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por Rogério Miguez

 

As fatalidades da vida


O uso da palavra fatalidade tem-se tornado muito comum, sendo, de modo geral, empregada em acontecimentos trágicos, quando muitas vidas são ceifadas: acidentes trágicos entre veículos, atropelamentos inusitados,  erros médicos, desabamentos, bala perdida, entre tantos outros.

Banalizou-se o emprego do termo, contudo, analisando com maior cuidado a questão, é preciso concluir, em todos estes casos, e muitos outros, que a fatalidade não se aplica, pois esta classificação de fatos do nosso cotidiano pode sugerir que todas estas chamadas desgraças - na compreensão popular - são inevitáveis, muitas já estavam até previstas, foi o destino. Religiosos crentes no Deus todo poderoso ficam atônitos, diante destes desfechos e alguns mesmo indagam como Deus pode permitir essas desditas!?

Com o advento do Espiritismo, pudemos melhor entender o tema, evitando acusar a Divindade por permitir estes tristes acontecimentos. Segundo a sabedoria dos Imortais, há pouquíssimas fatalidades – ainda bem -, contrariando, frontalmente, esta dita sabedoria popular.

Talvez a mais importante fatalidade existente dentro das leis divinas seja a certeza de que todos nós progrediremos até atingirmos a perfeição relativa. Sim, nenhum Espírito poderá se esquivar de alcançar o estado de pureza e, daí para a frente, colaborará na administração do Universo junto e sob a tutela do Pai Criador. Ele nos atribuirá variadas tarefas, muitas ainda desconhecidas, vinculadas à condição de perfeição de seus filhos. Todos nós estamos destinados a contribuir no cumprimento de Seus sábios desígnios.

O exato instante da morte é outra fatalidade, uma vez que dele ninguém pode escapar. Pelo outro lado da moeda, o momento em que devemos reaparecer na Terra ou em qualquer outro mundo, ou seja, reencarnar, também o é.

Vivenciar provas, expiações ou missões, previamente selecionadas e discutidas na erraticidade, reunindo as deliberações do nosso livre-arbítrio e as ponderações dos Espíritos responsáveis pela nova reencarnação, tudo baseado no mapa de realizações construído em existências passadas do futuro reencarnante, representa outra fatalidade. Como exemplos destas escolhas temos: gênero ou causa da morte, duração da existência física, doença específica podendo surgir em determinado momento de nossa próxima existência, significativo revés econômico, dificuldade familiar de monta, grandes dores morais como resultado de infortúnios diversos, limitação física de nascença oriunda de uma deficiência perispiritual, ou seja, alguns aspectos materiais na existência podem constituir fatalidades.

Contudo, mesmo esses prévios acertos podem ser alterados, por exemplo, o tempo previsto da existência corpórea pode ser abreviado ou postergado. No primeiro caso, em função da forma como vivemos, usando alcoólicos, fumo, drogas ilícitas, mantendo uma vida desregrada..., enquanto, em relação ao segundo, caso o Espírito tenha méritos construídos durante a atual existência e sendo considerado que ele deve permanecer reencarnado, embora seu tempo se haja esgotado, pois é preciso acertar certas pendências de vida junto a familiares e outras pessoas que também possam depender dele, ou ainda em função do que faz de bem para a Humanidade.

É de observar que as nossas decisões e opções tomadas antes de uma nova reencarnação, em conjunto com os Espíritos encarregados deste processo, só ocorrem quando o reencarnante possui uma boa bagagem de entendimento, viabilizando ser frutífera essa interação; caso contrário, os grandes marcos da vida serão inteiramente determinados pelos responsáveis por essa nova existência corpórea, pois como escolher características de uma nova existência se o interessado não possui ainda condições de entender os mecanismos que regem a vida, muito menos o que ele mais precisa aprender e experimentar em seu estágio evolutivo?

Esta realidade nos faz perceber estar a fatalidade tão mais presente na vida do Espírito quanto menos evoluído ele se encontrar.

Sempre é bom lembrar que estes exemplos, até agora apresentados, se prendem a aspectos materiais de uma existência, entretanto, as posturas morais diante dos variados desafios enfrentados jamais estão definidas, nem poderiam estar, pois sempre dependem do modo como os Espíritos encaram as diversas situações do cotidiano. Por exemplo, imaginemos que tenha sido escolhida a prova da riqueza material para a nova etapa evolutiva. Quando o Espírito adquire os bens que o tornam rico, ele pode usar esta riqueza espalhando o bem entre os seus próximos, mas pode, também, se encastelar em seu modo egoísta, deixando-se, mais uma vez, dominar pelo orgulho e, desta forma, unindo o binômio egoísmo-orgulho, ao final de outra existência, esse rico e abastado personagem terá construído outras expiações para suas futuras existências.

Assim, a conduta moral nunca está definida, ou seja, os efeitos morais dos acontecimentos no Espírito jamais são fatais, e podemos concluir que este lado da existência é muito mais variado do que o lado material.

Como conclusão fatal desta breve análise, poderíamos afirmar: A visão espírita no que tange a este fascinante tema é intermediária entre os extremos do tudo está escrito - o determinismo - e do seu oposto, nada está escrito - a aleatoriedade - tendendo para o último, ou seja, pouco está escrito.

Cabe a cada qual traçar o seu destino, dentro daquilo que pode ser alterado. 
  
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita