Vale a pena orar? A ser colocada ao homem da rua, esta
pergunta deveria ter na sua maioria uma resposta
indiferente. Mas se os factos forem analisados, a
resposta toma melhor rumo.
Um dos vultos mais conhecidos nesta área de
investigação, Harold Koenig, professor de Medicina da
Universidade de Duke, EUA, afirma que sim, vale muito a
pena orar bem, e toma por base dessa afirmação numerosas
pesquisas científicas. Koenig é autor de cerca de 40
livros e publicou mais de 300 artigos científicos.
Em declarações à imprensa disse que "há uma relação
significativa entre frequência da prática religiosa e
longevidade. Acredito que o impacto na sobrevida seja em
torno de 35%".
Por exemplo, o estudo publicado na revista científica
"American Heart Journal", centrada em cardiologia, em
2001 já apontava nesse sentido. Num estudo sob a égide
da Universidade de Duke, Koenig dividiu em dois grupos
120 pacientes de cardiologia submetidos a angioplastia,
uma doença relacionada com enfarte agudo do miocárdio.
Sem o saber, um grupo de pós-operados foi alvo de preces
feitas por sacerdotes e outras pessoas durante um ano.
Resultado: esses pacientes tiveram uma redução de
efeitos colaterais (morte, insuficiência e ataque
cardíaco) na ordem dos 25% a 30% em relação aos demais.
Será assim porque reduz o stress?
Um dos investigadores conhecidos que estudou o stress é
Robert Sapolsky, professor de neurologia da Universidade
de Stanford, EUA.
Numa certa fase da sua carreira centrou-se em grupos de
babuínos selvagens, em África. Relativamente próximos da
espécie humana, partilhamos com esses primatas diversas
variáveis. Para sabermos um pouco mais sobre babuínos,
deve ser dito que têm mais de 30 vocalizações para
interagirem entre si. Há cinco espécies diferentes. Cada
grupo pode contar mais de 300 membros e estabelecem
hierarquia social com foco em elementos do grupo que são
dominantes e outros dominados a vários níveis.
Identificada a posição de diversos indivíduos no bando,
com uma zarabatana Sapolsky sedava o babuíno selecionado
e extraía sangue para análises. Isso permitiu-lhe saber,
por exemplo, como se apresentavam em cada um as hormonas
de stress.
Verificou que os animais situados nos patamares
inferiores da hierarquia tinham níveis mais elevados de
hormonas de stress, apresentavam um ritmo cardíaco mais
acelerado e maior pressão sanguínea. O sistema
reprodutivo estava periclitante.
Por sua vez, outra das principais conclusões destacou
que os babuínos dominantes tinham menor quantidade de
hormonas de stress, ou seja, quanto mais para baixo na
hierarquia do grupo mais stress evidenciavam.
Nos grupos humanos passa-se o mesmo.
O stress não é coisa pouca. Afirmam diversos cientistas
que influencia as funções fisiológicas por processos
estudados e tem impacto sobretudo sobre três sistemas
ligados à defesa do organismo: o imunológico, o
endócrino e o cardiovascular. Se esses sistemas não
funcionarem bem, mais facilmente se fica doente.
Deve dizer-se, porém, que há diversos tipos de stress.
Se o stress de curta duração é inofensivo, já o stress
de continuidade carece de interruptor, caso contrário a
saúde tenderá a ficar debilitada.
Disse saúde?
Sem dúvida. A ideia de saúde é vasta.
Na dimensão material, contudo, a Organização Mundial da
Saúde destaca há vários anos um feliz alvitre: definiu
saúde como "um estado de completo bem-estar físico,
mental e social e não apenas a ausência de doença".
Soma-se a este sistema ampliado a saúde física e a saúde
espiritual.
Nas reuniões mediúnicas de auxílio a quem parte para a
vida espiritual sem o desejável equilíbrio interior esse
facto é demasiado evidente.
Destaca-se a inoperância que caracteriza o amorfismo –
inércia afetiva – como um estado de alma. Não basta ser
neutro, é importante desenvolver trabalho íntimo de que
venha a resultar uma vida interior de bem-estar. Kardec
referiu assim esta lei da natureza: fora da caridade –
leia-se amor em movimento – não há salvação. Salvação
dos efeitos da nossa ignorância. Sem fatalismo,
entenda-se. A possibilidade de melhoria está ao virar de
cada minuto.
Está esclarecido igualmente que orar com sinceridade
melhora a sintonia espiritual. Orar é sentir e pensar no
melhor patamar dos sentimentos que cada um abriga no seu
psiquismo. Todo o pensamento interage entre afinidades,
e reforça-se com isso. As propriedades do corpo
espiritual, o perispírito, vão espelhar em qualquer
momento o teor do que pensamos e sentimos, restringindo
ou ampliando as perceções espirituais.
Com uma higiene mental cuidada, as sugestões oportunas
dos amigos espirituais tornam-se mais acessíveis, mais
assimiláveis. O aproveitamento das experiências de vida
aumenta e o raciocínio pacificado fica mais claro e
cristalino. Criam-se condições para agir melhor com esse
processo iluminativo do mundo interior de cada um ao
respirar amor tão incondicional quanto possível.
Ainda assim, é verdade que orar não dispensa ninguém do
trabalho que lhe cumpre realizar. No livro À luz da
oração, psicografado por Francisco Cândido Xavier,
de Emmanuel (Espírito), no capítulo "Em louvor da
oração" lê-se: "A oração, dentro da alma comprometida em
lutas na sombra, assemelha-se à lâmpada que se acende
numa casa desarranjada; a presença da luz não altera a
situação do ambiente desajustado, nem remove os detritos
acumulados no recinto doméstico, entretanto, mostra sem
alarde o serviço que se deve fazer".
Por sua vez, lê-se em O Livro dos Espíritos, de
Allan Kardec, na questão 659:
"Qual o caráter geral da prece?
- A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar
nele, é aproximar-se dele, é pôr-se em comunicação com
Ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece:
louvar, pedir, agradecer."
Um estado de espontaneidade e de gratidão pela
abundância diária de bênçãos discretas ou ostensivas que
nos cercam os passos evolutivos favorece uma boa
sintonia.
A prece não é um ato de representação, como Jesus de
Nazaré refere na boa nova (S. MATEUS, cap. VI, vv., 5 a
8).
Por outro lado, alguém pensará: "Às vezes queremos orar
com um sentimento bom e não conseguimos senti-lo". O
amorfismo sedimentou. Há solução para isso?
Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec,
no capítulo XV, "Fora da caridade não há salvação", há
esta conclusão experimental: "(...) uma virtude negativa
não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se
o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para
não se praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia
e a negligência". As memórias afetivas próprias de cada
um são poderoso dínamo de reativação dos bons
sentimentos, o respaldo indispensável para uma sintonia
espiritual mais feliz.
Prática mediúnica
Uma vertente experimental muito evidente decorre da
prática mediúnica. Observa-se nessas reuniões de auxílio
que a entrada na vida espiritual através da morte do
corpo físico não revela um solavanco evolutivo. É uma
continuidade, sem máscaras. Conflitos por resolver,
asneiras escondidas e resultados de comportamentos
autolesivos não são por si só interrompidos e
evidenciam-se na plástica do corpo espiritual, o
perispírito, de forma expressiva.
Essa continuidade é tão natural que, através dos
médiuns, a maior parte dos Espíritos que se manifestam
nesta fasquia de necessidade não sabem inicialmente
sequer que já estão na vida espiritual, tomados que
estão pela confusão do seu estado de alma. (1)
Em duas amostras de casos atendidos e anotados em
reunião mediúnica regular de auxílio verificou-se numa
delas que sabiam já estar desencarnados 67 e 152 não
sabiam. Numa outra amostra, 115 não sabiam, e apenas 8
sabiam.
Por sua vez, em relação a stress evidenciado no início
da conversa de esclarecimento através do transe
mediúnico, num total de 124 casos anotados entre 4 de
setembro de 2018 e 11 de junho de 2019, separámos stress
derivado predominantemente de sensação de dor física
(9%) e stress predominantemente psicológico (56%). Casos
que emparelhavam sensação de stress físico e psicológico
sem predominância de um sobre o outro deu 21%, sendo de
sublinhar que houve alguns casos atendidos de Espíritos
necessitados de ajuda que não ostentaram stress nem na
expressão física do médium nem na voz: 14%.

Em todos esses casos de necessidade de apoio, a prece
revela ser uma ferramenta de valor inestimável. Funciona
como alívio de casos mais aflitivos, como porta que se
abre para o reencontro de afetos, como luz valiosa para
os problemas do ser.
Ainda assim, não é a prece um gesto, uma representação.
Essa ferramenta incorpora leis da natureza que funcionam
através da mente encarnada ou desencarnada que se
posiciona na sua melhor fasquia para refletir e absorver
o amor de Deus, no qual existimos em qualquer plano de
vida e no qual respiramos.
Estamos ainda apenas a aprender a viver mais vezes o
amor incondicional, conforme Jesus de Nazaré
exemplificou.
(1) Póster “Reuniões mediúnicas;
uma análise estatística”; para acessar, clique
aqui
Jorge Gomes reside na cidade do Porto,
Portugal.