Quando a vida
está em risco
A questão do
abortamento é
das mais graves,
e, portanto, se
de um lado não
deve ser tratada
com leviandade,
de outro não
pode ser
analisada com
ligeireza.
Levando em
conta, desse
modo, que a
mensagem de
Jesus é a da
valorização da
vida em todos os
seus aspectos, a
Doutrina
Espírita procura
refletir, de
modo mais
detido, em torno
de variados
ângulos de uma
mesma temática.
No tema em
questão, uma das
situações que
merece atenção é
aquela em que o
nascimento da
criança coloca
em risco a
continuação da
vida física da
mãe. Allan
Kardec, pensando
nisto, lançou a
hipótese aos
benfeitores
espirituais e
questionou se
haveria crime,
do ponto de
vista moral, ou
seja, de
infração das
Leis de Deus, em
se sacrificar a
vida do feto
para se salvar a
da genitora. E
recebeu destes a
resposta de que
seria preferível
o sacrifício de
um ser que ainda
iria começar uma
nova existência
ao de outro que
já percorreu
várias
experiências
nesta
reencarnação
(O Livro dos
Espíritos,
questão 359).
Para se
compreender bem
isto, necessário
se faz levantar
alguns pontos.
Primeiramente,
este livro foi
concebido em
1857. De lá para
cá, a tecnologia
médica progrediu
bastante,
particularmente
nas áreas da
obstetrícia e da
neonatologia.
Consequentemente,
muitos casos que
até então
precisariam, sob
pena de se
deixar morrer a
mãe, produzir o
aborto, hoje
conseguem ser
solucionados com
a manutenção das
duas
existências. Um
exemplo prático
é uma
pré-eclâmpsia
grave, uma
condição com
grande risco de
morte materna.
Sendo o
tratamento
definitivo para
esta enfermidade
a interrupção da
gestação, muitos
fetos tiveram
que ser ceifados
para salvar a
mãe, já que a
continuação da
prenhez levaria
à morte materna
sem garantias
seguras de que o
bebê iria
sobreviver, e o
parto muito
prematuro aliado
à precariedade
das técnicas não
possibilitaria o
amadurecimento
fetal.
Atualmente, no
entanto, há
meios eficazes
de se conseguir
prolongar a
gravidez ao
mesmo tempo em
que se cuida da
maturação do
feto para que
este consiga
sobreviver à
vida
extra-uterina.
Segundo, o
exposto acima
não invalida a
mensagem do
Espiritismo.
Isto porque
ainda há
situações em que
a continuação da
gestação leva a
grandes riscos
maternos e a
vida da criança
é praticamente
inviável. Um
exemplo é a
prenhez ectópica
tubária, em que
a criança se
desenvolve fora
da inserção
normal no útero,
no caso, nas
tubas uterinas.
Terceiro, mesmo
que no futuro o
desenvolvimento
médico seja tão
grande que não
seja mais
necessário o
sacrifício fetal
para se salvar a
mãe, a resposta
contida em “O
Livro dos
Espíritos”
permanecerá
correta, já que
esta não fala de
um caso prático,
mas de um
princípio
norteador da
conduta (por
exemplo, ele não
diz: “em casos
de gravidez
ectópica é
preferível o
abortamento à
morte da mãe”;
mas afirma que,
quando for
necessário
escolher entre
as duas vidas, é
preferível
salvar a
materna).
Por último, se
pararmos para
analisar bem, se
de um lado é
possível dizer
que se está
matando uma
vida, por outro
é correto
afirmar que se
está salvando
outra. E, assim,
a mensagem de
Jesus de
valorização da
vida continua
preservada.
Além do mais,
como comparar
esta situação
àquelas em que o
abortamento é
feito apenas ao
influxo do
egoísmo humano?
A nossa própria
consciência,
repositório das
Leis Divinas,
fala-nos da
diferença.