Oficinas de assistência
E porque nós outros — um grupo de rapazes — nos
acercamos do Mentor, indagando que opinião era a dele
sobre as oficinas de assistência aos necessitados nas
realizações cristãs, ele nos respondeu cortesmente: — O
assunto é do maior interesse. A propósito, desejo
contar-lhes a experiência de um companheiro.
Um amigo, que foi batista na Terra [1], chegou à Vida
Espiritual com grande prestígio pelos serviços prestados
à Causa do Senhor. Conduzido por devotados benfeitores à
grande cidade da Vida Maior, passou a visitar os setores
de trabalho que o empolgavam. Tomando a companhia de um
professor, entrou a movimentar se.
Na sequência de suas excursões, viu-se diante de vasto
sanatório, em cujo interior e em todas as dependências
se notava tremenda algazarra. Impropérios, acusações
mútuas, insultos e rixas. A balbúrdia era enorme.
Impressionados, ele e o acompanhante perguntaram a um
dos diretores da instituição se ali estava algum setor
da zona infernal, ao que o interpelado replicou
humildemente:
— Sim, a nossa casa pode ser considerada uma região de
inferno, onde alguns de nós, irmãos acordados para a
vida, devemos treinar abnegação e tolerância.
Nosso amigo inquiriu:
— Poderá nos informar se aqui vivem alguns batistas?
— Muitos — foi a resposta.
E o diálogo prosseguiu:
— E presbiterianos?
— Grande quantidade.
— E católicos?
— Número imenso.
— E luteranos de outras interpretações?
— Igualmente muitos.
— E espíritas?
— Legião incalculável.
Nosso companheiro considerou:
— É uma lástima! E como se comportam na comunidade?
— Infelizmente — esclareceu o diretor — os religiosos
que se acham aqui são Espíritos cristalizados nos
enganos que abraçaram. Foram, todos eles, homens e
mulheres, habitualmente discutidores e intimamente
revoltados. Agarrados aos próprios pontos de vista, são
rebeldes, indiferentes, vaidosos e intolerantes. Viveram
no mundo físico em teorias e anátemas, mergulhados em
preguiça mental, a ponto de muitos deles não aceitarem a
realidade da vida espiritual em que se encontram…
E quando estarão libertos de tanta cegueira?
O diretor explicou:
— Quando demonstrarem a renovação espiritual precisa, a
fim de merecerem o privilégio de aprender a servir.
Indiscutivelmente, os visitantes saíram dali desolados e
depois de alguns quilômetros surpreenderam grande
colônia espiritual, de cujo interior se irradiavam luz e
harmonia.
Pararam observando… Em seguida solicitaram a um dos
guardiães da porta a presença de alguém que lhes pudesse
prestar os informes que julgavam precisos.
Veio um diretor e repetiram a indagação sobre a natureza
e finalidade daquele instituto.
O amigo respondeu:
— Aqui somos todos uma só família; todos os que residem
aqui são aqueles que acreditaram em Jesus e seguiram-lhe
os passos, trabalhando e servindo, por amor aos
semelhantes. Não há denominações religiosas que nos
diferenciam, até porque temos conosco muitos ateus que
se consagraram espontaneamente ao bem do próximo,
ignorando que estavam acompanhando o Divino Mestre. A
prestação de serviço aos outros, sem ideias de
recompensa, nos proporcionou a felicidade de estarmos
todos juntos em Cristo.
Foi então que compreendi melhor o valor das oficinas de
assistência aos necessitados. Aí, nesses recantos
abençoados, é possível estudar as Lições do Senhor e
segui-lo verdadeiramente no rumo das alegrias
imperecíveis.
Somente os que aprendem a trabalhar e a servir, com
esquecimento de si mesmos, acham-se no rumo exato da
felicidade real, de vez que nada valem as preciosas
argumentações vazias de boas obras, porque, sem as
realizações do amor ao próximo, não teremos senão a
alternativa de tudo recomeçar, aprendendo, por fim, a
fazer o melhor de nós e de nossa vida, para que possamos
justificar o privilégio de conhecer.
[1] Adepto da Igreja Batista. Há
registros de que os anabatistas na Inglaterra foram
chamados batistas já em 1569.
Do livro Fotos da vida, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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