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As estações da vida
Na infância, jungido a um corpo frágil, me submeto ao
que me rodeia. Começo a aprender, recuperando na memória
as imagens, os sons, os sinais, que vou reinstalando em
novos moldes. A minha fragilidade pede amor e atenção
constantes.
Na juventude, o mundo é grande e eu sou forte o bastante
para muda-lo. Não vejo limites, organizo grupos para
combater os defeitos sociais, canalizo para a arte
minhas inquietações, grito com força, querendo que me
ouçam. A minha impetuosidade pede amor e atenção
constantes.
Na maturidade vivo a mais longa das fases humanas. A
razão afirma que o mundo é pequeno. Enfrento desafios,
construo prédios, monto família, busco fortuna, guardo
para o futuro. As desilusões vêm, suficientes para me
causar preocupações. Penso em mudar a estratégia de
vida, cuja manutenção pede mais atenção e amor.
Na velhice, o mundo não é grande como eu imaginei nem
tão pequeno quanto me parecia. No concerto universal,
não passa de morada modesta, que tem também suas fases
de amadurecimento como qualquer organismo vivo.
Nessa etapa final da vida física – a velhice – ,
costuma-se olhar para trás com mais frequência.
Infância, juventude, maturidade, velhice... Esse ciclo
se repete nas encarnações do Espírito, que vai joeirando
através do tempo as impurezas naturais da sua
imaturidade. Assim como o minuto é fragmento da hora, e
o dia partícula do ano, sendo, porém, finitos, esse
sopro que vivo é fração da vida eterna.
Todas as fases vividas me mostraram a importância do
semelhante na minha formação como homem, e através das
escolhas, me serviram para recolher a matéria-prima da
vida – os valores morais.
Hoje, diminuindo a volúpia da marcha, posso observar
melhor os estreitos limites do corpo em comparação com
as altas exigências do Espírito.
Os fatos materiais vividos foram apenas pretexto,
exercícios de progresso do Espírito.
O homem jamais chegará ao seu destino vivendo somente
uma vida, e apenas na Terra. Ao término de cada jornada,
pensa em modelar com sua própria argila um outro
corpo e recomeçar mais preparado. O destino do homem é
espiritual e grandioso, como grandioso é Deus.
Texto inspirado na crônica “O Homem
Novo”, do livro de mesmo nome, de José Herculano Pires,
edição Correio Fraterno, 1983.
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