Estudando muitos autores e pesquisadores espíritas,
notamos que existe em alguns momentos uma linha muito
tênue entre uma depressão e uma obsessão. Podemos até
dizer que uma depressão pode ter como pano de fundo uma
obsessão, mas nem sempre isso ocorre ao contrário com a
mesma intensidade.
Embora depressão e obsessão se confundam às vezes,
existem alguns sintomas que, se forem bem
diagnosticados, podem apontar a direção do tratamento
mais adequado. Elas podem em alguns aspectos ser
parecidas, mas não são iguais.
A vida nas grandes cidades favorece processos doentios,
pela dificuldade de sobrevivência e grande competição
que, em alguns casos, contribui para o adoecimento das
pessoas em diferentes graus e intensidade. Independente
dos desafios da vida moderna, trazemos questões mal
resolvidas de vidas passadas que podem contribuir para
acentuar as nossas dificuldades na atual existência
física, desenvolvendo uma possível depressão ou até
mesmo favorecendo um processo de obsessão.
Somos portadores de comorbidades, como culpa, remorsos
ou mágoas que se não forem tratadas de forma oportuna,
acabam interferindo na atual existência como
enfermidades da alma. Essas dificuldades são
potencializadas pelas pressões do mundo moderno, que
acabam despertando sob a forma de doenças mentais e
neuroses cujo gatilho é a frustração e impotência diante
de um mundo tão competitivo. O sentimento de fracasso e
baixa estima são fortes sintomas de uma depressão.
Izaias Claro, em seu livro Depressão: Causas,
Consequências e Tratamento, procura esclarecer que a
busca pelo autoconhecimento e a compreensão do que se
passa é fundamental para aceitar um tratamento ou
controle, pois a depressão pode refletir um conjunto de
dificuldades que somos portadores complicando a maneira
como lidamos com os acontecimentos em nossa vida. A
depressão pode vir a favorecer um processo de obsessão,
dependendo do nosso histórico espiritual e das nossas
comorbidades. (1)
Suely Caldas Schubert, em seu famoso livro Obsessão e
Desobsessão, explica que a origem de um processo
obsessivo pode ser tão antiga, que já se perdeu na
poeira do tempo. Quase sempre um processo obsessivo
exprime uma vingança de um espírito. O tratamento desse
processo de obsessão vai implicar em uma reforma íntima
do enfermo, sua evangelização, já que os fatores que
favorecem ao adoecimento estão atrelados à história
espiritual do enfermo que busca ajuda. (2)
Quando estudamos sobre perturbações e transtornos
mentais percebemos que existe uma relação entre as
nossas comorbidades, como nossos vícios, tendências e
paixões. Seria às vezes necessário uma regressão de
memória para entender a origem ou as permissividades que
desencadearam esse processo em nosso passado espiritual.
Fica difícil, como diz Suely Caldas, entender a origem,
sendo mais fácil promover um tratamento para o
equilíbrio do sofredor e superação das suas
dificuldades. Até porque não temos garantia que a
revelação do motivo central ajude na superação dos
desequilíbrios apresentados. (3)
Marlene Freitas Nobre comenta em seu livro A Obsessão
e suas Máscaras que no planeta Terra noventa por
cento das pessoas vivem algum tipo de processo
obsessivo, embora procurem trabalhar pela sua
reabilitação. Para perceber esse contexto em que o
indivíduo em sofrimento está inserido, precisa de ajuda
médica, terapêutica e psiquiátrica. A reabilitação com o
tempo poderá garantir o equilíbrio. (4)
Como existem diferentes graus de depressão, também
existem diferentes níveis de obsessão, que podem variar
de uma simples influência nas formas de pensamento,
passando por uma fascinação e chegando ao extremo da
subjugação. Como nos diz Suely Caldas, a origem do
problema reside na história espiritual do indivíduo,
acrescida ao longo do tempo das suas atitudes que
reforçam o problema ou o atenuam.
O autoconhecimento é fundamental para perceber, até que
ponto as nossas emoções, podem estar refletindo um
sentimento de frustração e impotência diante da nossa
vida. Esse sentimento pode ser produzido por fatores
externos ou emoções internas que reverberam no nosso
mundo íntimo. Existe uma tênue e difícil capacidade de
diagnóstico entre essas duas situações.
Em diversos momentos Allan Kardec procura explicar que
muitos de nós, somos portadores de um quadro obsessivo
em diferentes graus. Vamos encontrar essa explicação em
algumas das suas obras, como:
“A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante
dos flagelos com que a humanidade se vê a braços neste
mundo. A obsessão que é um dos efeitos de semelhante
ação, como as enfermidades e todas as atribulações da
vida, deve, pois, ser considerada como provação ou
expiação e aceita com esse caráter.
A obsessão é a ação persistente que um mau espírito
exerce sobre um indivíduo. Ela apresenta
características, muito diferentes que vão desde a
simples influência moral, sem sinais exteriores
perceptíveis, até a perturbação completa do organismo e
das faculdades mentais”. (5)
O mais curioso é que o sintoma de melancolia ou tristeza
pela frustração diante dos fracassos naturais da vida
nas grandes cidades, pode mascarar um processo obsessivo
de vingança vindo de encarnações passadas, onde um
credor desencarnado cobra de um devedor encarnado uma
velha dívida, um acerto de contas. Os sintomas se
mesclam ficando às vezes difícil de se diagnosticar.
Como em alguns casos o comprometimento é muito grande,
existe a sugestão médica para um tratamento com
psiquiatra e uma terapia, assim como procurar promover o
seu autoconhecimento.
O enfermo deveria fazer uma releitura da vida por
intermédio de terapias holísticas que o ajude a avaliar
o contexto que se encontra, assim como o melhor
tratamento a ser procurado, nunca abandonando as
orientações médicas e os remédios, ir utilizando outros
tratamentos como uma medicina alternativa complementar.
Isso é muito importante se ter em mente.
As causas da depressão ou até mesmo da obsessão, podem
estar correlacionadas a nossa história espiritual de
outras existências. Dessa forma Allan Kardec, nos
oferece para reflexão, um trecho, d’O Livro dos
Médiuns:
“As causas da obsessão variam conforme o caráter do
Espírito; às vezes é uma vingança que ele exerce sobre
um indivíduo de quem teve algo de que se queixar durante
a sua vida ou numa outra existência; com frequência
também não há outra razão senão o desejo de fazer mal: o
Espírito como sofre, entende de fazer que os outros
sofram...
Esses Espíritos agem, não raro por ódio e inveja do bem;
daí o lançarem suas vistas malfazejas sobre as pessoas
mais honestas. Um deles se apegou como uma traça a uma
honrada família do nosso conhecimento, à qual, aliás,
não teve a satisfação de enganar. Interrogado acerca do
motivo por que se agarrara a pessoas distintas, em vez
de o fazer a homens maus como ele, respondeu: estes não
me causam inveja”. (6)
Assim como a depressão, se a obsessão não for
devidamente diagnosticada e tratada corretamente, elas
se tornarão pelas estatísticas da Pesquisa Nacional de
Saúde (PNS) e IBGE, possíveis doenças físicas e
transtornos mentais que irão incapacitar e afastar do
trabalho no Brasil e no mundo um grande percentual da
população neste século XXI.
Referências:
1) Claro,
Izaias; Depressão, Causas, Consequências e
Tratamento (08/2001); Cap. VI – Cura; Ed. Clarim.
2) Schubert.
Suely Caldas; Obsessão e Desobsessão; 1a p.
– Cap. 3: O que é Obsessão; FEB.
3) Schubert.
Suely Caldas; Transtornos Mentais; Cap. 9 - As
Obsessões: it. - Vícios e obsessão; Ed. Minas Editora.
4) Nobre, Marlene Rossi Severino; A
Obsessão e suas Máscaras; 1a parte
– Cap. 17 – Terapêutica e profilaxia; Ed. Fé.
5) Kardec,
Allan; A Gênese, Os Milagres e as Predições segundo o
Espiritismo; Cap. XIV - Obsessões e possessões; it.
45; Ed. FEB.
6) Kardec,
Allan; O Livro dos Médiuns; Cap. XXIII – Da
Obsessão: Causas da Obsessão – item 245; Ed. FEB.