Reuniões de tratamento físico e
espiritual
Recebemos de um amigo espírita relato sobre atividades
implementadas numa instituição espírita de sua cidade,
para as quais solicita nosso comentário à luz da
Doutrina Espírita. Eis seu relato, enviado por e-mail:
A casa em questão criou um serviço de "Atendimento
Espiritual" com médiuns incorporados que orientam
psicologicamente os interessados, se prestam a
tratamentos físicos, não sei se oferecem receitas, e
mais, distribuem a famosa Pomada do Vovô Pedro, mesmo
para quem vai ser submetido a cirurgia pelos serviços
médicos formais. Mesmo para quem nem buscou atendimento
médico formal é aceito e "tratado" pelos Espíritos. Não
estou bem certo, mas parece que já falam em Psicoterapia
Reencarnacionista.
Diante desse relato e que, pelo nosso conhecimento
pessoal, não é único, pois temos visto muitas
instituições espíritas voltadas quase que
exclusivamente, ou com grande prioridade, ao chamado
tratamento espiritual, antes de mais nada devemos
compreender qual é a finalidade do Espiritismo. Essa
finalidade está muito bem delineada pelos Espíritos
Superiores e por Allan Kardec, em O Livro dos
Espíritos, obra básica, essencial, da Doutrina
Espírita: auxiliar na transformação moral da humanidade.
É, portanto, uma tarefa muito mais educacional do que
médica, muito mais preventiva, levando as pessoas para
sua transformação moral individual, para seu
melhoramento, para seu progresso espiritual, pois não
somos o corpo físico, mas a alma imortal.
Afirmam muitos estudiosos do Espiritismo que a
instituição espírita é também hospital, e disso não
discordamos, mas entendemos seja hospital de almas, e
não de corpos perecíveis. É antes, escola de almas, onde
vamos aprender as sublimes lições morais do Evangelho;
onde vamos colocar em prática a caridade, a
solidariedade e a fraternidade; onde vamos estudar a
vida do ponto de vista espiritual, pois a morte não
existe. O Espiritismo é poderoso auxiliar para o
progresso espiritual da humanidade, cabendo à
instituição espírita envidar esforços em facilitar esse
entendimento por parte dos seus frequentadores e adeptos
da doutrina.
O Espiritismo não veio ao mundo para substituir a
Medicina ou qualquer ciência, como a Psicologia; veio ao
mundo para colaborar com a ciência, trazendo uma nova
visão sobre o ser humano e a vida, contribuindo para
alargar e aprofundar todas as ciências que ainda possuem
seus postulados restritos à matéria. Diante disso, se
não condenamos a atividade de tratamento espiritual, que
muitas pessoas chamam indevidamente de cura espiritual,
pois não podemos garantir que a pessoa em tratamento
fique curada, então, se não condenamos, também
entendemos que não deve ser a prioridade da instituição
espírita, pois que adianta ter a instituição lotada de
pessoas para tratamento de seus problemas orgânicos, se
a maioria não quer conhecer o Espiritismo, nem realizar
sua transformação moral?
Tivemos, mais de uma vez, experiência pessoal quanto a
essa questão, reportando-nos especificamente a uma
ocasião em que fomos recepcionados num domingo pela
manhã para palestra em instituição de grande porte no
interior paulista. O auditório estava lotado, com quase
mil pessoas, mas, coisa estranha, após a palestra, com
tudo preparado para o atendimento ao público numa sessão
de autógrafos dos livros de minha autoria, a presença
foi mínima, causando-nos surpresa. Fomos então
informados que naquele momento as pessoas estavam em
outra dependência da instituição para o tratamento
espiritual, e que terminada a atividade, a saída era por
outro caminho. A cena foi constrangedora para meu
anfitrião, que prepara tudo com muito carinho, mas o
fato é que o público estava mesmo querendo o tratamento
espiritual, e não ouvir a palestra e estudar a Doutrina
Espírita.
Não podemos esquecer que somos Espíritos reencarnados, e
que o Espiritismo é essencialmente doutrina de educação
desse ser imortal destinado à perfeição.
Quanto aos médiuns incorporados que orientam
psicologicamente os interessados, não duvidamos da boa
intenção, da boa-fé dos dirigentes, dos médiuns e dos
Espíritos, mas não é função dos desencarnados
substituírem os Psicólogos, Psicanalistas, Psiquiatras e
Terapeutas. Essa atividade equivale à famosa “consulta”,
que ocorria muito em tempos atrás, quando as pessoas
consultavam os Espíritos a respeito dos mais diversos
assuntos, com o médium em transe, e sabemos dos
malefícios, dos inconvenientes, dessa atividade. A
mediunidade não é espetáculo público. Os bons Espíritos
têm muito trabalho a fazer, e não se prestam a ficar
promovendo orientação psicológica a quem quer que seja,
pois suas orientações são sempre de ordem moral.
Nosso amigo refere-se ao uso da Pomada do Vovô Pedro,
que tem uma história espiritual muito bonita, a qual não
vamos detalhar, com seus benefícios comprovados,
principalmente nos tratamentos de doenças da epiderme.
Embora possa ter utilização em outros casos, não é uma
pomada milagrosa para toda doença. Primeiro, porque
milagre não existe, tudo está na lei divina; segundo,
porque seu uso deve ser acompanhado da fé verdadeira, o
que nem sempre ocorre. Ela pode ser indicada, com
distribuição gratuita, mas não é um remédio que tudo vá
curar, pois não é essa a função dessa pomada.
Quanto à Psicoterapia Reencarnacionista vamos nos abster
de qualquer comentário, pois a desconhecemos e,
portanto, não podemos fazer juízo sobre a mesma que, até
onde temos conhecimento, e, portanto, podemos pecar por
não conhecer, dela não temos informação nas obras
básicas e subsidiárias do Espiritismo.
Se queremos, realmente, uma humanidade melhor, que nos
receba no futuro, pela porta da reencarnação, com amor,
paz e justiça, compreendamos que a instituição espírita,
para ser legítima representante do Espiritismo, precisa,
prioritariamente, caracterizar-se como escola de almas
em progresso, pois “o Espírito é tudo, o corpo é nada”.
Marcus De Mario é escritor, educador,
palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de
estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no
YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita;
produz e apresenta programas espíritas na internet;
possui 39 livros publicados.
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