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por Marcus De Mario

 

Importância da referência literária


O Espiritismo foi apresentado ao mundo através do livro, quando surge nas livrarias francesas a obra O Livro dos Espíritos, cujo autor assinou Allan Kardec, então um desconhecido, e que viria a se notabilizar pelo imenso trabalhado realizado na divulgação e assentamento das bases da Doutrina Espírita. Outros livros sucederam a esse primeiro, assim como surgiu a Revista Espírita, mensário em cujas páginas encontramos farto e importante material doutrinário. Como vemos, a literatura através do livro e da revista impressos foram os grandes veículos de comunicação junto ao público na metade do século dezenove. Na sequência, outros estudiosos lançaram livros e novos periódicos, entre jornais e revistas, dando continuidade à propagação da nova doutrina trazida pelos Espíritos.

Se isso ocorreu em solo francês e pela Europa, não foi diferente aqui no Brasil, com as primeiras traduções das obras de Kardec e o lançamento de jornais e revistas, assim como a verdadeira explosão mediúnica com livros ditados pelos Espíritos, como as obras recebidas pelos médiuns Chico Xavier, Yvonne Pereira, Zilda Gama, Raul Teixeira, Divaldo Franco, entre outros. O livro, sempre o livro, como maior veículo de divulgação, e a literatura espírita cresceu vertiginosamente, autoria de encarnados e desencarnados. Na sequência outros veículos de comunicação começaram a ser utilizados: rádio, tevê, sites, blogs, vídeos na internet, redes sociais, podcasts, teatro, cinema, palestras, mesclando mídias físicas e mídias digitais, presenciais e online, pois não podemos ficar à margem da evolução tecnológica.

O livro, seja ele físico (impresso) ou digital, é manancial inesgotável de conhecimento, propiciando o estudo aprofundado de qualquer tema, de qualquer doutrina, de qualquer ciência, de qualquer cultura, e isso não é diferente com relação ao Espiritismo, que requer estudo aprofundado e metódico para ser conhecido e bem praticado, ainda mais por se tratar de um conjunto de princípios filosóficos e científicos, e de vastas consequências morais. Nunca será demais recomendar a todos os adeptos que leiam e estudem as obras da Codificação Espírita, ou seja, as obras de Allan Kardec, assim como de autores muito importantes como Léon Denis, Gabriel Delanne, Hermínio Miranda, Suely Schubert e tantos outros, aqui também incluindo os Espíritos, como Emmanuel, Joanna de Ângelis e demais valorosos colaboradores da espiritualidade amiga. Onde encontramos essa diversificada colaboração? Nos livros!

Pois bem, nos tempos atuais estamos às voltas com o fenômeno da comunicação instantânea e curta, principalmente através da internet, com a onda massiva de utilização de mensageiros instantâneos e das redes sociais, com áudios e vídeos de curta duração, assim como postagens de imagens e textos com frases e pensamentos de poucas linhas. Isso tem sua validade e serve também para a divulgação do Espiritismo, mas é preciso tomar um cuidado essencial: não confundir alhos com bugalhos, como se dizia antigamente, e que podemos melhor entender com um exemplo. Muitas postagens trazem uma frase tirada de um livro de autoria espiritual, por exemplo, Emmanuel, e consignam como autor, Chico Xavier, o médium. Não, o pensamento não foi escrito por Chico Xavier, e sim por Emmanuel. E para agravar a confusão, normalmente não consta a referência literária, ou seja, não ficamos sabendo de qual obra o pensamento foi retirado, o que gera dois problemas: primeiro, não temos como saber se o pensamento é verídico e quem é, de fato, seu autor; segundo, perdemos a oportunidade de divulgar o livro espírita e remeter o leitor internauta para a fonte primária, que é muito importante. Muitas vezes, nessa situação, fazemos um desserviço à causa e, também, às editoras, que tantas vezes fazem enormes sacrifícios para publicar os livros, prejudicando-as com uma divulgação ineficaz, por incompleta.

É muito fácil colocar palavras na boca de qualquer pessoa, esteja ela encarnada ou desencarnada, com o agravante que agora até a voz da pessoa pode ser imitada pela inteligência artificial, mas será que ela realmente disse aquilo? Onde está a fonte, a referência literária? É muito fácil afirmar que Divaldo Franco disse isso ou aquilo, mas onde está a prova dessa afirmação? Essa situação é tão grave, que conhecido palestrante e escritor brasileiro, não espírita, foi obrigado a criar em seus vídeos publicados nas redes sociais um alerta para informar que suas falas verdadeiras são apenas e tão somente as que ele publica nos seus canais oficiais. Foi obrigado a isso diante de tanta adulteração publicada em seu nome.

Diante dessa realidade, chamamos a atenção de todo espírita: cite sempre a fonte, mostre o livro, diga em que vídeo, e onde ele está publicado, colheu a informação, ou em qual revista ou jornal. E faça a referência de modo correto: não confunda, quando for o caso, o médium com o autor espiritual. E mais: nunca altere o original, pois isso é considerado adulteração sujeita às penas previstas na lei do direito autoral, além de ser desonesto, o que não cabe ao verdadeiro espírita.

Assim, não esqueçamos a referência literária, legitimando a informação e permitindo aos interessados ir à fonte, onde poderão estudar com maior profundidade, podendo conhecer melhor o Espiritismo, para melhor praticá-lo e mais corretamente divulgá-lo. Com esse cuidado vamos separar o joio do trigo, o alho do bugalho, a verdade da mentira, deixando de espalhar fake news e zelando pelo que verdadeiramente é o Espiritismo.

 

Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui 40 livros publicados.


 
 

     
     

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