Especial

por Eder Andrade

Relação entre depressão e obsessão

 

Estudando muitos autores e pesquisadores espíritas, notamos que existe em alguns momentos uma linha muito tênue entre uma depressão e uma obsessão. Podemos até dizer que uma depressão pode ter como pano de fundo uma obsessão, mas nem sempre isso ocorre ao contrário com a mesma intensidade.

Embora depressão e obsessão se confundam às vezes, existem alguns sintomas que, se forem bem diagnosticados, podem apontar a direção do tratamento mais adequado. Elas podem em alguns aspectos ser parecidas, mas não são iguais.

A vida nas grandes cidades favorece processos doentios, pela dificuldade de sobrevivência e grande competição que, em alguns casos, contribui para o adoecimento das pessoas em diferentes graus e intensidade. Independente dos desafios da vida moderna, trazemos questões mal resolvidas de vidas passadas que podem contribuir para acentuar as nossas dificuldades na atual existência física, desenvolvendo uma possível depressão ou até mesmo favorecendo um processo de obsessão.

Somos portadores de comorbidades, como culpa, remorsos ou mágoas que se não forem tratadas de forma oportuna, acabam interferindo na atual existência como enfermidades da alma. Essas dificuldades são potencializadas pelas pressões do mundo moderno, que acabam despertando sob a forma de doenças mentais e neuroses cujo gatilho é a frustração e impotência diante de um mundo tão competitivo. O sentimento de fracasso e baixa estima são fortes sintomas de uma depressão.

Izaias Claro, em seu livro Depressão: Causas, Consequências e Tratamento, procura esclarecer que a busca pelo autoconhecimento e a compreensão do que se passa é fundamental para aceitar um tratamento ou controle, pois a depressão pode refletir um conjunto de dificuldades que somos portadores complicando a maneira como lidamos com os acontecimentos em nossa vida. A depressão pode vir a favorecer um processo de obsessão, dependendo do nosso histórico espiritual e das nossas comorbidades. (1)

Suely Caldas Schubert, em seu famoso livro Obsessão e Desobsessão, explica que a origem de um processo obsessivo pode ser tão antiga, que já se perdeu na poeira do tempo. Quase sempre um processo obsessivo exprime uma vingança de um espírito. O tratamento desse processo de obsessão vai implicar em uma reforma íntima do enfermo, sua evangelização, já que os fatores que favorecem ao adoecimento estão atrelados à história espiritual do enfermo que busca ajuda. (2)

Quando estudamos sobre perturbações e transtornos mentais percebemos que existe uma relação entre as nossas comorbidades, como nossos vícios, tendências e paixões. Seria às vezes necessário uma regressão de memória para entender a origem ou as permissividades que desencadearam esse processo em nosso passado espiritual. Fica difícil, como diz Suely Caldas, entender a origem, sendo mais fácil promover um tratamento para o equilíbrio do sofredor e superação das suas dificuldades. Até porque não temos garantia que a revelação do motivo central ajude na superação dos desequilíbrios apresentados. (3)

Marlene Freitas Nobre comenta em seu livro A Obsessão e suas Máscaras que no planeta Terra noventa por cento das pessoas vivem algum tipo de processo obsessivo, embora procurem trabalhar pela sua reabilitação. Para perceber esse contexto em que o indivíduo em sofrimento está inserido, precisa de ajuda médica, terapêutica e psiquiátrica. A reabilitação com o tempo poderá garantir o equilíbrio. (4)

Como existem diferentes graus de depressão, também existem diferentes níveis de obsessão, que podem variar de uma simples influência nas formas de pensamento, passando por uma fascinação e chegando ao extremo da subjugação. Como nos diz Suely Caldas, a origem do problema reside na história espiritual do indivíduo, acrescida ao longo do tempo das suas atitudes que reforçam o problema ou o atenuam.

O autoconhecimento é fundamental para perceber, até que ponto as nossas emoções, podem estar refletindo um sentimento de frustração e impotência diante da nossa vida. Esse sentimento pode ser produzido por fatores externos ou emoções internas que reverberam no nosso mundo íntimo. Existe uma tênue e difícil capacidade de diagnóstico entre essas duas situações.

Em diversos momentos Allan Kardec procura explicar que muitos de nós, somos portadores de um quadro obsessivo em diferentes graus. Vamos encontrar essa explicação em algumas das suas obras, como:

“A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão que é um dos efeitos de semelhante ação, como as enfermidades e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como provação ou expiação e aceita com esse caráter.

A obsessão é a ação persistente que um mau espírito exerce sobre um indivíduo. Ela apresenta características, muito diferentes que vão desde a simples influência moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”. (5)

O mais curioso é que o sintoma de melancolia ou tristeza pela frustração diante dos fracassos naturais da vida nas grandes cidades, pode mascarar um processo obsessivo de vingança vindo de encarnações passadas, onde um credor desencarnado cobra de um devedor encarnado uma velha dívida, um acerto de contas. Os sintomas se mesclam ficando às vezes difícil de se diagnosticar.

Como em alguns casos o comprometimento é muito grande, existe a sugestão médica para um tratamento com psiquiatra e uma terapia, assim como procurar promover o seu autoconhecimento.

O enfermo deveria fazer uma releitura da vida por intermédio de terapias holísticas que o ajude a avaliar o contexto que se encontra, assim como o melhor tratamento a ser procurado, nunca abandonando as orientações médicas e os remédios, ir utilizando outros tratamentos como uma medicina alternativa complementar. Isso é muito importante se ter em mente.

As causas da depressão ou até mesmo da obsessão, podem estar correlacionadas a nossa história espiritual de outras existências. Dessa forma Allan Kardec, nos oferece para reflexão, um trecho, d’O Livro dos Médiuns:

“As causas da obsessão variam conforme o caráter do Espírito; às vezes é uma vingança que ele exerce sobre um indivíduo de quem teve algo de que se queixar durante a sua vida ou numa outra existência; com frequência também não há outra razão senão o desejo de fazer mal: o Espírito como sofre, entende de fazer que os outros sofram...

Esses Espíritos agem, não raro por ódio e inveja do bem; daí o lançarem suas vistas malfazejas sobre as pessoas mais honestas. Um deles se apegou como uma traça a uma honrada família do nosso conhecimento, à qual, aliás, não teve a satisfação de enganar. Interrogado acerca do motivo por que se agarrara a pessoas distintas, em vez de o fazer a homens maus como ele, respondeu: estes não me causam inveja”. (6)

Assim como a depressão, se a obsessão não for devidamente diagnosticada e tratada corretamente, elas se tornarão pelas estatísticas da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e IBGE, possíveis doenças físicas e transtornos mentais que irão incapacitar e afastar do trabalho no Brasil e no mundo um grande percentual da população neste século XXI.

 

Referências:

1) Claro, Izaias; Depressão, Causas, Consequências e Tratamento (08/2001); Cap. VI – Cura; Ed. Clarim.

2) Schubert. Suely Caldas; Obsessão e Desobsessão; 1p. – Cap. 3: O que é Obsessão; FEB.

3) Schubert. Suely Caldas; Transtornos Mentais; Cap. 9 - As Obsessões: it. - Vícios e obsessão; Ed. Minas Editora.

4) Nobre, Marlene Rossi Severino; A Obsessão e suas Máscaras; 1a parte – Cap. 17 – Terapêutica e profilaxia; Ed. Fé.

5) Kardec, Allan; A Gênese, Os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo; Cap. XIV - Obsessões e possessões; it. 45; Ed. FEB.

6) Kardec, Allan; O Livro dos Médiuns; Cap. XXIII – Da Obsessão: Causas da Obsessão – item 245; Ed. FEB.

    

     
     

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