Espiritualidade e Saúde:
Mednesp 2025 reforça urgência de integrar
espiritualidade à Medicina no Brasil
Durante o Mednesp 2025, maior congresso mundial sobre
saúde e espiritualidade, realizado de 18 a 21 de junho,
em São Paulo (SP), especialistas e pesquisadores
discutiram os desafios e caminhos para integrar a
espiritualidade à formação médica e à prática clínica no
Sistema Único de Saúde (SUS). Foi enfatizada também a
importância de estimular jovens profissionais desde a
graduação, com programas de mentoring e incentivo à
formação de pesquisadores comprometidos com rigor
científico e inovação.

Mais de 1.900 pessoas estiveram no congresso, que se
encerrou já com 600 inscrições para o próximo, marcado
para 2027, em Recife (PE).
Casos apresentados durante o evento evidenciam como a
espiritualidade fortalece a resiliência de pacientes e
contribui na superação de traumas, lutos e conflitos
familiares. Exemplos contundentes ilustram essa
realidade: uma mãe solo que encontra na espiritualidade
a força para seguir adiante, um paciente que supera o
desespero após perder familiares próximos, e casais que
redescobrem o perdão e a esperança por meio do
reencontro com a fé. “Esses relatos comprovam que o
componente espiritual não é um luxo, mas uma necessidade
para manter a qualidade de vida e promover o engajamento
emocional no tratamento”, declara o psiquiatra,
presidente da Associação Médico-Espírita de São Paulo e
coordenador do evento Marcus Ribeiro.
No ambiente acadêmico e clínico, a integração da
espiritualidade na abordagem médica representa um
desafio e uma oportunidade. Ensinar profissionais a
valorizar os aspectos psicossociais e espirituais na
anamnese, respeitando a individualidade e evitando
doutrinação, amplia a capacidade de oferecer um
atendimento humanizado e eficaz. A entrevista
motivacional foi citada como método eficaz para conectar
o paciente com seus valores e propósitos.
Do ponto de vista da pesquisa, apesar dos avanços
tecnológicos e metodológicos que permitem explorar a
relação mente-corpo, o paradigma materialista vigente
ainda dificulta a aceitação plena desses achados. No
entanto, segundo Ribeiro, a sobrevivência da consciência
e o impacto da espiritualidade na saúde já contam com um
robusto corpo de evidências científicas que continuam a
crescer. “É preciso perseverança e visão para conduzir
essa transformação paradigmática, sem apressar
resultados, mas com a dedicação necessária”, afirma.

A presença da médica americana Christina Puchalski
(foto),
diretora-executiva e professora de Medicina e Ciências
de Saúde da Universidade de Washington, D.C.,
considerada líder internacional do movimento para
integrar a espiritualidade na saúde, foi um marco que
reforçou a urgência e a relevância da integração da
espiritualidade na prática clínica, especialmente no
cuidado de pacientes graves e em contextos hospitalares.
Médica com vasta experiência em cuidados paliativos e
saúde espiritual, Christina trouxe à tona debates
essenciais para a transformação da medicina tradicional,
tão focada na biologia e pouco preparada para escutar o
sofrimento espiritual dos pacientes.
Referência mundial no tema, ela reforçou que "a
espiritualidade é a raiz que sustenta toda a árvore do
cuidado em saúde". Ela alertou que, mesmo em países
espiritualizados como o Brasil, o isolamento espiritual
no ambiente hospitalar ainda é comum. "Na prática
hospitalar, o paciente pode se sentir isolado
espiritualmente, mesmo em um país muito espiritualizado
como o Brasil. Reconhecer isso é cuidado essencial, não
luxo", afirmou.
Christina compartilhou o caso de uma paciente católica
com medo do purgatório que só foi compreendida com apoio
de um capelão especializado. Ela defendeu que a história
espiritual do paciente deve integrar o atendimento, com
participação da família, e que é preciso também acolher
quem não se identifica com religiões institucionais,
oferecendo caminhos de transcendência acessíveis.
Além disso, a médica ressaltou a importância de oferecer
caminhos para pacientes que não se identificam com
religiões formais, indicando práticas como meditação e mindfulness,
sempre respeitando o espaço e a vontade do paciente:
“Nem todo paciente está confortável com religião formal.
A abordagem precisa ser inclusiva, aberta, baseada na
escuta compassiva”, declarou a médica, uma das primeiras
na América do Norte a receber o Prêmio John Templeton
Award for Spirituality in Medicine.
Christina alertou ainda para a necessidade de mudança
cultural na Medicina, com médicos menos centrados na
autoridade e mais focados na parceria com o paciente,
construindo juntos o plano de cuidados: “Não somos
ditadores, somos iguais. O clínico e o paciente cocriam
o plano focado no que faz sentido para ele”.
Ao final de seu seminário, a médica reforçou a urgência
da transformação na forma de cuidar: “A espiritualidade
é invisível, mas é a raiz que sustenta toda a árvore do
cuidado. Sem ela, o paciente pode estar biologicamente
assistido, mas espiritualmente isolado. Essa realidade
precisa mudar”.
A fala de dra. Christina no Mednesp 2025 reforçou que o
futuro da medicina será integrativo, plural e centrado
na pessoa, valorizando a dimensão espiritual como parte
inseparável da saúde e do bem-estar.
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Presente no evento, o geriatra Fábio Nasri (foto) foi eleito na
oportunidade como o novo presidente da AME-Brasil,
sucedendo assim ao dr. Gilson Luis Roberto. |
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