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por Maria de Lurdes Duarte

 

Ainda a lei de ação e reação


Quando pensamos na Lei de Ação e Reação, que impõe que cada um colha de acordo com a sementeira, ou seja, receba segundo os seus atos, pensamentos e atitudes, vem-nos, quase de imediato, a justificação para dores e sofrimentos que nos acometem ao longo do percurso terreno.

A vida de todos nós é assolada pelas mais diversas dificuldades, seja de que teor for. Sejam as doenças, os desgostos, as dificuldades financeiras, as desavenças familiares, o desemprego, os problemas no local de trabalho, a ingratidão, o desânimo, os problemas do foro psicológico, como por exemplo, a depressão ou a ansiedade, muitos são os motivos de dor e nenhum encarnado escapa, por enquanto, à sua dose de sofrimento.

Como acreditamos num Deus justo, bom, misericordioso e sábio, como nos ensina o Espiritismo, que a ninguém pune, percebemos que Deus deixa que seja a consciência de cada um, mais ou menos desenvolvida pelas experiências atuais e pretéritas, no pleno uso do livre arbítrio que nos concedeu desde o momento da criação, ao sentir que falhou, forçosamente sente a necessidade de reparação, para se libertar do que entrava o progresso espiritual. Não estamos à espera do “olho por olho, dente por dente”, da Lei Mosaica, porque, felizmente, pelo menos os Espíritas, já não acreditamos nesse Deus rigoroso, severo e vingativo da Lei antiga, que Moisés teve de apresentar ao seu povo, por ser rude e incapaz de um entendimento mais espiritual da questão. Mesmo fora das lides Espíritas, as crenças religiosas mais tradicionais já se vão desligando, de certa forma, dos convencionalismos que apontavam esse Deus castigador, para aderirem ao Deus amoroso, Deus Pai apresentado por Jesus.

Mas, o certo é que, as Leis desse Deus Pai e Criador são tão perfeitas e tão sábias que apenas dentro dos seus limites é possível a justiça, a harmonia, o equilíbrio, sendo, portanto, o padrão que nos norteia no rumo da felicidade. O que não se ajusta às Leis Divinas causa desarmonia e desequilíbrio e carece de ajustes que nos reencaminhem a situações de paz interior, sem a qual não nos sentimos felizes. Mesmo quando pensamos dispensar o Bem e o Amor e, em consciência, optamos por uma felicidade temporal baseada nas conquistas materiais, essa felicidade é tão enganadora, tão superficial que acaba por nos arrastar àquela sensação de vazio inexplicável, a uma busca de nós mesmos que se centrar exclusivamente no que é terreno, não se realiza plenamente.

Só o Amor, o Bem, o Belo, a Sabedoria são intemporais e esses estão imprimidos nas leis Divinas, logo na nossa Consciência, que é onde Deus “escreve” as Suas Leis. Daí que, inexoravelmente, seja mais cedo ou seja mais tarde, pela dor ou pelo amor, acabamos por procurar esse ajuste, através da orientação das oportunidades que em cada existência nos são oferecidas no sentido da prática do que nos faz realmente felizes, na verdadeira aceção da palavra.

É essa busca pelo aperfeiçoamento, através dos meios que a própria Consciência Espiritual nos aponta como necessários que surge, a dado momento, a colheita pela dor, quando não lográmos fazê-lo através do Amor, ou seja, da prática do bem. Disse Jesus que “O amor cobre a multidão de pecados” e muitas são as oportunidades que nos têm sido dadas de fazer o ajuste às Leis Divinas dessa forma. Mas também muitas têm sido as oportunidades desperdiçadas por nós. Continuamos, ainda, a necessitar de ser espicaçados pelo grilhão da dor, que mais não é do que um alerta, o remédio amargo na hora da doença. Sim, porque o mal em si não existe, apenas é a ausência do bem, a prevalência da ignorância, doença do espírito.

Nesta escolha das provas e expiações necessárias à nossa evolução contamos não só com a nossa Consciência, que temos desenvolvido e apurado ao longo das muitas vidas sucessivas, mas também pelos Espíritos tutelares, nossos guias e pelos Espíritos “especialistas” em reencarnação, que nos ajudam a analisar e a tomar consciências das necessidades mais prementes e a selecionar o que mais nos convém para a existência em preparação. A intenção de Deus e dos bons Espíritos é que em cada regresso à Pátria Espiritual o façamos vitoriosos. Daí que procuram sempre afastar-nos de sobrecargas existenciais que, de antemão, não seja previsível que tenhamos estofo para aguentar. Um passo de cada vez, degrau a degrau se faz a ascensão a uma condição melhor. Cada vitória aumenta-nos as forças para novos resgates que ainda possam ser necessários, caso não tenha ainda sido feito o reajuste devido. Adapta-se aqui na perfeição o dito popular (pelo menos em Portugal, não sei se também no Brasil) de que “Deus dá a cada um segundo as suas forças”.

Mas a lei de Ação e Reação não diz respeito exclusivamente ao resgate pela dor. Cada ação da nossa parte, em qualquer circunstância do quotidiano, leva a uma reação, em nós próprios e nos nossos semelhantes. Um bom pensamento, uma prece simples e sentida, um sorriso, um gesto fraternal, o trabalho desinteressado a bem da  comunidade, um apoio a quem necessita, uns ouvidos atentos num momento difícil pelo qual alguém está passando, uma palavra amiga a quem sofre, o pensamento sempre centrado no Bem e no positivismo, são atitudes e sentimentos que nos afinizam com as Forças do Bem que povoam o Universo e se encontram muitas vezes junto de nós, sem que nos apercebamos, e que secundam de forma eficaz as boas intenções que acalentamos. Funciona aí a Lei de Ação e Reação da forma mais pura e benéfica para quem pretendemos auxiliar e para nós mesmos que colhemos dessas Forças do Bem o auxílio para os nossos próprios problemas na hora certa, sem que, a maior parte das vezes, demos conta do facto. As maiores ajudas que nos vêm do Alto vêm de forma subtil nos momentos em que não esperamos.

Não foi à toa que Jesus disse “Faz aos outros o que queres que façam a ti” e “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Com os nossos atos e pensamentos de Amor atraímos para a nossa própria vida se não aquilo que queremos (porque maioritariamente não é o que irá contribuir para a harmonia e a felicidade), com toda a certeza, aquilo de que necessitamos.

Façamos o Bem, pensemos o Bem, desejemos o Bem para nós e para os outros, projetemos o Bem, que o Alto se encarregará de nos ajudar na concretização. E tenhamos ainda presentes uma outra questão: que os sentimentos de ingratidão por parte daqueles que ajudamos não nos entrave a ação benéfica a serviço de todos. O Bem será sempre o Bem, seja ele reconhecido de imediato ou não. As Leis de Deus são perfeitas. A Lei de Ação e Reação não falha. É ela que nos conduz ao caminho certo e, quando nos desviamos, está sempre lá para nos reconduzir através de oportunidades renovadas.

 

Maria de Lurdes Duarte reside em Arouca, Portugal.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita