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Isis Miranda Vidal (foto) nasceu em
Recife e reside em Jaboatão dos Guararapes,
cidade vizinha, no estado de Pernambuco. Formada
em Fisioterapia, atua profissionalmente na área
e, nas lides espíritas, participa do Centro
Espírita Amor e Caridade, localizado no bairro
de Sucupira, de sua cidade, do qual é a atual
presidente. Voluntária da Comissão Estadual de
Espiritismo (CEE), uma das federativas estaduais
de Pernambuco, nela integra o Conselho Fiscal e
a diretoria de comunicação social. A seguir, a
entrevista que gentilmente nos concedeu.
Como conheceu o Espiritismo?
Nasci em família espírita e por isso desde cedo
fui apresentada à doutrina, participando da
evangelização infantojuvenil, dos evangelhos no
lar na minha casa e também acompanhando meus
pais nas palestras, reuniões e eventos do
movimento espírita.
Como lhe surgiu o interesse pela Fisioterapia?
Meu objetivo principal com a minha profissão era
conseguir ajudar as pessoas e, associado a isso,
fazer algo de que eu gostasse, me sentisse útil
e realizada. Inicialmente optei pela
Fisioterapia para auxiliar profissionais de
dança na prevenção e recuperação de lesões e
mesmo na melhora da performance artística.
Porém, esse interesse pela área da Fisioterapia
acabou tomando um rumo totalmente diferente.
Atualmente não trabalho na área de dança, porém
atuo promovendo uma saúde que enxerga além do
adoecimento do corpo físico.
Que conexão podemos fazer entre a Fisioterapia e
a Doutrina Espírita?
Todos nós somos seres biopsicossociais, isso nos
mostra que o significado de saúde vai além da
matéria. Segundo a OMS (Organização Mundial de
Saúde), saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social, e não apenas a ausência
de doença ou enfermidade. A doutrina espírita
nos traz um olhar para além do físico, das
queixas e das dores, ampliando a visão e nos
fazendo lembrar que cada pessoa é um ser
espiritual, numa vivência material, e precisa
ser visto como um ser integral, inclusive
durante os tratamentos físicos. O próprio
conceito de “Cuidar do corpo e do espírito”
reforça a necessidade do cuidado holístico do
ser. Nos últimos anos vemos com alegria a
inserção da disciplina de "Saúde e
Espiritualidade" em muitos cursos de graduação
da área da saúde, buscando integrar a dimensão
espiritual no cuidado em saúde, compreendendo a
relação entre fé, crenças e bem-estar, além de
explorar como a espiritualidade influencia o
processo saúde-doença, promovendo uma abordagem
mais humanizada e integral do paciente.
Nos atendimentos, como percebe a influência das
emoções no equilíbrio da saúde?
Corpo, mente e espírito, essa tríade do ser
humano vem-se tornando cada vez mais ponto de
análise dentro das ciências médicas. Muitos
estudos mostram a influência das emoções na
saúde física, com análises positivas e negativas
sobre hábitos e acontecimentos que influem sobre
nossa saúde mental. O físico reflete o que o
espírito vivencia e processa através da mente,
gerando muitas vezes adoecimentos
psicossomáticos desencadeando o surgimento,
manutenção ou piora de sintomas físicos. Mas,
quando em equilíbrio, eles trabalham juntos
também para a melhora, ou ao menos para a boa
convivência com as dores que a matéria
apresenta. Todos nós, enquanto seres integrais,
trazemos as nossas cargas mentais e espirituais
refletidas no nosso físico, mas que podem ter
origem ou conexões diretas e indiretas com todos
os âmbitos que constituem nossa completude. Por
isso a necessidade do olhar amplo, inclusive na
relação com a saúde espiritual.
Nesse quesito das harmonias da alma, como
percebe a conexão entre saúde e Espiritismo?
A harmonia entre o corpo, a mente e o espírito
constitui um grande desafio para a humanidade,
sendo a conquista da saúde integral uma das
metas de vida ambicionada pela criatura
humana. A falta da doença não significa
necessariamente ter saúde, nos elucida a OMS
(Organização Mundial de Saúde). Isso nos mostra
que para estarmos saudáveis precisamos de mais
do que comer bem e fazer exercícios físicos. Na
pergunta 718 de O Livro dos Espíritos compreendemos
que “sem força e saúde, impossível é o
trabalho”, por isso mesmo a lei de conservação
obriga o homem a prover às necessidades do
corpo. Emmanuel, no livro O Consolador nos
traz o conceito da saúde calcada na “perfeita
harmonia da alma”. Joanna de Ângelis no livro Atitudes
renovadas nos coloca que “O ser humano está
fadado à plenitude e o seu processo de
iluminação é inevitável, cabendo-lhe o dever de
estruturar-se nos princípios ético-morais que
proporcionam harmonia interior e bem-estar
emocional”. O Espiritismo nos mostra que cada um
de nós é composto por corpo, períspirito e
espírito e eles se influenciam entre si.
Pensamentos, sentimentos e atitudes podem gerar
saúde ou adoecimento baseado no que nos
alimentamos num sentido amplo: o que comemos,
bebemos, assistimos, ouvimos, falamos, nossas
ações e mesmo nossos ideais de vida. Compreender
e aplicar esses conceitos nos oportuniza
alcançar a harmonia da alma de forma mais leve e
consciente.
No processo todo de educação da alma, inclusive
com os devidos benefícios para a saúde, qual sua
percepção sobre o Evangelho de Jesus?
Jesus nos convida para viver a matéria sem
esquecer o reino dos céus, ou seja, cuidar do
corpo e do espírito. Ter a consciência de que
somos espíritos vivenciando uma experiência
material faz com que todo o âmbito de vivência
que nós temos enquanto individualidade e
coletividade se ampliem. Cristo, o eterno
educador das almas, nos faz refletir não somente
sobre o que nos alimentamos fisicamente, mas
principalmente, sobre o que alimenta a nossa
alma. Sua mensagem nos consola, sua palavra nos
guia e seus exemplos e reflexões ainda
reverberam sobre nós, nos fortalecendo para
sermos luz e seu reflexo. O Espiritismo,
enquanto cristianismo redivivo, vem tirar o véu
de sobre o além túmulo, esclarecendo sobre o
passado refletido no agora, orientando para a
vivência do presente de forma consciente e nos
oferecendo consolação e fé para o futuro que nos
espera enquanto espíritos imortais.
Com os desafios da atualidade para os pais, e em
especial para os jovens, em face das intensas
mudanças sociais, como enxerga esse panorama?
Allan Kardec nos diz que “A educação, se bem
compreendida, é a chave do progresso moral”.
Estamos vivendo um momento de transição e não
podemos esquecer que, apesar do conhecimento
oferecido pela espiritualidade amiga, não
poderemos fugir das etapas necessárias para que
ocorra essa transformação espiritual e
planetária. Como nos dizem os espíritos, nem
sempre a evolução moral segue o progresso
intelectual; isso quer dizer que, apesar de
tecnologicamente desenvolvidos, muitos problemas
e mudanças sociais que vivemos ainda hoje
refletem a nossa condição de imperfeição moral.
Os desafios familiares são evidentes e os apelos
sociais para os desvios de conduta, violência,
drogas e mesmo o atentado contra a própria vida
exige de todos nós enquanto sociedade cada vez
mais a prática da conexão, orientação e suporte
às nossas crianças e jovens. Vivemos numa
sociedade conectada virtualmente, mas cada vez
mais desconectadas entre as pessoas, onde a
convivência familiar e as trocas foram
substituídas por mensagens através do celular e
relações superficiais. Com base no objetivo
essencial de nos tornarmos homens e mulheres de
bem, cabe aos pais, em primeira instância,
evitando a recrudescência do egoísmo pelo
afrouxamento dos laços de família, e com o apoio
também da casa espírita, serem pontos de conexão
para os mais jovens no âmbito social,
educacional e espiritual. Joanna de Ângelis, em
seu livro Constelação familiar, nos
mostra a orientação religiosa como elemento
fundamental e inadiável da educação.
Qual aspecto doutrinário espírita lhe chama mais
atenção?
O tríplice aspecto da doutrina espírita.
Ciência, filosofia e religião se tornam
incompletas quando separadas. Cada um desses
aspectos se apresenta muito fortemente em vários
contextos da minha vida, tendo sua importância e
não necessariamente uma predileção. Sendo o
aspecto ético e moral através do Evangelho do
Cristo muito necessário nas vivências diárias.
As reflexões sobre a vida, uma base para
compreensão de quem somos, de onde viemos, para
onde vamos e porque estamos aqui. E claro, a
interconexão entre o plano físico e espiritual,
possibilitando trocas e a certeza da
continuidade da existência, além da matéria.
Nesse seu tempo de vivência espírita, algo
marcante a relatar?
As primeiras vezes são sempre marcantes para
nós. Relembro com alegria as oportunidades de
realizar pela primeira vez atividades na casa
espírita. O primeiro convite para palestrar, que
foi um momento em que agradeci por ter uma mesa
forte a minha frente para me sustentar devido ao
nervosismo, mas também o suporte e paciência de
todos. Também recordo uma das primeiras
experiências junto ao grupo mediúnico e a emoção
de ver tantos espíritos sendo ajudados. Outra
alegria foi ver alguns jovens que iniciaram no
grupo de juventude espírita se tornarem gestores
das instituições e darem continuidade ao
movimento.
Algo mais a acrescentar?
Em tempos de transição gostaria enfatizar algo
que creio ser de extrema importância: a
necessidade do conhecimento ético, moral e
espiritual desde a infância. Infelizmente nem
todas as pessoas tiveram a oportunidade de
nascer em família espírita, mas, falando isso de
forma particular, conhecer a doutrina espírita
desde a infância nos faz ter uma visão diferente
sobre a vida, as dificuldades e na construção da
nossa moral através do livre-arbítrio e a
consciência de que não seremos punidos, porém
seremos responsáveis pelas nossas atitudes sejam
elas ativas ou passivas. Outro ponto que julgo
realmente importante é: dar espaço ao jovem na
casa Espírita. O jovem não precisa ser o FUTURO,
ele precisa ser o PRESENTE. E as casas
espíritas, em sua maioria, com componentes em
idade avançada, perdem grandiosas oportunidades
de dar espaço a espíritos que muitas vezes vem
com bagagens muito maiores do que as nossas e
podem contribuir de forma grandiosa e assertiva,
não apenas para o movimento Espírita e sim para
o cristianismo de uma forma geral. Gostaria
também de aproveitar para agradecer todas as
pessoas que confiaram na jovem que fui e me
oportunizaram esse aprofundamento na doutrina
espírita, em especial os meus pais.
Suas palavras finais.
Com gratidão pela oportunidade, encerro esta
troca com a atual e necessária reflexão:
“Espíritas! Amai-vos e Instruí-vos”. Exercitemos
o amor e as virtudes trazidas pelo Mestre Jesus.
Divulguemos a mensagem consoladora e orientadora
do Cristo e do Espiritismo, o consolador
prometido. E mais, conheçamos a doutrina, suas
obras essenciais e complementares. Colaboremos
com toda a nossa alma para que um dia, assim
como Paulo, possamos dizer “Já não sou eu quem
vive, mas o Cristo que vive em mim”. Sigamos em
frente com fé e esperança.

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