Importância da referência literária
O Espiritismo
foi apresentado ao mundo através do livro, quando surge
nas livrarias francesas a obra O Livro dos Espíritos,
cujo autor assinou Allan Kardec, então um desconhecido,
e que viria a se notabilizar pelo imenso trabalhado
realizado na divulgação e assentamento das bases da
Doutrina Espírita. Outros livros sucederam a esse
primeiro, assim como surgiu a Revista Espírita, mensário
em cujas páginas encontramos farto e importante material
doutrinário. Como vemos, a literatura através do livro e
da revista impressos foram os grandes veículos de
comunicação junto ao público na metade do século
dezenove. Na sequência, outros estudiosos lançaram
livros e novos periódicos, entre jornais e revistas,
dando continuidade à propagação da nova doutrina trazida
pelos Espíritos.
Se isso ocorreu em solo francês e pela Europa, não foi
diferente aqui no Brasil, com as primeiras traduções das
obras de Kardec e o lançamento de jornais e revistas,
assim como a verdadeira explosão mediúnica com livros
ditados pelos Espíritos, como as obras recebidas pelos
médiuns Chico Xavier, Yvonne Pereira, Zilda Gama, Raul
Teixeira, Divaldo Franco, entre outros. O livro, sempre
o livro, como maior veículo de divulgação, e a
literatura espírita cresceu vertiginosamente, autoria de
encarnados e desencarnados. Na sequência outros veículos
de comunicação começaram a ser utilizados: rádio, tevê,
sites, blogs, vídeos na internet, redes sociais,
podcasts, teatro, cinema, palestras, mesclando mídias
físicas e mídias digitais, presenciais e online, pois
não podemos ficar à margem da evolução tecnológica.
O livro, seja ele físico (impresso) ou digital, é
manancial inesgotável de conhecimento, propiciando o
estudo aprofundado de qualquer tema, de qualquer
doutrina, de qualquer ciência, de qualquer cultura, e
isso não é diferente com relação ao Espiritismo, que
requer estudo aprofundado e metódico para ser conhecido
e bem praticado, ainda mais por se tratar de um conjunto
de princípios filosóficos e científicos, e de vastas
consequências morais. Nunca será demais recomendar a
todos os adeptos que leiam e estudem as obras da
Codificação Espírita, ou seja, as obras de Allan Kardec,
assim como de autores muito importantes como Léon Denis,
Gabriel Delanne, Hermínio Miranda, Suely Schubert e
tantos outros, aqui também incluindo os Espíritos, como
Emmanuel, Joanna de Ângelis e demais valorosos
colaboradores da espiritualidade amiga. Onde encontramos
essa diversificada colaboração? Nos livros!
Pois bem, nos tempos atuais estamos às voltas com o
fenômeno da comunicação instantânea e curta,
principalmente através da internet, com a onda massiva
de utilização de mensageiros instantâneos e das redes
sociais, com áudios e vídeos de curta duração, assim
como postagens de imagens e textos com frases e
pensamentos de poucas linhas. Isso tem sua validade e
serve também para a divulgação do Espiritismo, mas é
preciso tomar um cuidado essencial: não confundir alhos
com bugalhos, como se dizia antigamente, e que podemos
melhor entender com um exemplo. Muitas postagens trazem
uma frase tirada de um livro de autoria espiritual, por
exemplo, Emmanuel, e consignam como autor, Chico Xavier,
o médium. Não, o pensamento não foi escrito por Chico
Xavier, e sim por Emmanuel. E para agravar a confusão,
normalmente não consta a referência literária, ou seja,
não ficamos sabendo de qual obra o pensamento foi
retirado, o que gera dois problemas: primeiro, não temos
como saber se o pensamento é verídico e quem é, de fato,
seu autor; segundo, perdemos a oportunidade de divulgar
o livro espírita e remeter o leitor internauta para a
fonte primária, que é muito importante. Muitas vezes,
nessa situação, fazemos um desserviço à causa e, também,
às editoras, que tantas vezes fazem enormes sacrifícios
para publicar os livros, prejudicando-as com uma
divulgação ineficaz, por incompleta.
É muito fácil colocar palavras na boca de qualquer
pessoa, esteja ela encarnada ou desencarnada, com o
agravante que agora até a voz da pessoa pode ser imitada
pela inteligência artificial, mas será que ela realmente
disse aquilo? Onde está a fonte, a referência literária?
É muito fácil afirmar que Divaldo Franco disse isso ou
aquilo, mas onde está a prova dessa afirmação? Essa
situação é tão grave, que conhecido palestrante e
escritor brasileiro, não espírita, foi obrigado a criar
em seus vídeos publicados nas redes sociais um alerta
para informar que suas falas verdadeiras são apenas e
tão somente as que ele publica nos seus canais oficiais.
Foi obrigado a isso diante de tanta adulteração
publicada em seu nome.
Diante dessa realidade, chamamos a atenção de todo
espírita: cite sempre a fonte, mostre o livro, diga em
que vídeo, e onde ele está publicado, colheu a
informação, ou em qual revista ou jornal. E faça a
referência de modo correto: não confunda, quando for o
caso, o médium com o autor espiritual. E mais: nunca
altere o original, pois isso é considerado adulteração
sujeita às penas previstas na lei do direito autoral,
além de ser desonesto, o que não cabe ao verdadeiro
espírita.
Assim, não esqueçamos a referência literária,
legitimando a informação e permitindo aos interessados
ir à fonte, onde poderão estudar com maior profundidade,
podendo conhecer melhor o Espiritismo, para melhor
praticá-lo e mais corretamente divulgá-lo. Com esse
cuidado vamos separar o joio do trigo, o alho do
bugalho, a verdade da mentira, deixando de espalhar fake
news e zelando pelo que verdadeiramente é o
Espiritismo.
Marcus De Mario é
escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de
Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal
Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da
Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas
espíritas na internet; possui 40 livros publicados.
|