pertence a Deus, sob a jurisdição de nosso
divino Mestre. Nada possuímos senão a oportunidade que a
Misericórdia Celestial nos confere, a fim de que
possamos burilar nosso Espírito para a comunhão com a
divina Luz. É por esse motivo que, em nos comunicando,
temos lágrimas nos olhos. Pranto de alegria, de
confiança!… É uma velha amiga que volta. É um coração de
mulher que sente na Doutrina Espírita um regaço de mãe…
Mãe que nos perdoa, que nos afaga, que nos acolhe,
perante a qual tantos deveres nos honram a fé, a
esperança e o caminho…
Interpretamos Jesus em nossa casa, ponto nevrálgico de
nossa redenção, tanto quanto nos círculos de nossos
trabalhos e afetos, templo primeiro em que somos
convidados a testemunhar a nossa aplicação de
conhecimento superior. Sirvamos, aprendamos e
eduquemo-nos.
E aqui todos nós, os companheiros que vos precederam os
passos, vos esperam para continuarmos a abençoada luta,
como quem sabe que a evolução nos pede tempo, que o
aperfeiçoamento definitivo reclama muitas experiências e
que todos nós voltaremos outra vez à grande casa
terrestre para refazer os nossos próprios trilhos,
clareando-os, em definitivo, com a luz do Senhor, cuja
glória pressente os que temos tanta dificuldade para
realmente compreender.
Do livro Registros imortais,
comunicação recebida pelo médium Francisco Cândido
Xavier.
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