O desafio da vida: prevenção ao
suicídio e a esperança espírita
Vivemos um momento delicado da história humana.
Infelizmente, temos percebido um aumento
alarmante nos casos de suicídio, inclusive entre
crianças e adolescentes. Esse fenômeno nos
convida à reflexão: por que tantas pessoas estão
desistindo de viver? O que está acontecendo com
a alma humana que a faz perder o sentido da
existência?
Todos nós enfrentamos desafios ao longo da vida.
A dor, como parte da experiência humana, é
inevitável — mas sua intensidade e impacto
variam de pessoa para pessoa. Não podemos medir
o sofrimento do outro com nossa régua emocional.
Cada um carrega batalhas invisíveis, e muitas
vezes silenciosas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta: a
cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no
mundo. Desde a pandemia da COVID-19, esses
números cresceram de forma preocupante,
revelando uma crise silenciosa de saúde mental —
inclusive entre jovens, cujas dores muitas vezes
passam despercebidas por adultos que esperam
“resiliência natural”.
Vivemos na era digital. Os jovens parecem nascer
com habilidades inatas para lidar com
tecnologia. São rápidos ao aprender, conectados
o tempo todo, e muitas vezes parecem
autossuficientes. Porém, a tecnologia que
conecta também pode isolar.
Assim como uma enxada é uma ferramenta neutra,
que pode plantar ou ferir, a tecnologia precisa
de discernimento para ser bem utilizada. A
internet mistura verdades e mentiras, afetando a
percepção dos jovens e oferecendo “realidades”
artificiais, comparações tóxicas e desafios
perigosos.
Cito como exemplo o trágico caso da Baleia Azul,
um jogo que incentivava metas autodestrutivas.
Recentemente, vimos casos de adolescentes
intoxicados por aerossol, motivados por vídeos e
“tendências” nas redes. O virtual pode se tornar
fatal quando falta presença real, diálogo, e
orientação dos pais.
O suicídio, geralmente, é a expressão de uma dor
psíquica profunda. Não se trata de fraqueza, mas
de sofrimento intenso, que parece sem saída para
quem o vive. Fatores como depressão, ansiedade,
bullying, abuso, desemprego, perdas afetivas ou
sensação de fracasso, frequentemente se somam e
formam um peso insustentável.
Segundo a OMS, muitos suicídios poderiam ser
evitados com detecção precoce, apoio adequado e
tratamento.
É essencial estarmos atentos a sinais como:
· Isolamento
repentino;
· Mudanças
bruscas de comportamento;
· Frases
como “não aguento mais” ou “vocês estariam
melhor sem mim”;
· Desinteresse
pela vida ou por atividades antes prazerosas.
A prevenção ao suicídio exige um compromisso de
toda a sociedade. Algumas atitudes fundamentais
incluem:
· Observar
e acolher sinais de sofrimento emocional;
· Promover
acesso universal a serviços de saúde mental de
qualidade;
· Fortalecer
vínculos familiares, escolares, religiosos e
comunitários;
· Ensinar
inteligência emocional desde a infância;
· Combater
o estigma em torno das doenças mentais;
· Estimular
a espiritualidade como recurso de apoio e
sentido de vida.
O Espiritismo oferece uma luz consoladora e
racional diante desse tema. Entendemos que a
vida não termina com a morte do corpo. Somos
espíritos imortais em uma jornada de
aprendizado. A reencarnação nos mostra que cada
existência tem um propósito, mesmo quando
atravessamos momentos obscuros.
A dor não é castigo, mas instrumento de
amadurecimento da alma. Quando alguém tenta
escapar dela pela morte, infelizmente encontra
sofrimento ainda maior na vida espiritual. Ivone
Pereira, no livro Memórias de um Suicida,
relata as duras consequências espirituais do
suicídio, reforçando que a vida deve ser
preservada sempre.
Jesus, o mestre da vida, nunca prometeu ausência
de dores, mas sim presença consoladora:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus
11:28). Ele nos ensinou que o amor cura e a fé
fortalece.
Falo também com o coração de quem já enfrentou a
depressão. Houve um momento em que perdi o
sentido da rotina, sentia um vazio sem nome. Ao
buscar ajuda, compreendi que minha dor tinha
origem em uma insatisfação profissional
profunda. Foi então que me permiti mudar. Saí da
zona de conforto e me reconectei com minha
vocação como artista plástica. Isso me levou à
realização da minha primeira exposição
internacional.
A vida muda quando mudamos nossa atitude diante
dela. Com fé, coragem e apoio, é possível
recomeçar.
A família é o primeiro reduto de amor e
proteção. Muitas vezes, a simples escuta
acolhedora pode salvar uma vida. Estar presente,
conversar, demonstrar afeto e criar espaço para
o diálogo sincero pode fazer toda a diferença
para alguém em crise.
Como dizia Chico Xavier: “Embora ninguém
possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo
fim.”
A vida é o bem mais precioso que Deus nos deu.
Ela é um dom, um presente com infinitas
possibilidades de mudança e reconstrução. Mesmo
nos dias mais escuros, há sempre uma fresta de
luz esperando por nós. Buscar apoio, cuidar da
saúde mental, nutrir a espiritualidade e
valorizar os vínculos humanos são atitudes
fundamentais para preservar a vida.
O Setembro Amarelo teve origem em 1994 nos
Estados Unidos, após a morte do jovem Mike Emme,
que se suicidou sem conseguir expressar suas
dores emocionais. Seus pais e amigos criaram a
campanha Yellow Ribbon (Fita Amarela),
distribuindo cartões com mensagens de apoio,
tornando o amarelo símbolo da prevenção ao
suicídio.
No Brasil, a campanha foi oficializada em 2015
pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O CVV
(Centro de Valorização da Vida), fundado em
1962, oferece apoio emocional gratuito pelo
telefone 188, ajudando quem precisa conversar.
A mensagem central é: viver é sempre a melhor
escolha. Nunca desistamos de nós mesmos nem dos
que amamos, pois o amanhã pode trazer respostas
que hoje não vemos.