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por Juan Carlos Orozco

Encontros, desencontros e reencontros


Esta reflexão trata de encontros, desencontros e reencontros relacionados a laços afetivos ou desavenças em pluralidade de existências, por ação da Providência Divina, fazendo-nos passar por experiências e lições educativas em forma de provas e expiações, para progredirmos moral e espiritualmente.

Este artigo apoia-se, basicamente, nos conteúdos das seguintes fontes: O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, Capítulo IV – Da pluralidade das existências e Capítulo VII – Da volta do Espírito à vida corporal; O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, Capítulo XIV – Honrai a vosso pai e a vossa mãe; e O problema do ser, do destino e da dor, de León Denis, Segunda Parte, O Problema do Destino, Capítulo XIII – As vidas sucessivas – A reencarnação e suas leis.

Durante a existência física, não se tem noção e tampouco compreensão dos motivos dos encontros, desencontros e reencontros, que impelem uns aos outros para certas famílias ou vínculos de parentesco, amizade, grupos, lugares, situações, circunstâncias e fatos, que chamamos indevidamente de acaso, infortúnio ou fatalidade.

Pelo véu do esquecimento, ao nascer, o passado existencial é apagado da memória do Espírito reencarnado, criando oportunidades de corrigir e reparar faltas para evoluir moral e espiritualmente. Devido a esse véu do esquecimento, o passado é um mistério.

Depois de certo tempo de vida, pode-se imaginar o passado como se montasse um quebra-cabeça com peças de intuições, comportamentos, atitudes, sonhos, revelações e vicissitudes, que poderão fornecer subsídios para refletir sobre a vida presente.

Juntando as peças, o exercício mental será visualizar possíveis relações afetivas ou de desavenças com determinadas pessoas e refletir acerca de um passado que precisa ser entendido para construir um presente de apoio mútuo, ajustes e reajustes perante as leis de Deus para prosseguir no caminho a que está destinado.

Sem saber das escolhas no plano espiritual, o planejamento reencarnatório motivou os encontros, desencontros e reencontros, pois ninguém cruza o seu caminho ao acaso e você não entra na vida de alguém sem razão de ser, pois em tudo há um propósito divino.


Evolução moral e espiritual

Deus cria todos os Espíritos simples e ignorantes, com determinada missão, para chegar progressivamente à perfeição, iniciando seus processos evolutivos em pluralidade de existências, passando pelas provas que Deus impõe para se instruírem nas lutas e tribulações da vida corporal, porquanto a conquista da felicidade não pode ocorrer sem esforço e trabalho decorrente do próprio merecimento.

O Espírito encarnado está sob a influência da matéria, porquanto esta influência é necessária para a sua depuração e elevação, fazendo-o se aproximar dos bons Espíritos. Para tanto, tem que dominar as paixões materiais próprias dos Espíritos impuros, que estão mais próximos da natureza primitiva.

Enquanto não se depurar completamente, sofrerá as provas de novas existências para experimentar as transformações necessárias.

A vida corpórea proporciona ao Espírito, mediante provas, oportunidades de depuração, aperfeiçoamento e transformação em nova existência, em que as tribulações funcionam como espécie de cadinho, lugar ou circunstância apropriada para aprender e adquirir os atributos morais essenciais para o seu progresso.

Nessas experiências, o Espírito aprende a diferenciar o bem do mal pelo uso consciente do livre-arbítrio para escolher o melhor caminho a seguir.

A reencarnação é um determinismo divino para que o Espírito chegue à perfeição. Para tanto, os Espíritos têm de sofrer todas as vicissitudes da existência corporal.


Os laços de consanguinidade

Os laços de consanguinidade não são os verdadeiros laços de união, mas sim os de simpatia, comunhão de almas e ideias, que prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações.


Laços espirituais

Forças superiores, como atração magnética, aproximam uns aos outros para cumprir as ações da providência divina, em que os laços espirituais podem ser formados por Espíritos unidos pela afeição, simpatia e semelhança de inclinações ou por desafetos, divididos por desavenças anteriores, servindo de provação.

Arraigada em vidas passadas, a família é formada por agentes diversos, que se encontram e reencontram, afetos e desafetos, para os ajustes e reajustes indispensáveis.


Laços afetivos

Normalmente, os Espíritos são atraídos para determinada família pela simpatia ou pelos laços afetivos que anteriormente se estabeleceram, fazendo aumentar os deveres de fraternidade e ajuda mútua. Nesse caso, a regra é de atração pela afinidade.

Esses Espíritos se sentem felizes de estar juntos e, pelos laços afetivos, uns seguem os outros na encarnação para trabalharem pelo mútuo adiantamento.

Às vezes, esses Espíritos são temporariamente afastados uns dos outros e mudam de meio para adquirirem novas aptidões. Contudo, aqueles que se amam tornam, cedo ou tarde, a encontrar-se na Terra ou no espaço.

Por conseguinte, a afeição espontânea por certa pessoa explica-se facilmente, pois já se conheciam em outros tempos, porque o amor é vínculo que nada pode destruir.


Laços de desafetos

De volta ao mundo espiritual, o Espírito leva consigo virtudes, afeições, simpatias, mas também paixões, vícios e ressentimentos da vida corporal.

As desavenças também criam laços entre os Espíritos, só que de desafetos.

Em geral, o Espírito vítima tem dificuldade em perdoar seu algoz, carregando os ressentimentos das experiências terrenas, abalando-o e podendo motivar o desejo de vingança e perseguição, estimulando um processo obsessivo.

Os Espíritos em conflito ficam entrelaçados até a libertação pelo perdão e pela reparação das faltas cometidas, que conduz para a pacificação daquelas almas.

Na algema obsessiva, após certo tempo de sofrimento, o Espírito reflete sobre a oportunidade de refazer o seu futuro para viver nova chance de progresso.

O Espírito pedirá para reparar sua falta em outra encarnação, aproveitando-se de um corpo em preparo para reencontrar a quem detestou, a fim de se reconciliar, pois um ou outro odiou, foi ofendido ou um dos dois foi o culpado.

Pelo contato com o desafeto, coloca-se em prova, podendo superar as desavenças ou sucumbir se não tiver força de vontade.

Assim, será amigo ou inimigo daqueles com quem foi chamado a viver. Isso explica certos ódios e repulsas instintivas, que aparentemente são injustificáveis.

Se a causa da repulsa não se encontra nessa vida, torna-se necessário olhar para o passado, antes desta existência, pois em todas as coisas a causa deve anteceder o efeito e há necessidade de a alma já ter vivido para que possa merecer uma expiação.

Nada acontece por acaso, pois atrás de um acontecimento há uma razão de ser.

Assim, alguns reencontros são efeitos do passado que desconhecemos.


O livre-arbítrio no planejamento reencarnatório

É possível pensar em certo determinismo na vida, especialmente no que diz respeito a planejamento reencarnatório. Entretanto, esse planejamento não é rígido, pois ele cuida das linhas mestras da programação preparada para a nova experiência no plano físico, não se prendendo a detalhes ou aspectos secundários.

A partir do momento em que se estabelece um plano a ser executado em nova existência física, são acionados recursos, condições e pessoas, encarnadas e desencarnadas, tudo para colocar em prática o referido planejamento.

O ser, pelo livre-arbítrio, é construtor do destino em seu processo evolutivo e, de acordo com suas disposições, pode modificá-lo para melhor ou complicá-lo. A liberdade de ação é coerente com o seu nível evolutivo, moral e intelectual.

O Espírito adiantado escolhe o meio onde quer renascer, ao passo que o Espírito inferior é impelido por uma força que obedece, mas todos são protegidos, aconselhados e amparados na passagem da vida espiritual para a existência terrestre.

Antes de reencarnar, o Espírito escolhe onde vai renascer, mas essa escolha é limitada, circunscrita e determinada por causas múltiplas.

O passado orienta a vida em preparo, em que as almas afins se juntam em novas provas.

Por outro lado, a relação de ódio entre os desafetos também é força que os aproximam para apagar a antiga relação de ressentimento.

Assim, tornamos a reencontrar aqueles que constituíram alegria ou tormento.


As vicissitudes da vida material

As vicissitudes da vida material relacionam-se com acontecimentos do cotidiano, que muitos atribuem às circunstâncias inesperadas do acaso que muda o rumo da vida.

As vicissitudes podem ter causas na existência presente ou na vida passada, sendo frutos do caráter e do proceder dos que as suportam.

As experiências da vida corporal, chamadas de vicissitudes, permitem ao Espírito vivenciar as influências da matéria, frutos de suas imperfeições e paixões, tais como: provas do poder, da riqueza, da pobreza, da avareza, do egoísmo, do orgulho, da soberba, da inveja, do ciúme, do apego material, da ingratidão, dentre outras tantas.

As vicissitudes trazem provas essenciais para o Espírito acumular os tesouros sagrados nas experiências vividas, conectando passado, presente e futuro, na busca da transformação íntima para internalizar atributos divinos de forma mais sólida.


Enxergando o passado pelo presente

O renascimento é novo ponto de partida, mais um degrau a subir.

Pelo esquecimento do passado, surge um novo ser, por mais antigo que seja o seu Espírito, adotando novos processos, auxiliado pelas suas aquisições anteriores.

Não entendemos o porquê de determinadas circunstâncias, ocorrências, fatos e adversidades na nossa vida, que refletem o passado existencial de cada um de nós.

Contudo, podemos ter leve noção do que somos pelo que fomos em face das características das provas e expiações da vida presente, despertando para a tarefa a ser realizada que se apresenta diante de nós.

Se olhar para a vida atual pode-se ter uma noção da nossa relação com o passado e uma ideia do que precisamos realizar para reparar as faltas anteriores.

Podemos enxergar o passado pelo presente, pois colhemos o que plantamos, cujos frutos das escolhas retornarão como situações, pessoas ou coisas do que realizamos.


A grande família espiritual

Ao deixarmos a Terra, encontraremos os Espíritos amigos de outras eras, aqueles com quem compartilhamos as vidas passadas da família espiritual.

Os companheiros de viagem se reunirão para nos acolher, porém já na plenitude de suas faculdades aumentadas e como seres ativos, tomando parte na obra universal e cooperando em nossos esforços, trabalhos e projetos.

Os laços do passado reatam-se com mais força.

O amor, a amizade e o afeto de outras existências estimularão novos compromissos para aumentar os sentimentos que unem a todos.

E as tristezas dos desencontros passageiros se converterão em felicidade pela dádiva divina do regresso e do reencontro daquelas almas.


Bibliografia:

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

DENIS, León. O problema do ser, do destino e da dor. 32ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita