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Semana
santa, de álcool e de
desastres
A ficção se mistura à
realidade quando o tema
é o abuso de álcool e
outras drogas — e aqui
incluo a cerveja e o
cigarro, também
classificados como tais.
A “novela das nove” da
Globo, Vale Tudo,
traz a personagem
Heleninha, uma
alcoólatra em
abstinência e
recuperação. Como
voluntário em clínicas
especializadas, posso
afirmar: a comovente
história dela poderia
ser substituída por
tantas outras de
mulheres e homens em
tratamento, muitos dos
quais frequentam grupos
anônimos.
Existe uma multidão
invisível de usuários e
dependentes que se
recusam a admitir a
doença ou sentem
vergonha de — ou orgulho
para — buscar ajuda. Não
sabem que nesses espaços
encontram algo além de
sobriedade: encontram
uma nova chance de vida,
com dignidade e sentido.
Os grupos de apoio
oferecem uma programação
espiritual (sem
conotação religiosa ou
moralista) que acolhe e
transforma.
A grande chave está na
identificação — a
chamada “terapia do
espelho”. O sofrimento,
a angústia e a dor criam
pontes entre os membros.
O que um compartilha, o
outro reconhece. E,
nesse reflexo, nas
histórias cruzadas,
renasce a esperança. A
recuperação independe de
idade, classe social ou
grau de instrução.
Enquanto isso, nas
estradas, os dados da
vida real assustam.
Segundo o Programa
“Respeito à Vida – São
Paulo” (em parceria com
a ONU e concessionárias
de estradas), entre 17 e
21 de abril de 2025
foram registradas 10.003
infrações de trânsito.
Na fiscalização, 10.400
motoristas passaram pelo
bafômetro, e 376 foram
autuados por dirigir
alcoolizados ou por se
recusar ao teste — 3,6%.
No mesmo período,
ocorreram 74 sinistros
de trânsito, 52 com
vítimas.
Esses números, somados
aos dramas que se
repetem dentro e fora da
ficção, são um alerta. A
recuperação é possível —
mas o primeiro passo é
reconhecer que há um
problema. E procurar
ajuda.
Arnaldo Divo Rodrigues
de Camargo é diretor da
Editora EME.
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