Sacerdote ante a manjedoura
Doce Jesus, deixa que o sacerdote de ontem, hoje despido
de todo ornato humano, te fale de alma desnuda diante da
manjedoura em que preferiste ser pobre para ser livre!
Sabes, Senhor, que de nós pediu o mundo aquilo que não
podíamos dar. A nós, homens frágeis e imperfeitos,
rogou-se a pureza inatacável. De nós, consciências
endividadas e infiéis, exigiu-se a santidade de
improviso.
Não ignoras, porém, a tragédia pungente e oculta dos
padres honestos que movem a Terra sobre o lodo das
tentações, constrangidos a indicar o caminho das
estrelas, embora enredados à lama da própria carne.
Entretanto, ó Cristo, nós somos também aqueles que te
prometeram o próprio sangue. Recebemos de ti, mais do
que os outros, a sublime advertência do “Ide e pregai” e
o mundo esperou-nos como tochas ardentes quando não
passávamos de morrões bruxuleantes.
Releva, desse modo, a fraqueza de tantos como nós, que
te não corresponderam a confiança e desertaram do
ministério.
Divino Pastor, reagrupa, ao aconchego do teu cajado, as
ovelhas que se dispersaram! Construtor excelso, retifica
o teu santuário de amor e de luz que nós tanto
convertemos em momentos faustosos de orgulho frio!
Anjo revelador da fé, reaquece a tua palavra
transformadora e singela que nós soterramos na sombra
das humanas conveniências!
Divino Libertador, proclama de novo o teu Evangelho de
redenção que mumificamos nas catedrais geladas e
imponentes, em que pretendemos exaltar-te a memória!
Perdoa-nos os crimes da suntuosidade ao pé dos famintos
que alimentavas, os delitos da usura junto aos pobres
que recolhias, as paixões enlouquecedoras e insensatas
com que perturbamos as almas confiantes às quais
desvelavas o roteiro das alturas, e os atos de crueldade
que cometemos contra todos os corações sequiosos de
verdade e emancipação espiritual, que endereçavas, com a
força da tua palavra e com a chama do teu exemplo, à
glória flamejante dos cimos!
Reconduze as igrejas que falam e operam em teu nome à
simplicidade do teu berço divino! E ensina-nos, Senhor,
a humildade pura e espontânea com que havemos de
esquecer a nós mesmos e seguir-te os passos na
edificação do reino de Deus para sempre.
Do livro Registros imortais, comunicação recebida
pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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