Julgamento, autojulgamento e empatia
“Não julgueis, a fim de que não sejais julgados; porque
vós sereis julgados segundo houverdes julgado os outros;
e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos
servistes para com eles.” (Mateus,
7:1-2)
“Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e
lhes disse: se algum de vocês estiver sem pecado, seja o
primeiro a atirar pedra nela.” (João,
8:7)
“Não julguem apenas pela aparência, mas façam
julgamentos justos.” (João,
7: 24)
“Porque com a mesma medida com que medirdes também vos
medirão de novo.”
(Lucas, 6:38)
“Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão
da espada, à espada morrerão.” (Mateus,
26:52)
Julgar alguém envolve a formação de opinião, positiva ou
negativa, sobre essa pessoa baseada na avaliação de suas
ações, características ou escolhas.
Julgamento é processo mental que pode ser influenciado
por vários fatores.
Normalmente, pessoas julgam seus semelhantes.
Por outro lado, dificilmente o julgador realiza um
autojulgamento pelos mesmos critérios que avalia a quem
julga.
A empatia apresenta-se como valioso meio para aprimorar
as relações humanas ao lidar com o julgamento alheio.
Nesse contexto, faremos algumas reflexões acerca desse
tema.
O processo evolutivo e a individualidade de cada
Espírito
Deus cria todos os Espíritos simples e ignorantes,
iniciando seus processos evolutivos em pluralidade de
existências mediante sucessivas reencarnações, em que
cada um segue seu caminho com ritmo próprio, conforme
suas vivências e experiências de vida, galgando
diferentes estágios e graus de progresso intelectual,
moral e espiritual, em que uns se aperfeiçoam mais
rápido, enquanto outros mais lentos.
Na bagagem evolutiva, acumulam-se valores, atributos,
talentos e aptidões, bem como vícios, imperfeições e
preconceitos.
As diversidades entre os Espírito têm relação com seus
estágios evolutivos.
Cada ser espiritual é único, sendo que não existe alguém
igual a você.
O Espírito imortal em sua evolução conserva a
individualidade, conectando-se passado, presente e
futuro.
Diversidades dos tempos de criação dos Espíritos,
heranças reencarnatórias, experiências emocionais e
mentais, ambientes sociais de suas experiências e
motivações desenvolvidas particularizam os seres humanos
com diferentes vocações, tendências, interesses, graus
de raciocínio e discernimentos.
Na evolução espiritual, cada ser passa pela fase
primitiva, com defeitos e inferioridades que fazem parte
dos ciclos iniciantes por onde se estagia.
Os Espíritos percebem de forma diferente os estímulos da
vida.
Atitudes inadequadas em pessoas podem ser naturais a
elas, em tempo de sua ignorância, que representam
características de sua etapa evolucional.
As reencarnações e os preconceitos
Preconceito é ato de julgar algo ou alguém antes de
conhecer o objeto de juízo, podendo se aplicar às
diversas situações do cotidiano.
Preconceitos demonstram inferioridade intelectual, moral
e espiritual, que dificultam seguir em frente rumo à
paz, à concórdia e à fraternidade universal, em que
todos somos irmãos e filhos do mesmo Pai.
As reencarnações, em pluralidade de existências,
auxiliam o Espírito a eliminar os preconceitos
adquiridos em sua jornada evolutiva, desde sua criação,
passando pelas provas e expiações, que geram sofrimentos
e dor, como formas de aprendizado, educação e renovação
rumo à perfeição.
Com a maturidade moral e espiritual, aprende-se a
aceitar e respeitar as diferenças e as individualidades
das pessoas.
Julgamento
Juízo está ligado a fatos e fatores de situações
anteriores, incluindo atitudes de defesa, proteção de
valores, costumes, cultura, negações, distorções e
aspectos importantes da vida que lhe servem de
sustentação.
Das experiências adquiridas, emitem-se opiniões ou
pontos de vista que se harmonizam com aquilo que se
acredita como verdade absoluta.
O julgamento e a sua sentença refletem o que está dentro
de si.
Pensamentos julgadores estão na memória profunda como
subprodutos de conhecimentos absorvidos, tais como:
censuras, observações, admoestações, superstições,
preconceitos, opiniões, informações e influências, que
formam um conjunto moral com regras e preceitos, segundo
o qual se diferenciam as atitudes em boas ou más.
Autojulgamento
Ao invés de apontar o comportamento de alguém, melhor
será visualizar a própria intimidade e perguntar onde
está tudo isso em você.
Ao analisar as suas características, os seus conceitos e
as suas atitudes inadequadas, constatará oportunidade
para se transformar intimamente.
Somente se pode reabilitar ou reformar o que se percebe
e entende.
Dificilmente conseguirá modificar aquilo que não se tem
consciência.
Sem enxergar os seus comportamentos perante os outros,
não será livre para emitir opiniões sem as avaliações
estruturadas pelos mecanismos de defesa, que são
processos mentais inconscientes.
Em cada pessoa, há uma lógica de se raciocinar pela sua
verdade.
Importante reavaliar as ideias que formaram a sua
personalidade para não julgar de forma generalizada,
pois cada pessoa tem a sua visão de mundo, com
consciência própria e diversificada.
O orgulho induz a julgar-se mais do que é realmente,
melhor do que os outros, não suportando comparação que
lhe rebaixe.
Vemos o mal de outrem antes de vermos o mal que está em
nós.
No autojulgamento, preciso ver o seu interior e
transportar-se para fora de si próprio, considerando-se
como outra pessoa e perguntar: que pensaria eu se visse
alguém fazer o que faço?
O ser humano tem uma atração natural com pessoas e
situações que se sintonizam com o seu mundo mental, como
um campo magnético, ou de repulsa antipática longe da
sua maneira de ser.
Seria como uma projeção do “eu” para uma outra pessoa.
Eu gosto daquela pessoa porque ela pensa igual a mim;
ele é bacana porque faz como faço; tenho para com ele um
apreço porque há uma comunhão de pensamento.
Desse comportamento, o que é diferente do “eu” desperta
pouco interesse, desprezo, indiferença ou até repulsa.
A cegueira pela “cortina do eu”, do narcisismo
apaixonado pela própria imagem, afasta a genuína
comunhão com os interesses divinos, porquanto
habitualmente amamos a nós mesmos, fazendo emergir
diferenças que enfraquecem possíveis laços de
aproximação e afeição, até mesmo com quem estimamos.
Como é difícil aceitar alguém que é diferente do “eu”!
O julgamento predeterminado também é estabelecido por
registros do que nos ensinaram a respeito do que
deveríamos fazer ou não, sobre o que é errado ou certo,
de maneira quase inconsciente na nossa mente pelo que
escolhemos ou opinamos, sem dar conta, acreditando-se
estar usando o arbítrio.
Empatia e julgamento
Para ser empático é preciso descerrar a cortina do “eu”,
retirando a atenção dos próprios problemas e passar a
observar e a viver o outro, saindo do seu círculo
íntimo, quer para a prática da caridade que salva como
para não realizar julgamentos levianos.
A empatia leva-nos, ainda, a ampliar as percepções e
evitar julgamentos fechando em nós mesmos, ou seja,
utilizar como referência a nossa justiça – o “eu”
julgador.
Empatia é a capacidade para entender com quem se
relaciona as suas necessidades, os seus sentimentos, as
suas emoções e os seus problemas para chegar a
uma relação próxima e compreensiva, afastando o “eu” dos
pretextos, das razões, das ideias e dos pensamentos,
para saber pensar a partir da ótica do outro, evitando
julgá-lo e fechando em si mesmo.
Na lei de ação e reação, tudo aquilo que fazemos voltará
para nós mesmos.
Essa é uma das razões para não julgar, medir ou lançar a
espada contra os semelhantes, pois que seremos julgados,
medidos e feridos pelos mesmos critérios.
Procure julgar menos, compreender e amar mais.
Ninguém é perfeito, cada um encontra-se em determinado
estágio de progresso, sendo compreensível que erre assim
como você.
“A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os
teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se,
porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo será
tenebroso.” (Mateus
6: 22-23)
Importante ter bons olhos para a vida e para com os
semelhantes.
Procure valorizar o que as pessoas têm de melhor,
minimizando seus defeitos, compreendendo que cada ser
encontra-se em determinado estágio evolutivo.
Se olhar somente o lado ruim das pessoas e da vida, será
muito difícil conviver e viver.
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
EMMANUEL (Espírito); psicografado por
Francisco Cândido Xavier. Fonte viva. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2020.
HAMMED (Espírito), na psicografia de
Francisco do Espírito Santo Neto. Renovando atitudes.
36ª Edição. Catanduva/SP: Boa Nova Editora, 1997.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
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