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A ilusão
do vir a ser
Como imagina que serão
os Espíritos evoluídos
aqui na Terra?
Já passaram alguns com
que pudemos conviver e
ver seus exemplos?
A resposta que temos na
ponta da língua é a de
sabermos amar, perdoar,
sermos indulgentes,
aprendermos a
resignar-nos.
Isto é uma teoria, que
descreve o que pensamos,
mas, na prática, como
iremos ser no dia em que
evoluirmos?
Veja a indulgência, na
prática. Na teoria, é
aceitar plenamente, como
o outro é. Perceber que
os seus erros são as
suas necessidades de
aprendizado.
Na prática, tente
imaginar. Recorde-se
quando alguém teve uma
má atitude consigo, ou
que um familiar seu
cometeu um erro. Como
seria, na prática, ser
indulgente?
Será a indulgência, na
prática, uma abstinência
de medição, o que
chamamos de julgamento?
Será um silêncio mental?
Mais do que simples
palavras de que “eu
aceito como o outro é e
fez”. Quem nos fez
juízes de nossos irmãos,
para dizermos que
aceitamos?
O silêncio mental é a
aceitação profunda do
que está a acontecer.
Não foi este o
ensinamento do silêncio
de Jesus em frente de
Pilatos?
O silêncio profundo, que
não existirá se o
pensamento estiver em
funcionamento, é a
indulgência, a fé, a
paciência, o perdão, o
amor e a resignação.
Pegue na paciência, o
que precisa de fazer
para desenvolver a
paciência?
Dirá que é necessário
ser mais paciente em
situações que lhe tiram
a calma, ou em frente
dos que lhe tiram a
paciência.
Volte à prática.
Acredito que, se está a
ler este texto
calmamente, nem se
lembrou da paciência,
pois só nos lembramos
quando estamos
impacientes.
Nesta altura queremos
regressar à “casa”, onde
nos sentimos em paz, ao
nosso interior calmo e
sereno. Ao silêncio
mental, que acontece
naturalmente em nós, nos
dias de paz.
Este silêncio é a
paciência, que só
lembramos quando
entramos em impaciência.
Vamos ver o ódio, o que
é este sentimento
terrível?
Alguém fez algo que nos
magoou e nós arquivamos
como forma de pensamento
este sentimento por
aquela pessoa.
Cada vez que a vimos ou
pensamos na pessoa,
reaparece este feio
sentimento
automatizadamente,
tirando-nos da paz e da
serenidade. Tal como a
impaciência.
Nós achamos que é
importante perdoarmos
para não termos
ressentimento com a
outra pessoa, mas toda a
importância dessa ação é
para nos permitir estar
em paz com nós próprios.
Ao perdoarmos
sinceramente, estamos a
eliminar do nosso corpo
mental um bloqueio
terrível que nos está a
causar sofrimento.
O perdão é uma limpeza
mental e emocional, ao
nosso corpo energético,
para que possamos estar
em paz, em silêncio com
nós mesmos.
As maiores das virtudes
humanas estão em nós, e
nós fugimos delas, pelo
amor às emoções
mundanas. Gostamos de
vidas agitadas, do
poder, da detenção de
matéria, de uma boa
discussão, de impormos
nossas vontades, o que
nos leva para longe de
nosso ser em silêncio.
Quando realmente procura
paz, tenta fugir
inadvertidamente destas
emoções mundanas. Num
dia de praia, numa
atividade de caridade,
num ginásio, num pouco
de música ou em frente
da televisão, existem
muitas formas. Como não
percebe que é em
silêncio que está em
completa paz, entretém a
mente para que esta se
acalme.
Se um dia perceber na
prática que é o silêncio
mental que lhe
transporta
instantaneamente as
virtudes humanas,
começará a fazê-lo
propositadamente, sem
procurar qualquer
distração para a mente,
pois torna-se mais
intenso.
O único exercício que
Jesus exemplifica em seu
evangelho é o de Vigiar,
na passagem em que ele
sobe ao monte com seus
discípulos, pede a Deus
para afastar o cálice e
fica uma hora em vigia.
E vigia a sua mente, em
silêncio, uma prática
que devemos seguir se
quisermos ser senhores
do nosso crescimento
espiritual.
No pensamento nasce o
orgulho, o egoísmo e
todas as outras más
tendências; no silêncio
existem as virtudes,
como acima vimos.
Não podemos agradar a
dois senhores, a Deus e
a Mamon.
Nós podemos ver por nós
próprios que o nosso
caminho ao crescimento
espiritual não está na
aquisição de hábitos,
mas na libertação de más
tendências. O que o
Mestre chamou de
desapego.
Segundo ele, o Reino de
Deus está em nós e,
segundo a
Espiritualidade
Superior, as Leis de
Deus estão escritas em
nós, apenas as
esquecemos. Então,
acreditamos que ainda as
vamos adquirir.
A pergunta que a maioria
coloca é: Por que temos
tanta dificuldade, se
parece tão simples?
Vou colocar uma pergunta
parecida. Por que a
pessoa depressiva não
sai da depressão se é a
cabeça dela que a causa?
Porque o pensamento não
funciona como nós
acreditamos.
Nós acreditamos que o
pensamento é uma criação
nossa, logo, o que
aparece não precisa de
ser “medido”, foi feito
por nós. Mas não é isso
que Jesus diz ao
aconselhar-nos a vigiar
e a orar.
Muitas pessoas já
perceberam que é
impossível parar o
pensamento, mas
continuam a agir como se
este fosse de sua
criação, não vigiando o
que surge.
Aonde nos leva esta
falta de vigilância, se
não à depressão e a
todos os outros
conflitos internos e
externos!
Muitos já afirmam, se
desculpando, “é o meu
caráter”, “não consigo
fazer de outra forma”,
“surge em minha cabeça”,
mas continuam a agir
após tal pensamento.
Corremos atrás das
virtudes, para
crescermos
espiritualmente, porque
as rotulamos, criamos
ideias sobre elas e
corremos atrás destas
ideias. É como matar a
sede mastigando o rótulo
da garrafa de água.
Por que corremos atrás
da paciência se ela está
em nós, sempre que
estamos em paz? Ou da
indulgência, se ela está
em nós quando vemos a
vida em silêncio? Ou da
resignação?
Não seria mais simples e
eficaz praticarmos o
silêncio, a vigilância,
e desenvolvermos em nós
esta forma de estar?
Bruno Abreu reside em
Lisboa, Portugal.
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