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por Juan Carlos Orozco

 

Julgamento, autojulgamento e empatia


“Não julgueis, a fim de que não sejais julgados; porque vós sereis julgados segundo houverdes julgado os outros; e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles.”
 (Mateus, 7:1-2)


“Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela.” 
(João, 8:7)


“Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamentos justos.” 
(João, 7: 24)


“Porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo
.” (Lucas, 6:38)


“Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.”
 (Mateus, 26:52)


Julgar alguém envolve a formação de opinião, positiva ou negativa, sobre essa pessoa baseada na avaliação de suas ações, características ou escolhas.

Julgamento é processo mental que pode ser influenciado por vários fatores.

Normalmente, pessoas julgam seus semelhantes.

Por outro lado, dificilmente o julgador realiza um autojulgamento pelos mesmos critérios que avalia a quem julga.

A empatia apresenta-se como valioso meio para aprimorar as relações humanas ao lidar com o julgamento alheio.

Nesse contexto, faremos algumas reflexões acerca desse tema.

 

O processo evolutivo e a individualidade de cada Espírito

Deus cria todos os Espíritos simples e ignorantes, iniciando seus processos evolutivos em pluralidade de existências mediante sucessivas reencarnações, em que cada um segue seu caminho com ritmo próprio, conforme suas vivências e experiências de vida, galgando diferentes estágios e graus de progresso intelectual, moral e espiritual, em que uns se aperfeiçoam mais rápido, enquanto outros mais lentos.

Na bagagem evolutiva, acumulam-se valores, atributos, talentos e aptidões, bem como vícios, imperfeições e preconceitos.

As diversidades entre os Espírito têm relação com seus estágios evolutivos.

Cada ser espiritual é único, sendo que não existe alguém igual a você.

O Espírito imortal em sua evolução conserva a individualidade, conectando-se passado, presente e futuro.

Diversidades dos tempos de criação dos Espíritos, heranças reencarnatórias, experiências emocionais e mentais, ambientes sociais de suas experiências e motivações desenvolvidas particularizam os seres humanos com diferentes vocações, tendências, interesses, graus de raciocínio e discernimentos.

Na evolução espiritual, cada ser passa pela fase primitiva, com defeitos e inferioridades que fazem parte dos ciclos iniciantes por onde se estagia.

Os Espíritos percebem de forma diferente os estímulos da vida.

Atitudes inadequadas em pessoas podem ser naturais a elas, em tempo de sua ignorância, que representam características de sua etapa evolucional.

 

As reencarnações e os preconceitos

Preconceito é ato de julgar algo ou alguém antes de conhecer o objeto de juízo, podendo se aplicar às diversas situações do cotidiano.

Preconceitos demonstram inferioridade intelectual, moral e espiritual, que dificultam seguir em frente rumo à paz, à concórdia e à fraternidade universal, em que todos somos irmãos e filhos do mesmo Pai.

As reencarnações, em pluralidade de existências, auxiliam o Espírito a eliminar os preconceitos adquiridos em sua jornada evolutiva, desde sua criação, passando pelas provas e expiações, que geram sofrimentos e dor, como formas de aprendizado, educação e renovação rumo à perfeição.

Com a maturidade moral e espiritual, aprende-se a aceitar e respeitar as diferenças e as individualidades das pessoas.

 

Julgamento

Juízo está ligado a fatos e fatores de situações anteriores, incluindo atitudes de defesa, proteção de valores, costumes, cultura, negações, distorções e aspectos importantes da vida que lhe servem de sustentação.

Das experiências adquiridas, emitem-se opiniões ou pontos de vista que se harmonizam com aquilo que se acredita como verdade absoluta.

O julgamento e a sua sentença refletem o que está dentro de si.

Pensamentos julgadores estão na memória profunda como subprodutos de conhecimentos absorvidos, tais como: censuras, observações, admoestações, superstições, preconceitos, opiniões, informações e influências, que formam um conjunto moral com regras e preceitos, segundo o qual se diferenciam as atitudes em boas ou más.

 

Autojulgamento

Ao invés de apontar o comportamento de alguém, melhor será visualizar a própria intimidade e perguntar onde está tudo isso em você.

Ao analisar as suas características, os seus conceitos e as suas atitudes inadequadas, constatará oportunidade para se transformar intimamente.

Somente se pode reabilitar ou reformar o que se percebe e entende.

Dificilmente conseguirá modificar aquilo que não se tem consciência.

Sem enxergar os seus comportamentos perante os outros, não será livre para emitir opiniões sem as avaliações estruturadas pelos mecanismos de defesa, que são processos mentais inconscientes.

Em cada pessoa, há uma lógica de se raciocinar pela sua verdade.

Importante reavaliar as ideias que formaram a sua personalidade para não julgar de forma generalizada, pois cada pessoa tem a sua visão de mundo, com consciência própria e diversificada.

O orgulho induz a julgar-se mais do que é realmente, melhor do que os outros, não suportando comparação que lhe rebaixe.

Vemos o mal de outrem antes de vermos o mal que está em nós.

No autojulgamento, preciso ver o seu interior e transportar-se para fora de si próprio, considerando-se como outra pessoa e perguntar: que pensaria eu se visse alguém fazer o que faço?

O ser humano tem uma atração natural com pessoas e situações que se sintonizam com o seu mundo mental, como um campo magnético, ou de repulsa antipática longe da sua maneira de ser.

Seria como uma projeção do “eu” para uma outra pessoa.

Eu gosto daquela pessoa porque ela pensa igual a mim; ele é bacana porque faz como faço; tenho para com ele um apreço porque há uma comunhão de pensamento.

Desse comportamento, o que é diferente do “eu” desperta pouco interesse, desprezo, indiferença ou até repulsa.

A cegueira pela “cortina do eu”, do narcisismo apaixonado pela própria imagem, afasta a genuína comunhão com os interesses divinos, porquanto habitualmente amamos a nós mesmos, fazendo emergir diferenças que enfraquecem possíveis laços de aproximação e afeição, até mesmo com quem estimamos.

Como é difícil aceitar alguém que é diferente do “eu”!

O julgamento predeterminado também é estabelecido por registros do que nos ensinaram a respeito do que deveríamos fazer ou não, sobre o que é errado ou certo, de maneira quase inconsciente na nossa mente pelo que escolhemos ou opinamos, sem dar conta, acreditando-se estar usando o arbítrio.

 

Empatia e julgamento

Para ser empático é preciso descerrar a cortina do “eu”, retirando a atenção dos próprios problemas e passar a observar e a viver o outro, saindo do seu círculo íntimo, quer para a prática da caridade que salva como para não realizar julgamentos levianos.

A empatia leva-nos, ainda, a ampliar as percepções e evitar julgamentos fechando em nós mesmos, ou seja, utilizar como referência a nossa justiça – o “eu” julgador.

Empatia é a capacidade para entender com quem se relaciona as suas necessidades, os seus sentimentos, as suas emoções e os seus problemas para chegar a uma relação próxima e compreensiva, afastando o “eu” dos pretextos, das razões, das ideias e dos pensamentos, para saber pensar a partir da ótica do outro, evitando julgá-lo e fechando em si mesmo.

Na lei de ação e reação, tudo aquilo que fazemos voltará para nós mesmos.

Essa é uma das razões para não julgar, medir ou lançar a espada contra os semelhantes, pois que seremos julgados, medidos e feridos pelos mesmos critérios.

Procure julgar menos, compreender e amar mais.

Ninguém é perfeito, cada um encontra-se em determinado estágio de progresso, sendo compreensível que erre assim como você.

“A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo será tenebroso.” (Mateus 6: 22-23)

Importante ter bons olhos para a vida e para com os semelhantes.

Procure valorizar o que as pessoas têm de melhor, minimizando seus defeitos, compreendendo que cada ser encontra-se em determinado estágio evolutivo.

Se olhar somente o lado ruim das pessoas e da vida, será muito difícil conviver e viver.


Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

EMMANUEL (Espírito); psicografado por Francisco Cândido Xavier. Fonte viva.  1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.

HAMMED (Espírito), na psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto. Renovando atitudes. 36ª Edição. Catanduva/SP: Boa Nova Editora, 1997.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita