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A evangelização e a comunidade de
aprendizagem
Durante muito tempo, e em grande parte ainda
persistindo, as atividades desenvolvidas pelo centro
espírita, normalmente a cargo de departamentos ou
setores, não se comunicavam, não formavam uma rede de
serviços com troca de informações, experiências,
conhecimentos e avaliações. Sempre foi normal, por
exemplo, a reunião mediúnica acontecer num dia da semana
à noite, e pelo menos parte da equipe participar apenas
desse evento, não fazendo parte do grupo de estudo
sistematizado, e, às vezes, nem mesmo conhecendo as
demais atividades. E assim a evangelização
infantojuvenil no fim de semana, o atendimento fraterno
antecipando uma reunião pública de palestra, a
assistência e promoção social em outro dia e horário.
Como percebemos nessa rápida descrição, serviços
realizados de forma isolada, sem diálogo entre si,
perdendo-se oportunidades de enriquecimento das
atividades e a formação de uma verdadeira rede
cooperativa. Naturalmente não estamos generalizando,
pois existem centros espíritas muito bem estruturados,
com muito boa organização, onde essa rede funciona, mas
é fato que muitos centros espíritas não conseguiram, e
não conseguem, estabelecer o espírito de cooperação e
interação entre seus frequentadores e trabalhadores,
entre seus diversos departamentos ou setores.
Esse conceito de rede de serviços e de cooperação não é
novo. Ele está implícito nos escritos de Paulo de Tarso,
quando, em mais de uma oportunidade, refere-se às
comunidades cristãs devendo as mesmas serem “igrejas
vivas”, ou seja, comunidades dinâmicas, fraternas, a bem
geral, onde todos devem se conhecer e trabalhar em comum
pelo Evangelho. Nem sempre vemos isso nos centros
espíritas, muitos dos quais vivem em torno do
presidente, ou de um pequeno grupo de três a seis
pessoas que tudo fazem, e esse não é o melhor modelo
organizacional, pois não é participativo e fica na
dependência de poucas pessoas que, por um motivo ou
outro, podem não poder exercer suas funções, quer
momentaneamente, ou em definitivo, e, nesse caso, o que
vai acontecer com o centro espírita?
Especificamente na área da evangelização infantojuvenil,
que agrega ou deveria agregar também os pais, avós e
tios, ou seja, um trabalho integral com a família, o
mínimo que se pede é que os evangelizadores se conheçam
e se reúnam periodicamente para planejamento e avaliação
das atividades, mantendo diálogo fraterno, construtivo.
Isso é muito importante, mas não basta. O evangelizador
tem que estar integrado no estudo sistematizado da
doutrina espírita, e estar voluntariamente participando
de alguma outra atividade, ou pelo menos tendo
conhecimento dos diversos serviços que são desenvolvidos
no centro espírita, buscando aprimorar seu conhecimento
doutrinário e sua interação com as outras pessoas, das
quais poderá recolher úteis ensinamentos, assim como
poderá transmitir de sua parte o que sabe e o que já
viveu. Assim teremos estabelecido no centro espírita uma
rede de convivência, uma verdadeira comunidade de
aprendizagem.
Estamos, até o momento, nos referindo a uma rede de
convivência, verdadeira comunidade de aprendizagem, no
âmbito interno do centro espírita, mas é necessário
ampliarmos essa visão, pois como instituição humana, o
centro espírita está inserido numa rua, que possui toda
uma vizinhança, rua essa que está num bairro, que por
sua vez faz parte de uma cidade. O que estamos dizendo é
que o centro espírita não deve se manter isolado, deve
também ser um agente comunitário, ofertando claramente
seus serviços a todos os interessados. Para que isso
aconteça, a comunicação é muito importante, iniciando
por um letreiro externo que permita às pessoas saberem
os dias e horários das atividades, passando pela
distribuição de um folheto com a programação mensal e
uma mensagem de esclarecimento e consolo. Na sequência,
ouvir as pessoas para entender suas demandas, suas
necessidades, adequando as atividades pertinentes, como
os temas das reuniões públicas, para atender o que as
pessoas estão procurando, lembrando que o Espiritismo
toca em todos os ramos do conhecimento humano.
Certa vez, participando de uma roda de conversa com
estudantes universitários não espíritas, em pleno curso
de Psicologia, fomos submetidos a uma intensa e variada
bateria de perguntas sobre os mais diversos assuntos,
tendo oportunidade de verificar que para tudo o
Espiritismo possui explicação, sempre de forma lógica,
com base no estudo dos fatos, esclarecendo e consolando
ao mesmo tempo. Tivemos ocasião de sentir a ansiedade
dos jovens estudantes em conseguir respostas
satisfatórias para suas dúvidas, para seus sonhos, e
quanto eles se satisfizeram com o que a doutrina
espírita lhes oferecia nas respostas que dávamos. E
assim, no convívio com adolescentes e jovens, em mais de
uma oportunidade vimos quanto ficaram maravilhados com a
visão do Espiritismo sobre o ser humano e a vida.
O centro espírita não pode ficar parado no tempo, mesmo
porque os tempos são outros. A sociedade humana evolui
intensamente no conhecimento e na tecnologia, mas carece
de um roteiro moral e espiritual seguro, que encontramos
no Espiritismo, que em sua essência é doutrina de
educação do espírito imortal e reencarnado, motivo pelo
qual a evangelização espírita deve caracterizar-se como
comunidade de aprendizagem e rede de convivência,
promovendo a pessoa de bem, humanizada e
espiritualizada, visando o futuro mais promissor da
humanidade.
A você, que está na atividade da evangelização, e a
você, que está exercendo um cargo diretivo no centro
espírita, solicitamos um olhar mais atento para a
importância da rede de convivência, e também da
comunidade de aprendizagem, pois todos somos aprendizes
da lei divina, e necessitamos do relacionamento com os
outros para nosso progresso intelectual e,
principalmente, moral.
Marcus De Mario é escritor,
educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo
on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação
Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação
Espírita; produz e apresenta programas espíritas na
internet; possui 40 livros publicados.
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