Do estábulo para o trabalho
Aprendi no belíssimo livro do doutor José Carlos
De Lucca, Simplesmente Francisco, da
editora Letramais, que no século XII em Assis,
na Itália, a mãe daquele que reencarnaria fiel
ao seu Mestre, Francisco, inicialmente João,
entrava em trabalho de parto para que esse
Espírito de escol tomasse nova vestimenta em
testemunho perante a humanidade de como os
cristãos precisam aprender a se comportar.
Naquela época não existia a anestesia para o
parto normal denominada de analgesia, realizada
através de uma técnica conhecida como peridural, cujos
detalhes não vêm ao caso.
O fato é que dona Pica, era esse o nome da mãe
de Francisco, experimentava as dores do parto
normal, que hoje está cada vez mais raro, porque
as mulheres, quando não fazem opção por não ter
filhos, preferem a cirurgia denominada
cesariana.
O termo “parto” tem origem do latim “partus”,
que significa “nascimento” ou “ato de parir”.
Deriva do verbo “parere”, que significa trazer à
luz” ou “gerar”.
Devido a essa origem, muitos não consideram
adequado, e sou da mesma opinião, embora não
represente significativamente nada, empregar o
termo “parto” à cirurgia para uma criança
nascer. O parto é um termo adequado quando o
nascimento ocorre pelas vias naturais que
existem no corpo feminino.
Seja lá como for, a pessoa nasce, ou melhor,
reencarna para dar cumprimento à Lei. E era essa
a situação que dona Pica enfrentava naquela
distante data. Com dores, sem analgesia, e a
criança estava dando muito trabalho com os
escassos recursos da época para vir ao mundo.
Nessa situação um estranho bate à porta da casa
de Pietro Bernardone, pai de Francisco.
Atendido, ele orienta que a senhora envolvida
nas dores do parto seja levada para o estábulo
do local, porque na casa a criança não nasceria.
Seguida essa orientação, cujo autor era um
ilustre desconhecido, o menino lança ao mundo
seu primeiro choro anunciando seu retorno a este
planeta de provas e expiações.
Tenho em alta desconfiança, já que não posso
provar, que foi o próprio Francisco quem pediu
para renascer nesse local e assim seguir os
passos do seu Mestre desde o seu surgimento na
face do planeta.
Retornando da sua viagem à França aonde fora a
negócios, o senhor Bernardone muda o nome de
João que a mãe havia dado ao filho, para
“Francesco” em homenagem aos franceses,
respeitáveis fregueses do estabelecimento
comercial na Itália.
Fico a meditar se nos fosse dado a escolher em
nossa programação reencarnatória a oportunidade
de renascer, se teríamos a humildade e a coragem
de optar por um local proporcional nos dias
atuais ao que Francisco supostamente escolheu.
Do estábulo, Francisco teve uma breve incursão
pelos sonhos da juventude da época e que nos
Espíritos de elevada evolução se desfazem no
chamamento das dores que o mundo os convida a
consolar.
Com ele também foi assim. Saltou do estábulo
para os seus irmãos leprosos. Deixou os
estábulos e confabulou com os animais, seus
irmãos menores.
Do estábulo doou-se sem nada esperar em troca.
Perdoou os mínimos pensamentos de crítica que
devem ter surgido ao reivindicar junto ao Papa
Inocêncio III ou Honório III a oportunidade de
fundar a ordem menor para que pudessem viver em
extrema pobreza, rica de humildade e pobre,
imensamente pobre, de orgulho e egoísmo.
Ah! Irmão Francisco! Ajuda-nos a sair dos
valores do mundo, a deitarmo-nos no berço da
humildade amparados pela ausência do orgulho e
da vaidade que ainda transbordam de nossos
sentimentos, como braços ávidos de agarrar-nos
às recompensas da Terra!
Auxilia-nos a buscar os leprosos que sustentam
as chagas da alma e dessa forma tratarmos as
nossas.
Ampara-nos na convivência com os corações
feridos que deixamos nas estradas das
existências e que agora nos procuram com a
permissão da Providência Divina para que
possamos amar na proporção em que as
reconciliações se fizerem necessárias!
Toca a nossa consciência através dos teus
mensageiros para que aprendamos a dar para
sermos atendidos como necessitados do Amor que
impera no Universo do Criador.
Deixa-nos apoiar em teus exemplos de fidelidade
ao Mestre para que consigamos perdoar ao nosso
próximo e também a nós mesmos, muitas vezes
necessitados do amor que negamos aos nossos
desequilíbrios que se repetem e ecoam em nossas
consciências imortais.
Tu que depositaste o corpo nu sobre o solo frio
da Úmbria, socorre-nos em nossos enganos para
que possamos nos despir das ilusões do mundo
material, verdadeiro canto da sereia aos
viajores desorientados no percurso terrestre.
Permita-nos segurar em tuas mãos abençoadas para
que possamos reerguer-nos do estábulo das
ilusões transitórias em direção ao caminho
estreito e certo que nos conduzirá ao rebanho do
Divino Pastor!