Rumo à luz
O que é a morte? Um salto às escuras? Muralha de
dúvidas? Barreira intransponível à comunicação? Ou um
breve intervalo entre existências que se interligam?
Ainda estamos condicionados à atmosfera de sombras e
lágrimas que herdamos de priscas eras, sempre
considerando ser essa ocorrência natural a pior desgraça
para a criatura humana.
A morte, desde que não seja antecipada em processo de
fuga, deveria ser encarada de forma mais suave, visto
que faz parte natural da vida e de suas sucessões. Além
disso, em um futuro próximo, a comunicação com nossos
entes queridos se tornará tão simples e natural que
poderemos continuar nossos relacionamentos da mesma
forma como fazíamos enquanto estavam encarnados
O que Paulo, o apóstolo, quis dizer com a expressão “Para
mim viver é Cristo e morrer é lucro”? Revelou que se
nos prepararmos para a morte, adequadamente, no
transcorrer da vida, ela se tornará verdadeira
libertação.
O que significa “preparar-se para a morte”?
Significa aproveitar o tempo para o aprendizado
intelectual e para a sublimação dos sentimentos, isto é,
cuidar da linearidade entre as asas do conhecimento e do
amor, para não girarmos em círculos, sem ir a lugar
algum.
A primeira asa é a do desenvolvimento da inteligência,
com a qual alimentaremos os potenciais criadores que
revelam o porquê e a finalidade da vida. A outra asa é a
do desenvolvimento moral, que ausculta, em nossas
riquezas íntimas, o que efetivamente Deus espera de nós.
Ele generosamente nos enviou Jesus, que ofereceu a
cartilha do amor divino, verdadeiro GPS com que podemos
caminhar com segurança pelos caminhos traçados pela
Divindade.
O céu e o inferno começam dentro de nós. Já morremos e
remorremos muitas vezes. Mesmo assim, ainda não
detectamos o que mais empolga nosso espírito. Ao sugerir
que nos conheçamos a nós mesmos, Santo Agostinho estava
propondo que devemos nos desfazer, de uma vez por todas,
da túnica que vimos portando por várias vidas, carregada
de pensamentos infelizes. Não passou da hora de nos
livrarmos dos perniciosos reflexos condicionados que
ainda conduzem nossas ações pelos mesmos caminhos de
outrora?
Sacudindo essa famigerada túnica, perguntaremos a nós
mesmos:
— Afinal! Além de Deus, quem manda em meu destino? Os
velhos hábitos, o homem velho que persiste em morar no
meu interior, a fera agressiva que não sai do meu peito?
Num dos raros momentos de lucidez do espírito,
respirando a longos haustos e criando coragem, será o
momento de dizermos:
— A partir de agora, o bem norteará o meu coração, de
forma que um dia, como Paulo, eu possa afirmar que não
serão mais os velhos hábitos que me dirigirão e sim o
Cristo que vive em mim! E direi, como Paulo de Tarso: “Para
mim viver é Cristo e morrer é lucro”.