Doações tardias
Amigo, você nos solicita indicar o destino mais
aconselhável para os seus bens, depois de sua libertação
do corpo físico.
Indaga você: “Se devo facear a sobrevivência, diga, por
obséquio, qual o melhor modo de deixar os recursos que
acumulei? Tenho algum dinheiro, ações em companhias
diversas, terrenos vagos, dois sítios caprichosamente
montados e alguns apartamentos para alugar. Será mais
justo entregar esse patrimônio a determinados amigos,
através de testamentos e recomendações especiais? Ou
será mais razoável confiar os meus bens a instituições
de beneficência?”
A sua consulta nos falou ao coração e aqui estamos para
a resposta possível, que você não é obrigado a aceitar.
Usufruindo a luz da prece, você mesmo obterá a
inspiração dos benfeitores espirituais que o assistem, a
fim de adotar a melhor conduta.
Esquecer o seu livre-arbítrio seria privá-lo da
liberdade de escolha. Entretanto, permitimo-nos recordar
um episódio, que se perde nos acontecimentos históricos
do segundo milênio que estamos terminando no mundo.
O rei de Bizâncio, Manuel I, da dinastia dos Commenos,
mantinha os seus assessores e soldados numa guerra civil
contra os persas, que se defendiam ardorosamente.
Na batalha última em que seus súditos encontraram pesada
derrota, o próprio rei foi atingido no peito por fina
lâmina ajustada à ponta de uma flecha. O sangue lhe
jorrava do tórax, quando foi cautelosamente retirado da
alimária que o servia; mas deposto no chão, eis que o
soberano pressentiu a própria morte e encontrou forças
para falar em voz alta: — “Companheiros e soldados
amigos: temos vinte canastras na expedição,
transportando ouro e prata, joias e pedras preciosas, em
quantidade suficiente para enriquecer-vos a todos.
Retirai de minha armadura as chaves capazes de abri-las
e apossai-vos de toda essa riqueza que vos entrego por
brinde de amizade e gratidão."
Num momento, as chaves trabalharam movendo as
complicadas fechaduras e todo um montão de preciosidades
surgiu aos olhos deslumbrados de todos os circunstantes.
O monarca estava agora inerte, chamado que foi ao reino
da morte e aqueles que o seguiam passaram a partilhar da
fortuna de que se reconheciam detentores.
Os inimigos, porém, se mantinham vigilantes e caíram
sobre os vencidos e, em minutos breves, os herdeiros do
rei acordaram para a realidade, sendo muitos deles
degolados ou escravizados.
Nem um só dos companheiros do rei escapou do massacre ou
da escravidão, enquanto que os adversários, além da
vitória fácil, surrupiaram todos os bens que se lhe
revelavam à vista.
Rogo-lhe atenção para este tópico da verdade histórica,
para que observe quão difícil se faz a previsão, com
respeito a benefícios marcados para depois da morte.
O rei Manuel I, que viajava conduzindo grande tesouro,
efetivamente fez a doação de tudo quanto possuía, à
frente da morte, com a desvantagem de colocar os amigos
sob a ira dos adversários que os arrasaram e espoliaram
à vontade, sobretudo para satisfazer os apetites de
ambição e pilhagem de que se sentiam acometidos.
Em vista do exposto, se você deseja beneficiar pessoas
ou instituições, não deixe as suas providências para
depois, quando as suas riquezas entrarem no campo dos
inventários, difíceis de serem deslindados.
Se o prezado amigo já despertou para a grandeza do bem
aos semelhantes e quer fazer essa ou aquela doação, não
deixe isso para amanhã. Faça isso agora.
Do livro Fotos da vida, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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